Jornal Estado de Minas

Matriz de Nossa Senhora da Conceição terá restauração com bênção do Iphan




Sinal verde para restauro de igreja do século 18, em Mariana, na Região Central de Minas, que escapou da lama despejada pela Barragem de Fundão, da mineradora Samarco, há pouco mais de três anos. A superintendente em Minas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Célia Corsino, informou ontem que a Fundação Renova vai restaurar a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, no distrito de Camargos, localizado a 15 quilômetros da sede municipal e a 3 quilômetros de Bento Rodrigues – esse povoado foi arrasado pelo vazamento que poluiu o Rio Doce, arrasou vegetação e deixou 19 mortos, no que é considerado o maior desastre socioambiental da história do país.

“A igreja será restaurada integralmente”, garante Célia Corsino, lembrando que a obra estava na lista de bens do Programa de Aceleração do Patrimônio (PAC) Cidades Históricas. O anúncio oficial foi feito na noite de quinta-feira, em Mariana, na presença de autoridades e moradores. Satisfeita, a presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Mariana, Ana Cristina de Souza Maia, informa que o restauro é uma condicionante imposta, pelos conselheiros, no processo de licenciamento do reassentamento do povoado de Bento Rodrigues. A aprovação pelo conselho ocorreu em maio. O templo é tombado pelo Iphan desde 1949.

Na próxima quinta-feira, de acordo com a Fundação Renova, organização criada pela Samarco para reparar os danos causados pela tragédia, haverá reunião extraordinária com o Conselho Municipal de Patrimônio Cultural de Mariana para discussão desse e outros assuntos. “Sobre Camargos, o martelo já foi batido. O que será conversado diz respeito a outras condicionantes remanescentes de Bento Rodrigues e quanto ao futuro da localidade de Paracatu de Baixo”, informa Ana Cristina.
“Temos que celebrar essa notícia, pois é muito importante para Mariana. Por estar localizada no alto, foi salva da destruição”, diz a presidente do conselho, explicando que, por proposição dos conselheiros, foram feitas obras nas duas torres e na cobertura do templo.

A Prefeitura de Mariana explica que, depois da tragédia, foram empregados cerca de R$ 400 mil na obra, com recursos do Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural, a partir de repasse do Imposto sobre Comercialização de Mercadorias e Serviços (ICMS Cultural). O coordenador de Preservação do Cultural da Secretaria Municipal de Cultura de Mariana, Lélio Pedrosa Mendes também celebra o anúncio do restauro, destacando a história da matriz, uma das primeiras de Minas. “É linda, e um dos destaques está no cruzeiro, bem na frente, feito em cantaria em pedra lavrada”, conta Lélio.

História


Conforme o Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Prefeitura de Mariana (abril de 2004), a Igreja Nossa Senhora da Conceição de Camargos é considerada uma das mais antigas de Minas, rezando a tradição ter sido construída por volta de 1707. “Pertence ao grupo típico de antigas matrizes mineiras de princípios do século 18, tendo o término de sua construção ocorrido provavelmente próximo a meados daquele século”.

O documento diz que “erguida no alto de uma colina, a igreja predomina sobre a paisagem, apresentando adro cercado por murada de pedra e escadaria na frente que leva a um belo cruzeiro também de pedra-sabão, colocado em um ponto mais baixo, constituindo um conjunto original dentro da implantação urbana de Minas Gerais do século 18”. E mais: “O retábulo do altar-mor, ocupando todo o fundo do presbitério, apresenta decoração profusa em talha, com muitas esculturas, elementos zoomorfos e fitomorfos e dossel estilizado, da primeira fase do barroco. Os altares colaterais são também trabalhados em talha e esculturas”.


Memória


Tsunami de lama

Na noite de 5 de novembro e manhã de 6 de novembro de 2015, quando os repórteres do Estado de Minas chegaram à região devastada pelo “tsunami” de lama da Barragem de Fundão, encontraram os moradores vivendo as primeiras horas de um drama que ainda não terminou.
E que assombra. Era impossível pôr os pés em Bento Rodrigues, então o jeito foi passar por Camargos, que teve a área rural destruída. Mas chamava a atenção a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição no alto, distante cerca de 300 metros do rio de lama de minério, mas inspirando cuidados: as torres estavam cobertas com lonas azuis, forma provisória de proteção contra o período chuvoso. Foram feitos os reparos na cobertura e nas torres e a comunidade, preocupada e esperançosa, espera bem mais: o restauro integral do templo barroco, que agora, tudo indica, vai começar em 2019.
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