A audiência de instrução e julgamento de 28 membros de uma organização criminosa liderada por presos paulistas entra no segundo dia em Belo Horizonte. O forte esquema de segurança foi mantido e a entrada dos presos atraiu curiosos na manhã desta terça-feira. A sessão é realizada no Fórum Lafayette, no Bairro Barro Preto, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O processo tramita em segredo de Justiça e os réus são acusados de dano ao patrimônio público, tráfico de drogas e crimes contra a vida. A audiência deve se estender até sexta-feira. De acordo com a assessoria de imprensa do Fórum Lafayette, cerca de 280 policiais trabalham na segurança do local e na escolta dos réus. Entre eles estão agentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e da cavalaria. A região está sendo monitorada por meio de helicóptero da corporação.
Militares fortemente armados fazem o monitoramento no local, o que chama a atenção de quem trabalha ou passa por ali. “Ninguém entra, ninguém sai. Parece uma guerra. Isso só mostra como o Brasil é um país de quinto mundo. O governo deveria investir em audiências por videoconferência. Quanto estamos gastando para trazer esses bandidos?”, questionou o advogado conhecido como Gege Ageline.
O chefe da sala de imprensa da corporação, major Flávio Santiago explica essa grande operação. “A PM montou o esquema de segurança desde a semana passada. Fizemos um planejamento mais aprofundado com a antecipação de cenários. O aparato tecnológico de policiais da corporação é o recado para qualquer facção criminosa”, disse ele. A PM faz ações, escoltas, varreduras e continuará tomando providências. O grande número de policias tranquilizou um comerciante, que trabalha em estabelecimento em frente: “O policiamento está bem reforçado na região e, por isso, não tenho sensação de insegurança”, disse Paulo Henrique, porteiro de uma loja em frente ao Fórum. Ele acrescentou que o trânsito flui normalmente no entorno, mesmo com a via fechada.
ATAQUES Minas Gerais passou por uma onda de violência e ataques a ônibus, que teria partido dessa organização criminosa paulista conhecida para agir nos presídios brasileiros. Em 2006, esse sindicato do crime tornou refém a cidade de São Paulo, com atentados contra policiais, guardas municipais, bombeiros e estabelecimentos públicos, o que obrigou o estado a negociar com presos do sistema carcerário. De acordo com o último levantamento da PM, em 2018, de janeiro a julho, foram registradas 102 ocorrências de incêndio a coletivos em Minas, nas quais 122 veículos foram incendiados. De janeiro a junho de 2017, apenas na capital, foram registrados 20 incêndios a ônibus.
Entre várias operações, uma força-tarefa composta por integrantes do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Secretaria de Administração Prisional e polícias Civil e Militar atuou na desarticulação daqueles que determinaram o ateamento de fogo a ônibus e bens públicos. Vinte e dois criminosos que já se encontravam detidos, sendo um deles em uma instituição federal, foram identificados como responsáveis pelos ataques. Em resposta, a administração do estado providenciou a transferência e o isolamento de presos. Uma série de matérias do Estado de Minas mostrou que os crimes teriam sido motivados pelo descontentamentos dos presos com a rigidez do sistema carcerário mineiro, vingança por mortes de criminosos da facção e retaliação por prisões e apreensões de oportunistas não ligados ao crime organizado que estavam se aproveitando da situação.