Socorro a vítimas de quatro atropelamentos, uma pessoa em overdose, um idoso vítima de mal súbito e um amigo contundido. Esse era o currículo do monitor escolar Marcos Henrique de Oliveira até quinta-feira, quando se tornou herói e encarou o maior desafio desde que se habilitou, em 2014, para a função de socorrista civil, a que se dedica sem qualquer remuneração, inspirado pela mãe. Formado no 3º Batalhão do Corpo de Bombeiros de Minas, no qual se inscreveu apenas pelo desejo de ajudar pessoas em risco, ele foi o responsável por salvar, com apoio de outras duas pessoas, cinco crianças e um casal na Avenida Nossa Senhora do Carmo, no Bairro Sion, Zona Sul de BH, onde uma árvore caiu sobre cinco veículos durante a tempestade, matando o motorista Ranur Pierre da Silva Carneiro, de 28 anos, que conduzia um escolar. “Sabia que havia riscos por causa dos fios energizados. Mas eu estava de botas e as crianças, dentro da van. Agi o mais rápido possível”, conta o jovem de 22 anos, morador do Bairro Flamengo, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana.
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O próximo passo foi pedir a pessoas que estavam perto que acionassem o Corpo de Bombeiros para, depois, prestar o socorro. “O motorista da van (Ranur Carneiro) só me pedia para retirar as crianças. Os vidros já estavam quebrados pelo choque com a árvore, então retirei uma a uma. A última estava no banco da frente, com dificuldades para sair, pois estava presa ao cinto. Mas também consegui resgatá-la”, conta o socorrista. Ele conta que os pequenos foram levados à base da Polícia Militar ao lado do local da ocorrência, na Praça da Harmonia.
Ao retornar à van, a missão do jovem teve sua única baixa. “Falei com o motorista, mas ele já não me respondeu. Depois, chequei o pulso dele e não havia resposta, infelizmente”, recorda. Ranur permaneceu no veículo até que seu corpo foi resgatado mais de três horas depois da ocorrência, já que os bombeiros aguardaram o corte de energia para iniciar os trabalhos.
O socorrista pratica artes marciais em uma academia do Bairro Bom Jesus (Noroeste) e é monitor escolar em uma instituição do Bairro Sion. A vocação para ajudar pessoas necessitadas vem de família: a mãe de Marcos também é socorrista. Eles aturam em conjunto há dois anos, quando precisaram auxiliar um homem em overdose em Contagem, na Grande BH. “Ele estava em frente a um hospital privado, mas não queriam atendê-lo.
Além da morte do motorista, outra cena entristeceu o socorrista no seu dia de herói: muitas pessoas optaram por registrar a tragédia com seus celulares, em vez de ligar para os bombeiros. “Isso não ajuda. Em todo acidente é a mesma coisa. É lamentável, pois as pessoas preferem gravar a fazer algo verdadeiramente útil”, lamentou..