Depois de seis meses de obras, a Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, recebe os últimos retoques, já começa a ser decorada com a tradicional iluminação de Natal e pode ser reaberta no início da próxima semana. “Da nossa parte, está tudo pronto, podendo o espaço ser aberto segunda ou terça-feira”, disse a presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), Michele Arroyo. A instituição acompanha as intervenções no espaço tombado, com destaque para recomposição dos canteiros e do piso, a estrutura física e restauração do coreto, das fontes e das esculturas. “É bom lembrar que não se trata de um projeto novo, mas da reabilitação da praça”, explicou Michele.
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Memorial Minas Vale e Edifício Niemeyer recebem novas pinturas na Praça da LiberdadePraça da Liberdade será entregue com mais árvores do que antes, diz IephaObras e estiagem prolongada mudam a paisagem da Praça da LiberdadePraça da Liberdade é reaberta e luzes de Natal serão inauguradas dia 6Corpo de Bombeiros vistoria comércios de Minas GeraisEnquanto no interior da praça os serviços prosseguem, os tapumes de madeira ainda estão de pé no entorno, cobertos de grafites, para cercar o canteiro de obras de um dos espaços públicos mais nobres da cidade. Pela tela existente entre um e outro painel, é possível ver o grupo de técnicos instalando a tradicional decoração de Natal, que sempre atrai os olhares fascinados de moradores e visitantes. De acordo com a Cemig, responsável pela instalação das milhares de microlâmpadas, a previsão é de término do serviço e inauguração na primeira quinzena de dezembro.
Entre os moradores da capital, é grande a expectativa. Afinal a Praça da Liberdade, considerada um dos cartões-postais mais procurados para lazer, convívio, caminhadas, contemplação ou apenas para tirar fotos, está fechada há meses. “A Praça da Liberdade é a cara de BH”, diz a pedagoga e astróloga Martha de Paiva Lessa, moradora do Bairro Santa Inês, na Região Leste da cidade. Para ela, o lugar reúne arte, arquitetura, natureza, “um resumo da cidade-jardim”, afirma, citando o Edifício Niemeyer e construções dos primeiros tempos de BH, que completará 121 anos no próximo dia 12.
Da escadaria do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Felipe Leonel, de 28, formado em economia, destaca a intervenção em um dos símbolos da capital. “Gosto muito de praças, parques e outros lugares públicos, com eventos e presença das pessoas”, resume. Morador do Bairro Planalto, na Região Norte, Felipe contou que ficou um ano e meio fora, no Rio de Janeiro (RJ) e, quando chegou, viu que a praça estava em obras. “Achei importante, algo bem positivo para BH.” A conservação do lugar se torna imprescindível, diante dos impactos do tempo, do uso constante e de atos de vandalismo.
REABILITAÇÃO Com plano de manejo dos jardins e diagnóstico do estado de conservação da Praça da Liberdade, a cargo do arquiteto Ricardo Lana, a reabilitação do espaço públicos passou, em seis meses, pela renovação do sistema de iluminação, restauração do coreto, das estátuas de mármore de carrara e do piso, reinstalação das placas de monumentos e a reformulação do mobiliário. Além disso, o espaço recebeu equipamentos com padrões arrojados de design, com a renovação de bancos e lixeiras. “As estátuas foram recuperadas pelos restauradores do Iepha”, informou Michele Arroyo.
Desde o início da intervenção, o Estado de Minas vem documentando o andamento das obras. Em 5 de janeiro, a iniciativa de recuperar o espaço foi divulgada com exclusividade. Em 8 de maio, começaram as podas das árvores e o corte de algumas, tomadas por pragas, conforme mostraram os repórteres, dentro do projeto de reabilitação paisagística.
Em julho, chegaram as cores, com a grafitagem dos tapumes que fecharam o local para as obras. No total, 54 artistas assinaram as intervenções do Mural da Liberdade. A iniciativa foi do Instituto Amado, da Galeria de Arte Quartoamado e de profissionais individuais, com apoio da Prefeitura de BH.
Pedidos de socorro
Em 8 de maio, o Estado de Minas mostrou a degradação na Praça da Liberdade, por onde bastava caminhar um pouco para ver a necessidade urgente do projeto de reabilitação. A escultura Moça mirando o espelho d’água estava com um dos braços e o vaso que a compõe quebrados. Uma rachadura na base impedia que o monumento, sobre um reservatório no meio de um dos gramados, traduzisse toda a beleza da arte em mármore. A grama exibia extensões pisoteadas, exigindo recomposição. Mesmo com os problemas visíveis, a população nunca se afastou da praça, procurando a sombra das árvores para ler um livro, namorar, tocar um instrumento ou apenas curtir um dia no sossego.
Luzes também na Afonso Pena
A Avenida Afonso Pena, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, também recebe as luzes de Natal, numa iniciativa da Cemig. Por ora, a estatal prefere manter sigilo sobre o projeto, que já chama a atenção dos moradores.
Espaço nobre
1894 – O Palácio da Liberdade, em estilo eclético com influência neoclássica e marco da Praça da Liberdade, sai da prancheta de José de Magalhães
1920 – Visita dos reis da Bélgica a Belo Horizonte. A Praça da Liberdade passa pela primeira grande reforma
1942 – Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a praça se torna palco de grandes manifestações contra Alemanha, Itália e Japão. O estopim ocorre quando mais de 50 navios brasileiros, em águas nacionais, são torpedeados por submarinos alemães
1955 – Depois de nomeado prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek se elege governador de Minas. No dia da posse, desfila em carro aberto pela Alameda das Palmeiras
1960 – Em 31 de julho, multidão festeja a consagração de Nossa Senhora da Piedade como padroeira de Minas Gerais no local. A proclamação ocorrera dois anos antes, em Roma, pelo papa João XXIII
1969 – Criada a Feira de Artesanato da Praça da Liberdade, que ficou conhecida como Feira Hippie
1979 – Em 29 de maio, professores que reivindicavam aumento salarial e melhores condições de trabalho no complexo que abrigava a sede do governo estadual são expulsos pela polícia, que usa jatos d’água e bombas de gás lacrimogêneo
1985 – Falecido em 21 de abril, o presidente Tancredo Neves é velado no Palácio da Liberdade. Na época, a grade do entorno não suportou a pressão da multidão que se comprimia às portas da sede do governo. Houve gente pisoteada e sete mortos
1991 – Começa o projeto de restauro do espaço, a cargo da arquiteta Jô Vasconcelos. A Avenida Afonso Pena se torna endereço dos expositores da Feira de Artesanato
1997 – Em 24 de junho, o cabo da PM Valério dos Santos Oliveira, de 36 anos, é assassinado com uma bala na cabeça ao lado do Palácio da Liberdade. Ele era um dos líderes de movimento dos militares por melhores salários.
2010 – A sede do governo de Minas é transferida para a Cidade Administrativa, no Bairro Serra Verde, na Região de Venda Nova
2018 – O governador Fernando Pimentel volta a despachar oficialmente no Palácio da Liberdade
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