Recém-revitalizada ao custo de R$ 5,2 milhões, a Praça da Liberdade, ponto turístico da Região Centro-Sul de Belo Horizonte, vai passar por uma vistoria para verificar danos que já são observados pelos frequentadores pouco mais de uma semana depois de ter sido reinaugurada. Considerada um dos principais cartões-postais da cidade, a praça será vistoriada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG), que vai convidar também a Prefeitura de BH (PBH) para registrar o que já foi vandalizado, além de orientar possíveis reparos. O bebedouro do espaço de lazer teve uma placa quebrada, parafusos retirados e a tampa arrancada. Ontem, trabalhadores da manutenção tentavam repor os aspersores da irrigação do jardim que foram retirados e também cuidavam de áreas verdes pisoteadas.
Pelo menos nove trabalhadores da manutenção da praça com uniformes da Prefeitura de BH faziam reparos no local na manhã de ontem. Dois deles faziam a recolocação de aspersores usados para irrigar os jardins, já que cerca de 260 foram arrancados do solo. “Ontem (segunda-feira), fizemos a reposição de uns 70. Hoje (ontem), quando voltamos, já observamos que desse total cerca de 20 já tinham sido arrancados pela segunda vez”, conta um dos trabalhadores. Para marcar os lugares onde deveriam ser recolocados, os funcionários utilizaram palitos de madeira, todos recolhidos do chão da praça, principalmente usados para o consumo de algodão-doce.
Uma das estruturas em que o vandalismo é mais visível é o bebedouro da praça, única opção de que a população dispõe para beber água gratuitamente na área de lazer. Uma das placas do equipamento está quebrada, com risco de cair em cima do pé de alguém, já que é necessário usar os pés para apertar o botão e liberar o fluxo de água. Além disso, alguns parafusos foram retirados e a tampa da estrutura arrancada, abrindo espaço para o descarte de lixo. “Se não tiver mais segurança, isso vai continuar. É um dos poucos espaços verdes da cidade e, por isso, tem que ter uma fiscalização mais atuante”, afirma o advogado Darci Alves, de 66 anos. Já a aposentada Maria de Lourdes Maciel, de 60, classificou a depredação da praça pouco tempo depois de sua inauguração como “horrível”. “Isso dá uma tristeza na gente. Quem quebra um espaço como esse não tem amor a nada. Acho que falta educação e também mais policiamento”, diz ela.
Acostumado a rodar pela praça com seu cachorro, o estudante Pedro Luís Gonçalves, de 25, diz que muitas vezes ouve pessoas reclamando de quem tem animais, colocando a culpa da destruição na conta dos bichos. “O que falta aqui é mais polícia. Creio que o policiamento não é suficiente para o tanto de gente que circula pela praça durante a noite. De dia é mais tranquilo, mas os danos são comuns à noite”, afirma. Para o auxiliar de serviços gerais Walberth Junio Ferreira, de 42, quem depreda um patrimônio como a Praça da Liberdade não tem cabeça. “As pessoas não dão valor ao que recebem. Precisamos de mais polícia, mas principalmente de pais que eduquem seus filhos para não fazer isso”, afirma.
REVITALIZAÇÃO Orçada em R$ 5,2 milhões, a reforma da praça teve R$ 2,9 milhões destinados a partir de um convênio firmado entre o Governo de Minas, por meio do Iepha, e a Vale. O restante foi investido pela Prefeitura de BH. A reforma consistiu na recuperação da iluminação, restauração e revitalização paisagística. Elementos artísticos como fontes, pintura da alvenaria do coreto e monumentos foram revitalizados, além da implantação e recomposição do piso e reformulação e substituição do mobiliário. Jardins também foram requalificados, com o replantio de mudas e a substituição e melhoria do sistema de irrigação. A iluminação da praça teve um projeto especial, considerado de destaque para acabar com a escuridão do cartão-postal, implantado pela concessionária BHIP, responsável pela gestão da iluminação pública de BH.
O Iepha informou que entregou as obras da Praça da Liberdade à PBH no último dia de novembro, retomando sua função de fiscalização em relação a eventuais danos causados no patrimônio cultural protegido. “Será realizada, ainda esta semana, uma vistoria na Praça da Liberdade, para a qual serão convidados representantes da Prefeitura de Belo Horizonte e da Cemig para identificação dos danos causados e orientação sobre os reparos necessários aos responsáveis pela manutenção da praça”, informou o Iepha por meio de nota. A MRV, que adotou a praça reinaugura, está “fazendo um levantamento dos itens danificados em conjunto com a prefeitura e demais órgãos e providenciará os reparos. No próximo ano, a MRV deverá realizar campanhas de conscientização da população sobre a importância da preservação dos bens públicos”, informou a assessoria da empresa.
Segundo a Guarda Municipal, 13 agentes fazem parte do patrulhamento exclusivo da praça, que se dividem em turnos para garantir a fiscalização no local 24 horas por dia. A instituição informou que existem cinco câmeras no ponto turístico, sendo quatro delas do Olho Vivo, de responsabilidade da Polícia Militar, e uma da BHTrans, para acompanhar o trânsito. É a PM que define o posicionamento de cada equipamento, de acordo com a área que deseja monitorar. “A instituição (PM) também é responsável pelo armazenamento das imagens captadas. As câmeras do Olho Vivo existentes na Praça da Liberdade, especificamente, ficam sob responsabilidade do 1º Batalhão da Polícia Militar”, informou a Guarda. A reportagem também procurou a BHIP, que não identificou problemas na iluminação da praça.
LUNETAS Em comemoração do aniversário da capital mineira, foram instaladas lunetas de observação terrestre em dois pontos da cidade. Duas peças estão na Rua Sapucaí, região conhecida recentemente pelo renascimento cultural e pelas obras do Circuito Urbano de Arte (Cura). O outro local que ganhou o presente foi o Mirante dos Mangabeiras, com três peças. Os aparelhos disponibilizados são compostos por lentes antirreflexivas de qualidade superior, montados em um corpo blindado de alumínio fundido. Têm foco pré-ajustado, conforme o local de instalação e custaram R$ 33.400 aos cofres públicos. Os equipamentos escolhidas são resistentes a água, vento e sol. Porém, não ao vandalismo. Cinco dias após a instalação, um dos equipamentos foi quebrado e o outro pichado.
A luneta foi danificada na madrugada de ontem e recuperada por um comerciante da região. Aluzier Malab, presidente da Belotur, lamenta o episódio. “Precisamos fazer campanha de conscientização. Esse tipo de ação não pode ocorrer. Vandalismo é crime. Uma minoria não pode tirar o prazer da maioria da população”, lamentou. Como os equipamentos foram instalados em menos de uma semana, já passariam por revistas para possíveis ajustes – o que consta no contrato. Inclusive, o equipamento estava com foco desregulado. “Não terá nenhum gasto adicional”, explicou Malab. Segundo ele, até a próxima quarta-feira chegará a nova peça.
De acordo com a Polícia Militar, o policiamento nos locais é feito por meio de ponto base ao longo do dia, bem como são realizadas operações diversas. “Na Rua Sapucaí, esquina com Av. Assis Chateaubriand, há a Base de Segurança Comunitária, e a PM intensificará as atividades já realizadas”, informou por nota. Importante ressaltar que a Rua Sapucaí tem se evidenciado como um atrativo para diversos jovens, “o que gera uma aglomeração de pessoas aos finais de semana, e muitos atos são praticados por alguns dos frequentadores do local.”