Símbolo de fé e também da recuperação de bens culturais desaparecidos em Minas, o Santuário Arquidiocesano de Santa Luzia, conhecido como Matriz de Santa Luzia, na cidade de mesmo nome, na Grande BH, terá amanhã um dia especial na sua história. Na abertura do jubileu da padroeira, às 19h30, serão celebrados os 240 anos de término da construção da igreja, que recebeu bênção oficial em 13 de dezembro de 1778. A festa religiosa terá a presença de integrantes do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG) e de vários setores da cidade.
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Estrutura em construção da Catedral Cristo Rei recebe primeira missaPeças históricas da Batalha de Santa Luzia são recuperadas em Belo HorizonteAltares dos séculos 18 e 19 são alvo de cuidados em Santa LuziaBispos, padres e diáconos participam da Celebração Penitencial do Clero em CaetéFesta da padroeira ilumina fé em Santa LuziaNo período de dois meses como pároco, contou o padre, ele já teve oportunidade de ouvir relatos de romeiros que chegam ao santuário, que tem no altar a imagem da protetora dos olhos e a data máxima em 13 de dezembro. “O dia inteiro podemos ver gente subindo as escadas, depois rezando, e muitos dão o seu testemunho de milagres alcançados por intercessão de Santa Luzia”, afirmou.
DESCOBERTAS Visitar o Santuário de Santa Luzia, na Praça da Matriz, no Centro da cidade, é entrar num universo de fé, beleza e história e fazer descobertas. O altar de São José, por exemplo, tem um enigma a ser desvendado. Em 1989, durante a última restauração do templo, foram encontrados, na parte de trás do retábulo, um compasso e um esquadro esculpidos na madeira e em policromia dourada, que estariam relacionados à maçonaria. Já que foi deixada uma passagem sob a mesa do altar, é possível ver, com nitidez, a talha com o esquadro – para os maçons, símbolo de retidão e integridade de caráter –, e o compasso, que representa equilíbrio, justiça e vida correta.
Pela tradição oral, as peças localizadas atrás do altar pertenceriam ao forro do camarim, depois ocultado em razão da ligação com a iconografia maçônica. Estudiosos dizem que, como os entalhes do trono de São José são semelhantes ao altar-mor de Santa Luzia, é possível que ele estivesse à mostra no século 18. No século seguinte, a exposição criaria problemas para os padres, pois a bula Syllabus, editada em 1864 pelo papa Pio IX (1792-1878) proibia relações da Igreja com a maçonaria.
Também se torna impossível falar sobre o santuário de Santa Luzia, localizado em área tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), sem destacar a campanha pelos bens desaparecidos em Minas, que, em 2018, completa 15 anos. No templo, estão três anjos barrocos – dois sobre o arco-cruzeiro e outro no altar de Nosso Senhor dos Passos – que simbolizam a luta das autoridades estaduais e federais para localizar imagens, retábulos e demais tesouros desaparecidos ou furtados de templos coloniais. As peças em poder de um colecionador iriam a leilão no Rio de Janeiro (RJ), quando foram retiradas do pregão por ordem judicial e entregues ao Iepha, para perícia.
HISTÓRIA Conforme pesquisa da historiadora luziense Elizabete de Almeida Teixeira Tófani, a capela primitiva dedicada a Santa Luzia foi erguida por volta de 1701, formando-se no entorno um rancho para tropeiros. “No início, ficava de frente para a Rua do Serro, e só depois que se tornou igreja é que ficou virada para a Rua Direita, como está hoje”, conta.
A história se completa com informações contidas no Inventário do Patrimônio Cultural da Arquidiocese de BH/Pontíficia Universidade Católica de Minas. Entre 1721 e 1729, a capela foi ampliada por iniciativa do capitão-mor João Ferreira dos Santos, com o apoio do padre Lourenço de Valadares Vieira, vigário de Sabará. Assim, o templo se tornou capela filial da freguesia de Santo Antônio de Roça Grande, já que Santa Luzia estava vinculada à Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabará.
Mas nem tudo foram flores no início da Paróquia de Santa Luzia, criada em 19 de novembro de 1744 pelo bispo do Rio de Janeiro, dom Frei João da Cruz.
De 1744 a 1778, a pequena construção sofreu várias alterações, tendo contribuído nos serviços o sargento-mor Joaquim Pacheco Ribeiro, em agradecimento à cura de sua visão, diz a pesquisadora Elizabete Tófani, que destaca o apuro ornamental do interior do templo, que reflete três fases estilísticas do período colonial. Ao longo dos séculos 19 e 20, a edificação passou por várias intervenções, algumas alterando sua fisionomia original, outras promovendo a sua conservação..