Jornal Estado de Minas

Festa da padroeira ilumina fé em Santa Luzia



Festa de luz, encontro de fé e muitos pedidos de proteção para a saúde do corpo e da alma. Milhares de pessoas – moradores do município e romeiros  – participaram ontem da tradicional festa de Santa Luzia, protetora dos olhos, na cidade que leva o nome dela na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O ponto alto foi a procissão com a imagem da padroeira, às 18h30, que percorreu as ruas do Centro Histórico, tendo à frente o titular da paróquia, padre Felipe Lemos de Queirós, e o casal-presidente do jubileu 2018, Edson Eduardo Malaquias e Alcione Regina Malaquias.

 
As comemorações começaram à 0h, com liturgia e participação do tradicional Coro Angélico. Depois, houve nova celebração às 5h, sendo a última às 17h30, antes da procissão, que teve o andor decorado com flores amarelas e vermelhas, com ornamentação a cargo de Evandro Lara e equipe. Já os altares receberam rosas amarelas e antúrios vermelhos.

São muitos os relatos de milagres obtidos por intercessão de Santa Luzia, depoimentos sobre graças alcançadas, pedidos de graças e muitos agradecimentos. Uns entram na igreja de joelhos, outros acendem velas e há aqueles no silêncio da oração.
Morador de Ribeirão das Neves, na Grande BH, o almoxarife Cassiel Clementino Ribeiro, de 60 anos, conta que deve a visão “ao Criador e a Santa Luzia”. Ele explicou, enquanto acendia uma vela, que não perde a festa em 13 de dezembro há mais de 20 anos. “ Tive um problema sério nos olhos e fiquei bom. A visão ficou um pouco fraca, mas enxergo”, afirmou Cassiel enxugando as lágrimas.

Vinda de Conselheiro Lafaiete, na Região Central, com o marido Expedito da Costa Passos, Aparecida Julia Pires Passos contou ter pedido a Santa Luzia pela filha. “Ela passa um tempo enxergando e outro não. Vim rezar para que ela fique boa de vez”, disse Aparecida.


Também de Conselheiro Lafaiete, Sebastiana Vieira reforçou sua fé em Santa Luzia. “Venho todos os anos. Tenho muita dívida com ela”, ressaltou. Morador da cidade, Gabriel Lucas Árabe Moreira Soares, de 17, disse que a festa é emocionante para qualquer geração. “Os jovens andam muito descrentes, mas precisamos manter acesa nossa fé”, disse Gabriel que, todos os anos, participa da festa.

Desta vez, o jubileu ganhou um brilho ainda maior, com a comemoração dos 240 anos de término da construção da igreja, que recebeu bênção oficial em 13 de dezembro de 1778. Há pouco mais de dois meses como titular da paróquia, padre Felipe destaca a importância espiritual, histórica e cultural do templo na vida do município. “Trata-se de uma das matrizes mais bonitas de Minas.
Erguida no século 18 no estilo joanino, ou segunda fase do Barroco – mais ornamentado e pomposo, embora delicado – a igreja, hoje santuário, tem grande significado na arte e arquitetura, mas também nos trabalhos pastorais e sociais, já que são 11 comunidades e três capelas, com diversas realidades sociais e econômicas.” 

HISTÓRIA
Conforme pesquisa da historiadora luziense Elizabete de Almeida Teixeira Tófani, a capela primitiva dedicada a Santa Luzia foi erguida por volta de 1701, formando-se no entorno um rancho para tropeiros que chegavam dos currais da Bahia a fim de abastecer a região das minas de ouro. “No início, quando era capela, ficava de frente para a Rua do Serro, e só depois que se tornou igreja é que ficou virada para a Rua Direita, como está hoje”, conta.

A história se completa com informações contidas no Inventário do Patrimônio Cultural da Arquidiocese de BH/Pontifícia Universidade Católica de Minas. Entre 1721 e 1729, a capela foi ampliada por iniciativa do capitão-mor João Ferreira dos Santos e outros pioneiros, com o apoio do padre Lourenço de Valadares Vieira, vigário de Sabará. Assim, o templo se tornou capela filial da freguesia de Santo Antônio de Roça Grande, já que Santa Luzia estava vinculada à Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabará.

No livro Santa Luzia – Um pouco do seu passado –, o pesquisador Edelweiss Teixeira escreveu que a capela tinha “vinte e dois passos de comprimento e doze de largura”. Os primeiros documentos históricos a ela referentes são um registro de casamento, datado de 30 de julho de 1729, e, seis anos depois, documento do primeiro sepultamento no cemitério ao lado da capela.

De 1744 a 1778, a pequena construção sofreu várias alterações, tendo contribuído nos serviços o sargento-mor Joaquim Pacheco Ribeiro, em agradecimento à cura de sua visão, diz a pesquisadora Elizabete Tófani, que destaca o apuro ornamental do interior do templo, que reflete três fases estilísticas do período colonial. Ao longo dos séculos 19 e 20, a edificação passou por várias intervenções arquitetônicas e artísticas, algumas alterando sua fisionomia original, outras promovendo a sua conservação.

Serviço

Hoje, haverá missa às 19h no Santuário Matriz Santa Luzia e amanhã, nas comunidades Santa Efigênia (às 18h), Nossa Senhora da Conceição (às 18h) e Nossa Senhora do Carmo (às 19h30)

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