O pontapé inicial de um resgate dos Direitos Humanos. É o que representa o trabalho idealizado pela artista visual e performer Débora Guedes, de 24 anos, no muro do antigo prédio do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), situado na Avenida Afonso Pena, na esquina com a Avenida Bernardo Monteiro. Desde sexta-feira, um desenho de fundo preto e personagens cercadas por diferentes cores tenta mostrar ao cidadão comum o que ocorreu em um dos palcos da tortura e do cárcere de presos políticos durante a ditadura militar (1964-1985). O prédio deixou de abrigar o Departamento de Investigação Antidrogas da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) recentemente e vai se tornar, após obras marcadas para começar ainda neste ano, o Memorial dos Direitos Humanos.
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A crítica social e o expressionismo apresentados no desenho têm uma referência marcante: a obra Os Retirantes (1944), de Cândido Portinari. A pintura evidencia as desigualdades entre as classes econômicas do Brasil, por meio do retrato dos migrantes do sertão nordestino. A imagem mostra uma família em condições precárias, com crianças doentes e urubus ao redor.
Para se chegar ao desenho, Débora e outros expoentes da arte mineira se reuniram, durante um mês, sempre às sextas-feiras, no futuro prédio do Memorial dos Direitos Humanos. Os encontros foram organizados pelo Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart), da Fundação Clóvis Salgado. No local, eles montaramCasa da Liberdade”, onde aconteceram debates acerca dos direitos humanos.
A pintura foi realizada com apoio do Circuito Urbano de Arte (Cura), que revitalizou diversos prédios do Centro de BH – todos vistos da Rua Sapucaí, no Bairro Floresta, Região Centro-Sul da cidade. O movimento doou as tintas para trabalho. Além disso, o governo de Minas, por meio da Secretaria de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (Sedpac), emprestou andaimes aos artistas.
A Sedpac também será responsável pela instalação Memorial dos Direitos Humanos.