Livro desvenda o universo do crack nas ruas de Belo Horizonte

Sete histórias que se encontram no vício do crack. Mas o que levou essas pessoas a esbarrarem na pedra? E por que permanecem dependentes? Trajetórias como a de um estudante de medicina, uma dona de casa e uma travesti que se depararam com a pedra em seu caminho respondem a algumas das perguntas que giram em torno do tema. Com lançamento previsto para hoje, O crack como ele é – Uma pedra está na sua mira conta bastidores da vida real de personagens que moram (ou moraram) nas ruas de Belo Horizonte em profunda vulnerabilidade. Pessoas que revelam seus tropeços e os desafios para largar o vício. O livro é resultado da adaptação de uma série de reportagens publicada em 2015 no Estado de Minas e ganhadora do Prêmio de Jornalismo Chico Lins.

A autora, Sandra Kiefer, à época repórter do jornal e hoje apresentadora do canal Chá com Leveza no YouTube, vivenciou durante um ano a realidade das cracolândias da capital mineira. “Eu e o repórter Guilherme Paranaiba fomos encarregados pelo diretor de redação , Carlos Marcelo, de ficar um ano acompanhando a trajetória de 10 personagens. Muito me impressionou porque você via o vaga-lume dos cachimbos à noite, mas ninguém os enxergava”, contou a jornalista. Findo o prazo da matéria, Sandra notou que tinha ouro nas mãos e que não cabia apenas na série de reportagens. Foi aí que começou a pensar em livro para que as histórias chegassem a leitores que são adictos e codependentes, mas, sobretudo, que ampliassem o espectro desse público – servindo de alerta às famílias, aos estudantes e a entidades de apoio a dependentes químicos.

Com a devida autorização dos colegas Guilherme e do seu ex-estagiário Luiz Othavio Gimenez, seis entre os 10 personagens foram escolhidos para compor a obra. Outro “caiu no meu colo, acompanhado de perto por mais um ano”, conta Sandra. “Trata-se do Rômulo. Um jovem atlético formado em medicina e em administração pelas melhores faculdades de BH e que chegou a ser campeão mineiro de jiu-jítsu. Largou tudo isso pelo crack, que conheceu após uma desilusão amorosa”, explicou. Diferentemente do que muitos acreditam, o crack não está longe. O Brasil é o maior mercado consumidor de pedra no mundo, segundo estudo do Instituto Nacional de Pesquisa de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), de 2011.

E a experiência de dormir embaixo do viaduto ao lado de pessoas em situação de dependência derruba o estereótipo e humaniza quem está ali precisando ser ouvido e acolhido. O tema é denso, mas também há muito amor retratado nas 187 páginas: “O livro conta o caso de uma mulher que nunca abandonou o marido na cracolândia. Ela ia de coração aberto e com uma panela de carne e batata. Dei nome a ela de Julieta”, contou a jornalista. Na obra, os nomes reais de personagens, bairros, cidades e instituições foram substituídos por fictícios.

O livro conta também com textos reunidos em posfácio, selecionados para que o leitor possa encontrar depoimentos de pessoas que lidam com a doença sob diversos pontos de vista – desde um padre militante da causa, administrador de uma comunidade terapêutica que acolhe mulheres, até a mãe de um dependente químico. “Foram três anos de processo. Após esse tempo, a conclusão mais aparente é que, dos sete personagens, restaram seis, sendo que a única que estava limpa recaiu justamente na época em que foi finalizada a edição do livro. Por meio das experiências com meus personagens, percebo que o crack é uma das drogas de maior poder viciante e das mais difíceis de se livrar”, concluiu.

O lançamento será hoje, a partir das 18h30, na Livraria da Rua, que fica na Rua Antônio de Albuquerque, 913, na Região Centro-Sul. O encontro contará com um show de blues oriental com Alexandre Araújo. 

 

Serviço

 

O crack como ele é (192 páginas, R$ 64,90)
Quando: 12 de dezembro (quarta-feira).
Horário: a partir das 18h30
Onde: Livraria da Rua, na Antônio de Albuquerque, 913, Savassi