Jornal Estado de Minas

Estudante de química oferecia 'cardápio' de drogas e orientações pela internet

“É um tipo de tráfico de drogas diferente do que estamos acostumados”. A frase do delegado Wagner Pinto, chefe do Departamento Estadual de Combate ao Narcotráfico (Denarc) da Polícia Civil, indica que o perfil das atividades desenvolvidas pelo estudante de química da UFMG M.T.S., de 30 anos, foge à regra normalmente combatida pelos policiais civis do departamento, acostumados a lidar principalmente com traficantes que atuam mediante violência em aglomerados de BH e vendem crack, maconha e cocaína.

Segundo o delegado, M. usava todo o seu conhecimento apurado em química para, munido da matéria-prima para o preparo de drogas, produzir as substâncias entorpecentes com efeitos que variavam de acordo com o gosto do cliente, todas oferecidas por meio de um cardápio em uma página da internet protegida por códigos. A página funciona como uma espécie de rede social e as mensagens são enviadas entre as pessoas, exigindo um endereço específico para visualização.

A forma de agir lembra a do personagem Walter White, estrelado pelo ator Bryan Cranston, na série Breaking bad. White, que é professor de química frustrado, resolve usar suas habilidades para produzir metanfetamina como possibilidade de ganhar dinheiro para dar melhores condições aos familiares, como a mulher grávida e um filho com paralisia cerebral. Com um salário baixo, White ainda se vê sem opções para bancar o próprio tratamento quando descobre um câncer.

Uma das ofertas do estudante de química da UFMG era uma maconha modificada, com maior concentração de substâncias alucinógenas, vendida a R$ 75 por grama, conhecida como “vanilla kush”. Mateus exibia na mesma página uma série de perguntas e respostas para seus clientes, como por exemplo um recado direto aos compradores: “Não me mande perguntas tipo 'o que é melhor' ou 'o que deixa mais doido', é impossível responder isso.
A experiência é subjetiva e depende de onde você está , o que está fazendo, sua intenção, sua resistência”.

De acordo com os investigadores que trabalharam no caso, M. morava em uma república no Bairro São Francisco, na Região da Pampulha, em BH, onde também moravam apenas estudantes da UFMG. Com sistema de quartos individuais, ele tinha uma espécie de laboratório em seu cômodo, onde foram apreendidas drogas e materiais como pipetas, frascos, embalagens e balanças de precisão milimétrica.

M. também orientava as pessoas a procurarem outra página na internet para consultarem reações que outros usuários registraram graças ao uso de determinadas substâncias. Dessa forma ele subsidiava o cliente com informações mais aproximadas do que cada um queria. O material apreendido na casa do estudante do 9º período está avaliado em R$ 400 mil, segundo o delegado Wagner Pinto.


O trabalho de investigação contou com o monitoramento do investigado, que teve vigilância de perto por cerca de seis meses. Os policiais monitoraram transações e conseguiram na Justiça um mandado de busca e apreensão, que confirmou as suspeitas. Ainda segundo Wagner Pinto, M. confessou o crime, mas disse aos investigadores que não se considerava um traficante de drogas, por não andar armado e não usar de violência na relação com clientes.

A investigação apontou que M. conseguia, via Correios, receber elementos químicos que vinham de países como Polônia e Holanda, mas que sozinhos não eram barrados. Porém, quando eram combinados, configuravam drogas cujo comércio é proibido no Brasil. Ele foi preso em flagrante e teve sua prisão temporária convertida em preventiva. Ele está preso no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) Gameleira, Oeste de Belo Horizonte, à disposição da Justiça.

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