É praticamente impossível se deslocar por muitos quarteirões em Belo Horizonte sem tropeçar em um ponto clandestino de concentração de entulho, lixo, restos de árvores, de móveis, de eletrônicos ou outros objetos e até animais mortos descartados de forma ilegal pela cidade. Levantamento ao qual o Estado de Minas teve acesso, feito pela prefeitura, por meio da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), mostra que são 731 pontos sujos do tipo espalhados pelas nove regionais da cidade, com média de 81 por região. A maior concentração em números absolutos está na Pampulha, com 169 locais de descarte irregular.
A prefeitura encara o problema com a criação de uma espécie de força-tarefa, formada com a publicação de uma portaria para disciplinar o problema de forma conjunta, envolvendo vários setores da administração municipal. Embora o problema venha diminuindo após a iniciativa, o desafio a ser encarado pelo grupo é imenso, mesmo porque se trata de uma irregularidade que tende a se repetir, apesar das ações de limpeza e enfrentamento.
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Lixo nas ruas e atraso em obras agravam risco de alagamentos em BHMoradores protestam contra o descarte de lixo na linha férrea que corta a Região Oeste de BHÁrea destinada a espaço de convivência no São Bento é tomada por lixo e entulhoMulheres caem em buraco de seis metros de profundidade em UberabaA partir dos números levantados pela PBH, a equipe do EM percorreu 100 quilômetros por ruas e avenidas, em todas as regionais da capital mineira, e mostrou que, apesar de regiões como Pampulha e Norte concentrarem mais bota-foras clandestinos (veja quadro), os exemplos estão por toda a cidade, do Barreiro até Venda Nova.
Na Região Leste, um dos locais com descarte de lixo divide espaço com a academia da cidade instalada na esquina das ruas Maestro Delê Andrade e Aníbal Benévolo. Madeira, entulho, lixo domiciliar e resíduos volumosos ocupam parte do passeio da praça na esquina das duas ruas e incomodam o aposentado Antônio Esteves, de 68 anos, que mora há mais de 30 anos bem perto do ponto sujo. “O povo vem de carro, com carrinho de mão e joga tudo neste lugar. Jogam inclusive restos das coisas que quebram em casa.
Na Região Nordeste, um dos pontos mapeados pela prefeitura chega a colocar em risco a segurança das pessoas. Na esquina das ruas Arthur de Sá e Maura, no Bairro União, o bota-fora acumula principalmente lixo domiciliar. Sacolas com restos de comida e outros resíduos ocupam toda a calçada, obrigando os pedestres a caminhar pela rua. “Passo aqui duas vezes por semana acompanhando uma criança e dá muito medo de acontecer algum acidente com um carro. Além disso, o mau cheiro é terrível e animais acabam se juntando no lugar”, afirma a babá Maria Aparecida de Souza, de 40.
Um dos problemas listados pela prefeitura na Região de Venda Nova ajuda a entender claramente o transtorno vivido pela cidade na época das chuvas. Na Rua Coronel Manuel Assunção, que corta o Bairro Serra Verde, a beira do córrego está repleta de entulho, podendo-se observar no local até pedaços de um computador. “Depois, quando a Vilarinho enche na chuva, não adianta reclamar”, diz a dona de casa Jaine dos Reis Silva, de 47.
Na Pampulha são 169 endereços mapeados pela SLU como pontos em que há sistematicamente descarte de lixo e entulho de forma clandestina, o que coloca a região como campeã da sujeira na cidade.
Moradores e trabalhadores de áreas próximas de onde é comum descartar lixo e entulho de forma ilegal dizem que já sofreram até ameaças ao reclamar do descarte clandestino. O auxiliar de serviços gerais Marcos Aurélio da Silva, de 53, diz que infratores jogam todo tipo de lixo na Rua Martins Soares, na beira da linha férrea, no Bairro Vista Alegre, Oeste da cidade. “A gente vê e nem pode falar nada”, diz ele. Moradora da mesma rua, Andreia dos Santos Ferreira, de 42, reclama de bichos que têm invadido sua casa, atraídos pelo lixão a céu aberto. “A sujeira e o mau cheiro atraem ratos, baratas e aranhas”, diz ela.
Já na Região do Barreiro, o engenheiro mecânico Leandro Batista, de 34, conta que depois de reclamar com carroceiros que despejam todo tipo de material na Rua Padre Júlio Nascimento, em frente ao número 665, no Bairro das Indústrias, chegou a ser ameaçado. “O problema é que os moradores do próprio bairro fazem pequenas reformas e contratam carroceiros para desovar o material na rua. Nosso muro está trincado de tanto fogo que eles colocam, e em uma das vezes as chamas estouraram nosso padrão de energia”, afirma.
DESAFIO PARA A CIDADE O levantamento feito pela SLU dos pontos clandestinos de descarte de lixo e entulho diz respeito a locais em que a administração municipal tem observado a deposição sistemática de resíduos.
O gestor garante que de todos os locais catalogados, 100% passam por limpeza da SLU de acordo com a característica de cada um, em um trabalho que pode ser de diário a quinzenal. As intervenções vêm alcançando melhores resultados a partir de maio, quando o prefeito Alexandre Kalil assinou portaria para atacar o problema de forma conjunta. “A partir da intersetorialidade é que a gente conseguiu começar a desenvolver trabalhos mais específicos e atacar pontos de impacto. Temos um projeto-piloto rodando em 10 bairros da cidade com a parte operacional da comissão criada, que se concentra na fiscalização, monitoramento e mobilização da população, via campanhas”, afirma.
Atualmente, Neto diz que a fiscalização vem sendo aprimorada, principalmente a partir do monitoramento com câmeras. Uma patrulha composta por nove veículos (um por regional) também roda a cidade em busca de registros fotográficos das deposições clandestinas para acionar a fiscalização, mas o flagrante ainda é o principal dificultador para conseguir punir quem espalha lixo pela cidade. “É preciso criar a cultura de que a destinação dos resíduos é um custo que existe quando a pessoa se predispõe a fazer uma obra em casa, por exemplo. Ela tem que se conscientizar e se organizar para fazer a remoção. Fazer o planejamento de onde vai deixar o lixo até o dia de coleta também é muito importante”, acrescenta.
ENTULHO Um dos assuntos discutidos pela comissão intersetorial da PBH para tentar minimizar o impacto dos bota-foras na cidade é a ampliação do número de Unidades de Recebimentos de Pequenos Volumes (URPVs), que atualmente são 32 em BH. Existe a intenção de aumento, mas ainda não há informações concretas nesse sentido. “A URPV faz parte da solução, mas sozinha não resolve.
• Depósito legal
Regras para deposição de resíduos nas Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes de BH
O que pode
É permitida a entrega de 1 metro cúbico por pessoa diariamente, de materiais como entulho, terra,
pneus, restos de poda, de madeira e de metal.
O que não pode
Lixo domiciliar, eletrônicos e animais mortos
Onde descartar
São 32 endereços na cidade. Confira alguns
•Barreiro
Av. do Canal, 68, Conj. Átila de Paiva, Bairro Barreiro
•Centro-Sul
Av. Arthur Bernardes, 3.951, Barragem Santa Lúcia, Bairro Santa Lúcia
•Leste
Av. dos Andradas, 5.965, Bairro Pompeia
•Nordeste
Rua Zumbi, 72, Bairro São Gabriel
•Noroeste
Rua Tamandaré, 5, Bairro João Pinheiro
•Norte
Av. Washington Luiz, 945, Bairro São Bernardo
•Oeste
Av.
•Pampulha
Avenida Presidente Tancredo Neves, 4.200, Bairro Paquetá
•Venda Nova
Av. Luiz Cantagalli, 52, Bairro Céu Azul
A lista completa pode ser
conferida no site https://prefeitura.pbh.gov.br/slu/informacoes/urpv.