A chegada da estação das chuvas, com um novembro com índices pluviométricos acima da média, fez desaparecer sob as águas cenários que chegaram a apavorar moradores de várias regiões do estado. A paisagem com bancos de areia, entulho e até carcaças de carros, revelada pela crise hídrica, já não é mais vista nos reservatórios da Região Metropolitana de Belo Horizonte e na represa de Três Marias, uma das principais usinas hidrelétricas de Minas e a maior Represa da Cemig no estado, localizada no Rio São Francisco. A precipitação fez com que o volume das barragens atingisse níveis que há muitos anos não eram vistos.
O reservatório Serra Azul, parte do Sistema Paraopeba e o que atingiu níveis mais críticos nos últimos anos entre os três responsáveis pelo abastecimento na Grande BH, chegou a 50,5% na última medição disponível. A última vez que a marca foi atingida ocorreu no início do ano de 2014. Já Três Marias, na Região Central de Minas, acumula hoje seis vezes mais que o nível registrado no mesmo período do ano passado. O alívio nos reservatórios deve continuar, já que Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê chuva dentro da média em dezembro e janeiro. Começando com o fim de semana, quando uma frente fria deve deixar o tempo instável em várias regiões do estado.
Uma das mudanças mais significativas aconteceu na Represa de Três Marias. No fim de novembro de 2017, em um período ainda crítico de estiagem, a barragem tinha com 7,6% de volume útil. Doze meses depois, a situação é bem diferente: o nível chega a 41,6% de volume útil, e as perspectivas são de melhora. “Isso se deve a duas situações. A primeira delas é a gestão hídrica. Em reunião de um colegiado com vários órgãos, nós discutimos as estratégias para preservar o armazenamento dos reservatórios. Em Três Marias, por exemplo, estamos liberando a menor quantidade de água possível para atender os municípios a jusante (rio abaixo). Outra situação é a chuva acima da média nos últimos meses, principalmente em novembro”, disse Ivan Sérgio Carneiro, engenheiro de planejamento hidroenergético da Cemig.
Segundo ele, atualmente estão sendo liberados 100 metros cúbicos de água por segundo na barragem, enquanto chegam aproximadamente 1 mil metros cúbicos/segundo, o que gera uma economia de 900 metros cúbicos. A estimativa é de que o reservatório chegue a um volume há tempos não visto no fim do período chuvoso. “Esperamos entre 60% a 70 % ao final da estação, podendo ser superior, dependendo do volume de chuva. Para se ter uma ideia, em maio deste ano chegamos a apenas 48%. Há bastante tempo não vivenciamos uma situação assim”, completou Carneiro.
Situação semelhante é observada no Sistema Paraopeba, responsável por cerca de 55% do abastecimento de água na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Somente nos últimos 30 dias, aumentou o conjunto de três represas teve aumento de 3,9 pontos percentuais em seu nível, chegando a 68% do total. O destaque fica por conta da represa de Serra Azul, que vinha sofrendo nos últimos anos por causa da seca na Grande BH. O reservatório, que acumulava 50,3% de seu volume em 1º de fevereiro de 2014, sofreu sucessivas baixas e chegou a ficar com 5,2%. Ontem, chegou a 50,5%.
Segundo a Copasa, a chuva ajudou na recuperação. “O aumento do nível dos reservatórios de água da Região Metropolitana de BH se deve ao volume das chuvas que, em 2018, está acima da média dos anos anteriores, e também ao bombeamento, até o momento, de 242 milhões de metros cúbicos de água da captação do Rio Paraopeba”, informou a estatal, em referência à nova adutora construída como resposta à crise hídrica.
METEOROLOGIA O volume de chuva em Novembro na Região Metropolitana de Belo Horizonte foi um pouco acima da média. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), foram registrados 254,7 milímetros na estação de referência, localizada no Bairro Santo Agostinho, na Região Centro-Sul da capital mineira. A média histórica para o período é de 227mm. “Não é uma coisa extraordinária, está dentro do esperado. Mas está melhor do que no ano passado, bem distribuído”, explicou o meteorologista Jorge Moreira. Em 2017, choveu 185,6 mm, e em 2016, 273 mm.
A previsão nos próximos dias é de mais chuva para a Grande BH. Neste fim de semana, uma frente fria se aproxima do estado. “Temos perspectiva de chuvas mais espaçadas, com a nebulosidade aumentando em praticamente todo o estado. Inclusive no Norte de Minas, onde há previsão de mais chuvas”, informou o meteorologista, acrescentando que esta quinzena deve ser chuvosa.