Relatores da Organização das Nações Unidas (ONU) denunciam que, três anos depois do rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG) – responsável por matar 19 pessoas e destruir o distrito de Bento Rodrigues -, até hoje não há uma avaliação completa dos danos gerados nem uma resposta adequada às comunidades afetadas. Em uma carta confidencial de 11 páginas enviada ao governo brasileiro, seis relatores especiais da Organização das Nações Unidas (ONU) criticaram as medidas adotadas pelas autoridades e pelas empresas, a suposta falta de transparência no processo de avaliação dos danos e a limitada participação da sociedade civil nos órgãos criados para tratar da crise.
“Estamos preocupados diante da suposta manutenção das violações de direitos humanos das comunidades afetadas pela bacia do Rio Doce”. Um dos questionamentos centrais dos relatores se refere ao acordo assinado em 25 de junho de 2018, que levou à extinção de ação civil pública de R$ 20 bilhões e à suspensão da tramitação de outra, de R$ 155 bilhões, movida contra a empresa e as controladoras, a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton.
Em resposta à ONU, a Advocacia-Geral da União (AGU) escreveu, em 16 de novembro, que o novo acordo tem o objetivo de ampliar a participação das comunidades afetadas pelo desastre. Os relatores também se referem à qualidade da água. Segundo eles, a Fundação Renova insiste que as águas do Rio Doce atendem aos padrões da Agência Nacional das Águas (ANA), "mas essa análise se contradiz com estudos independentes sobre o assunto".
A carta menciona também que o reassentamento da comunidade está "longe de ser concluído". Os relatores lembram que a Renova estimava que teria concluído a construção dos novos bairros - Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Gesteira - até março de 2019 para receber as pessoas que tiveram suas casas destruídas.
Mas, em fevereiro de 2018, as obras sequer tinham sido iniciadas. Um dos questionamentos centrais dos relatores se refere ao acordo assinado em 25 de junho de 2018, que levou à extinção de ação civil pública de R$ 20 bilhões e à suspensão da tramitação de outra, de R$ 155 bilhões, movida contra a empresa e as controladoras, a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton.
Por fim, segundo a carta, os representantes das comunidades afetadas não estão sendo "suficientemente representados" nos órgãos que tomam decisões na Fundação Renova. Em resposta à ONU, a Advocacia-Geral da União (AGU) escreveu, em 16 de novembro, que o novo acordo tem o objetivo de ampliar a participação das comunidades afetadas pelo desastre. Mas a AGU reconhece que há estudos que apontam para a necessidade de "fortalecer a avaliação ambiental, especialmente no que se refere à qualidade da água e de peixes". Sobre reassentamentos, diz que as obras começaram em agosto e serão entregues em 2020. Minas nega atrasos; fundação destaca investimentos O procurador-chefe de Meio Ambiente da Advocacia-Geral do Estado de Minas Gerais (AGE-MG), Lyssandro Norton Siqueira, afirma que, se existe atraso, não é por conta do governo.
"Eventuais demoras se dão por conta de ações individuais entre atingidos e as empresas.
"Foram investidos R$ 4,5 bilhões nas ações de recuperação. Até o momento, cerca de mil obras foram concluídas, como praças, alamedas e escolas, além da reforma de mais de cem residências e propriedades rurais", diz a Renova. Segundo a fundação, "projetos e iniciativas com aporte de R$ 120 milhões estão desenvolvendo o biomonitoramento aquático do Rio Doce". A Renova diz ainda que há frentes de trabalho na área da saúde, como estudos epidemiológicos e toxicológicos.
O Ibama disse que a reparação dos danos ocorre sob orientação e fiscalização do Comitê Interfederativo (CIF). Segundo o órgão, foram recuperadas nascentes e áreas degradas, e o CIF aplicou quatro multas à Renova, que somam R$ 34 milhões. A maior delas é por descumprimento da dragagem da Usina Hidrelétrica de Risoleta Neves. A Samarco e a Secretaria de Meio Ambiente do Espírito Santo, que não se manifestaram..