Jornal Estado de Minas

Estudo mostra 40,7% dos municípios mineiros com altos índices de infestação pelo Aedes

- Foto: Arte EM

O inimigo é antigo e as formas de prevenção são velhas conhecidas. Mesmo assim, Minas Gerais entra em mais um período propício à disseminação da dengue em situação crítica. Resultados do Levantamento de Índice Rápido para Aedes aegypti (Liraa) mostram que pelo menos 40,7% dos municípios que informaram ao estado o resultado do estudo estão em situação de risco ou em alerta para a possibilidade de surto da doença. Um dos principais problemas encontrados nos imóveis visitados em diversas cidades mineiras foram recipientes destinados ao armazenamento de água – um dos reflexos da crise hídrica enfrentada pelo estado a partir de 2014.


Neste ano, há uma preocupação ainda maior com a dengue. Depois de oito anos, voltou a circular o vírus do tipo Denv 2. Como boa parte da população não teve contato com essa cepa, a chance de contaminação é maior. E autoridades de saúde alertam: uma das características do sorotipo que novamente é detectado no estado é atingir, de forma mais grave, menores de 15 anos.


Os resultados do Liraa realizado em outubro são preocupantes. Dos 853 municípios mineiros, 819 enviaram informações para a Secretaria de Estado de Saúde (SES/MG).

Em 60 deles, o índice foi superior a 4%, o que é considerado situação de risco para surto. A porcentagem indica que, de cada 100 imóveis pesquisados, em quatro foram encontrados focos do mosquito Aedes aegypti, que, além da dengue, transmite os vírus da zika e da febre chikungunya. Em outros 288 municípios, o índice ficou entre 1% e 3,9%, o que indica situação de alerta. Nos 478 restantes o levantamento indicou condições satisfatórias.


O Liraa mostrou aumento considerável em relação ao último estudo, realizado em agosto. Na época, 816 municípios enviaram informações ao estado, sendo que oito estavam em situação de risco para a ocorrência de surto, 170 estavam em alerta e 638 em situação satisfatória. “Nesta época, espera-se um índice de infestação um pouco maior. Mas 60 municípios em risco para o surto de arbovírus e outros 288 em situação de alerta é algo preocupante”, afirma Márcia Ootemam, coordenadora do Programa Estadual das Doenças Transmitidas pelo Aedes Aegypti.


Diante dos resultados, um dos alertas feitos pela Secretaria de Estado da Saúde é em relação ao armazenamento de água por moradores de cidades mineiras.

Em 233 delas, esse tipo de depósito servia de criadouro para o mosquito. Em outros 153, os principais focos estavam em depósito domiciliares, e em 138 cidades, o acúmulo de lixo, pneus e depósitos naturais continham larvas do inseto. “O controle do Aedes deve ser feito o tempo todo, mas neste momento temos que intensificar as ações. Os moradores  devem ter um olhar atento nas residências e cuidar dos depósitos de água”, convocou Márcia Ootemam.


DENV 2 O alerta em relação à volta do vírus do tipo 2 é outro motivo de preocupação. “O vírus circula no estado desde 2011, mas nunca predominou, o domínio sempre foi do tipo 1. Mas, neste ano, o Denv2 está predominando, e ele acomete menores de 15 anos de forma mais grave. Por isso o estado está em alerta”, comentou a coordenadora.


Em 2018, os casos prováveis de dengue em 11 meses já superaram os de todo o ano passado. Boletim epidemiológico divulgado ontem pela Secretaria de Estado de Saúde mostra que já são 26.721 notificações, o que engloba diagnósticos confirmados e suspeitos.

O número representa 3% a mais que em todo o ano passado, quando foram 25.933 registros.
O ano também pode terminar com número de mortes maior. Já foram confirmados oito óbitos pela doença, entre moradores de Araújos, Arcos, Conceição do Pará, Lagoa da Prata e Moema, no Centro-Oeste de Minas; Ituiutaba e Uberaba, no Triângulo; além de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ainda há 13 casos sendo investigados. No ano passado foram 19 casos fatais da doença.


Em relação à febre chikungunya, Minas Gerais registrou 11.697 casos prováveis da doença, a maioria na região do Vale do Aço. Este ano foi confirmada uma morte pela doença. Outras duas estão em investigação. No caso da zika, foram registrados 163 casos prováveis da doença, sem registro de óbito.

 

Novas estratégias de ataque em teste

 

Com a ameaça da dengue voltando a assombrar municípios em todo o estado, Belo Horizonte sedia um encontro, ao lado de representantes da Organização Pan-americana de Saúde e Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), para a elaboração de um estudo-piloto para controle do Aedes aegypti. Apesar de não soar como uma estratégia inovadora, dar prioridade às características de cada área em situação de risco é o foco das autoridades sanitárias. Com isso, as ações rotineiras podem sofrer ajustes e, se a estratégia for bem-sucedida, tende a se tornar recomendação internacional.


A Organização Pan-americana de Saúde está apoiando estudos sobre o combate ao mosquito em cidades das Américas. De acordo com o assessor do Programa Regional de Entomologia em Saúde Pública e Controle de Vetores da Opas, Giovanini Coelho, com a elaboração de nova metodologia haverá um novo olhar para o problema – destacando as diferenças sociais de cada regional nos diferentes municípios.


A capital mineira foi escolhida, ao lado de Natal e de Foz do Iguaçu (PR), para colocar em prática os testes.

“O modelo proposto, desde a década de 50, trata a cidade de forma igual e recomenda intervenções similares em todo o ambiente urbano. Isso teve valor no passado, quando cidades eram pequenas e tinham índices de complexidade inferiores aos grandes centros. O que estamos propondo é um estudo para apresentar a efetividade do combate, de acordo com a situação de vulnerabilidade de cada região”, explicou Giovanni.


Ainda segundo o assessor, será elaborado um protocolo de referência a ser apresentado nesses encontros e com isso, propostas serão traçadas para iniciar as ações. “A depender dos resultados, esse piloto se constituirá em uma diretriz que será proposta pela Organização Pan-americana aos países de forma geral”, completou.


Atualmente, as visitas de agentes são feitas a cada dois meses, independentemente da região. O subsecretário municipal de Promoção e Vigilância em Saúde de Belo Horizonte, Fabiano Pimenta, explica que vai usar a estratificação de risco para dar prioridade a determinadas ações de combate. “Serão ações mais rápidas, com maior concentração de esforços e de recursos humanos, em uma determinada área, a partir da interpretação desses indicadores – tanto de presença do vetor como da ocorrência da doença. Nosso esforço é para tentar prevenir ao máximo possível as epidemias”, pontuou.


Em 2018, foram confirmados 402 casos de dengue. Há 467 pendentes de resultados, enquanto foram investigados e descartados 5.055. A maioria dos diagnósticos está na Região Oeste, com 60 casos confirmados e 78 suspeitos.

INOVAÇÃO Outro empenho do estudo é a ampliação e incorporação de novas tecnologias para o combate ao transmissor. “Muitas estão sendo testadas pelo Brasil, como o uso da bactéria Wolbachia em mosquitos Aedes.

O micro-organismo é inofensivo aos humanos, mas impede o vetor de transmitir os vírus”, explicou o representante da Opas, Giovanini Coelho.
Em BH, desde o ano passado foram implantadas armadilhas de teste para o combate do mosquito na Região Noroeste. “Desde o fim do ano passado, estamos fazendo acompanhamentos e ajustes para a evolução dessa estratégia. Faremos uma sinalização mais concreta da sua efetividade até o fim do primeiro quadrimestre de 2019 e, dependendo do resultado, vamos expandir”, disse o subsecretário Fabiano Pimenta.

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