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Estado de Minas

Unidade de Transplante Renal Ricardo Valadares Gontijo comemora 677 procedimentos

Centro completa 10 anos de atuação em Minas Gerais com atendimento exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS)


postado em 03/12/2018 06:00 / atualizado em 03/12/2018 09:46

Os médicos nefrologistas Marcos Faria Lasmar e Euler Lasmar na Unidade de Transplante Renal do Hospital Universitário Ciências Médicas: pai e filho no comando da instituição (foto: Sidney Lopes/EM/D.A Press)
Os médicos nefrologistas Marcos Faria Lasmar e Euler Lasmar na Unidade de Transplante Renal do Hospital Universitário Ciências Médicas: pai e filho no comando da instituição (foto: Sidney Lopes/EM/D.A Press)
Um sonho que virou realidade e salva vidas de quem não tem recursos. A Unidade de Transplante Renal Ricardo Valadares Gontijo, do Hospital Universitário Ciências Médicas, que funciona no antigo Hospital São José, no Barro Preto, está completando 10 anos e comemora a realização de 677 transplantes. Com um detalhe: todos feitos em pacientes exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS).


Segundo o criador da instituição, o médico nefrologista Euler Lasmar, de 74 anos, que tem o filho e médico da mesma especialidade Marcus Faria Lasmar, de 42, como braço direito, a história teve início em 2007, quando a ideia de fazer algo que se perpetuasse começou a martelar em sua cabeça. “Estou ficando velho e queria muito realizar uma obra perpétua, que continuasse depois que eu morresse. E tinha que ser alguma coisa para ajudar o ser humano, o mineiro, o brasileiro. Comecei então a conversar com amigos e resolvemos fazer uma reunião para discutir esse desejo. Daí nasceu a Unidade de Transplante Renal, que pertence à Faculdade de Ciências Médicas e é inteiramente filantrópica”, conta.


Segundo o médico, dado o primeiro passo, o restante veio naturalmente. “A grande virtude desse projeto é que tudo foi doado, mas nunca em dinheiro. Foram 13 doadores no início. Eram construtoras e pessoas físicas. As instalações físicas do prédio, por exemplo, foram inteiramente reformadas pelos doadores. Os equipamentos – duas salas de cirurgia, duas enfermarias, sendo uma masculina e outra feminina, uma unidade de miniUTI, as camas, ar-condicionado, televisão – foram todos doados. Aceitamos equipamentos, medicamentos, mas dinheiro não. Esse é o segredo da existência dessa instalação hospitalar”, explica.


Além da Faculdade de Ciências Médicas, participa do projeto a Fundação Educacional Lucas Machado, que funciona como hospital de aprendizado para gestão em transplante, ou seja, alunos que optarem pela nefrologia fazem ali a especialização e até mesmo a pós-graduação. Segundo maior centro de transplantes renais no estado, a unidade tem uma equipe própria, que inclui seis médicos com graduação, mestrado e doutorado. A equipe de enfermagem é treinada em outros centros, como São Paulo, por exemplo.


De acordo com Lasmar, são atendidas apenas pessoas necessitadas. “Só vêm para cá pacientes do SUS. Temos 43 unidades de hemodiálise de Minas Gerais e uma da Bahia cadastrados. Desses locais vêm os pacientes para serem transplantados”, explica. Os procedimentos não consistem apenas na cirurgia. Eles começam com um minucioso exame dos pacientes quando chegam à unidade e encaminhamento de amostra de sangue ao MG Transplantes, para identificação dos seis marcadores genéticos de compatibilidade usados na seleção de doadores. Esses marcadores ficam anotados na ficha dos pacientes.
“Quando surge o rim doado, este também vai para o MG Transplantes, que identifica a compatibilidade do órgão. Nesse momento, vamos para a lista de receptores. Selecionamos, inicialmente, os 10 primeiros nomes e começamos a busca da compatibilidade. Detectado o receptor, passamos para a segunda fase, que é a de verificar o estado de saúde, se não tem nenhum outro problema. Se não houver, ele é preparado para a cirurgia.” Segundo médico, há hoje 350 pacientes listados na unidade à espera de um rim compatível. “O ideal é que o transplante renal seja feito no máximo 24 horas depois de o rim ser retirado do doador. É quando obtemos o melhor resultado”, explica.


ACOMPANHAMENTO Depois da cirurgia há ainda o longo percurso do pós-operatório. “Quando o corpo recebe um órgão estranho, a tendência é a rejeição. Temos de ficar atentos a isso, para que o organismo se acostume com o novo rim. A adaptação de um transplantado, desde a cirurgia até a alta, é de mais ou menos sete dias. Em seguida vem o acompanhamento, que é todo feito aqui”, explica Lasmar.


Júlia Bruna Fernandes Borges, de 25 anos, está na lista de transplantados da Unidade de Transplante Renal do Hospital Universitário Ciências Médicas, onde continua sendo acompanhada. Ter recebido o novo rim foi “como ter nascido de novo”, diz a jovem, que credita a nova vida ao trabalho da instituição hospitalar.


Ela conta que sofria de problemas renais desde os 19 e que sua vida dependia da hemodiálise. “Lá na minha cidade (Brasília de Minas, no Norte do Minas) me tratavam de nefrite. Mas não era. Era muito pior. Mas felizmente vim pra cá e foi o que me salvou.” Júlia diz que chegou a ir para outro hospital, mas que não se sentia bem lá e não acreditava que pudesse ser tratada naquele local. “Lutei pra vir pra cá. Fiquei sabendo o que era feito aqui e que era a minha chance. E consegui.”


Júnia foi operada em outubro do ano passado. Recebeu o rim da mãe, Sílvia Paula dos Santos. Hoje, ela trata de uma nefrite, que exige acompanhamento constante. “É como se fosse uma rejeição, mas ela está sendo tratada e seu quadro está evoluindo bem”, comenta Lasmar.

Avanços nos últimos 50 anos

Em 1968 o Brasil fazia seu primeiro transplante renal. E de lá pra cá muita coisa mudou. “As dificuldades eram bem maiores, não apenas na operação em si. Não havia, por exemplo, o exame de marcadores genéticos de compatibilidade”, lembra o nefrologista Euler Lasmar. “Naquele época, estava fazendo uma pós-graduação em São Paulo e me interessei por esse segmento. Tentaram, muitas vezes, fazer xenotrasplante, que é a colocação de órgãos de animais em humanos. Mas não deu certo, é incompatível.”


Hoje, há dois tipos de doadores de rim, o vivo e o falecido. “O primeiro caso é de um parente – pai, mãe, irmão, irmã, tios – para um paciente. No caso de doadores já falecidos é preciso que a família do doador dê a autorização. Não adianta a pessoa ser doadora e ter carteirinha. Isso não é legal. O que vale é a família concordar, com assinatura em documento, com a doação”, explica o médico.


Em Minas Gerais, a totalidade de doadores falecidos vem de dois hospitais, O Pronto-Socorro João XXIII e o Odilon Behrens. “Cada paciente que morre é examinado por um neurologista, que faz uma avaliação. São feitos também exames de eletroencefalograma e doppler de carótida para confirmar a morte. Esse último exame mostra o fluxo de sangue para o cérebro. Se não há, a morte é confirmada. A partir daí, vamos atrás da família para pedir a doação”, conta Lasmar.

Números da Unidade de Transplante Renal

  • 10 anos de existência
  • 250m² é a área do hospital
  • 43 unidades de hemodiálise cadastradas em Minas Gerais
  • 1 unidade de hemodiálise cadastrada na Bahia
  • 677 transplantes realizados, todos pelo SUS
  • 10 leitos entre enfermaria masculina e feminina
  • 339 doadores vivos
  • 338 doadores falecidos
  • 32.318 consultas realizadas desde a fundação, em 2008
  • 2.476 internações
  • Equipe médica multidisciplinar, com nefrologistas, urologistas, cirurgião vascular, anestesistas, psicólogas e infectologistas


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