Um homem de Passos, no Sul de Minas, ganhou de Natal o seu melhor presente: a vida. “Nasci de novo”, disse ontem, ao Estado de Minas, Eduardo Gomes Moraes, de 35 anos, caçula de uma família de quatro irmãos. Na noite de terça-feira, depois de três dias desaparecido na Serra da Canastra – vítima de uma enchente de cabeceira, enquanto nadava na Cachoeira do Zé Pereira, no município vizinho de São João Batista do Glória –, Eduardo retornou à casa paterna, com picadas de insetos pelo corpo e pés inchados, mas sem perder a esperança no coração. “Sou católico, tenho muita fé e agradeço a Deus por tudo. Amanhã, vou à igreja matriz daqui de Passos para rezar e fazer uma promessa”, contou ele, mais conhecido por Chiquinho, ainda debilitado, devido ao estresse, à fadiga e ao sol intenso.
Na casa do pai de Chiquinho, Francisco José Moraes, que tem o mesmo apelido, o movimento é intenso para abraçar e conversar com o sobrevivente, que, em 72 horas, bebeu litros e mais litros de água para aplacar não só a sede, mas também para enganar a fome. “Já vieram mais de 100 pessoas me visitar. E fiz exames, então, estou bem física e psicologicamente”, disse, embora ainda meio atordoado com tudo o que aconteceu. Ontem de manhã, ele recebeu o carinho da sobrinha Isadora e da afilhada Geovana. “É uma bênção ele ter voltado para casa. Estamos felizes, mas ao mesmo tempo tristes pela morte da Pollyana (Pollyana Laine Diniz Furtuoso dos Reis, de 26) e outras quatro pessoas”, disse Leandro, irmão de Chiquinho.
Para escapar da força da água, na tarde de sábado, o sobrevivente, se agarrou a uma pedra da cachoeira, depois de tentar salvar a amiga Pollyana. “Tudo aconteceu muito rápido, em questão de segundos. A água começou a subir e não teve jeito de a gente sair. Segurei a Pollyana pelo ombro, foi uma coisa inexplicável”, relatou. Na hora da enchente, um amigo chamado Guilherme, que integrava o grupo, conseguiu sair da água e disse que buscaria ajuda. Mas, para não correr o risco de ser levado pela correnteza e ficar esperando muito tempo, Chiquinho decidiu escalar um paredão e sair das margens.
SEM DIREÇÃO Com o firme propósito de não morrer, Chiquinho saiu do lugar com uma mochila, usando bermuda e camiseta. “Fiquei muito fraco, sem direção, andei pela Serra da Canastra quase toda, ia anoitecendo e eu bebendo só água. Tinha na cabeça muita força de vontade”, afirmou, lembrando, que, no primeiro dia, comeu os dois sanduíches que havia levado. No restante, bebeu água dos riachos. “Água corrente não faz mal”, afirmou.
Durante a caminhada, o sobrevivente conta que chegou a avistar o helicóptero dos Bombeiros, que fazia buscas por ele, mas não conseguiu chamar a atenção dos socorristas. Depois de parar numa fazenda e pedir informação, sem sucesso, Eduardo relata que continuou caminhando até se encontrar com uma pessoa que o conhecia e já sabia da história do desaparecimento – conforme a polícia, a ocorrência foi registrada na delegacia de São João Batista do Glória. “Pedi arroz, feijão e ovo”, conta. E foi então que esse homem o levou à casa da família, de carro. Na sequência, Chiquinho fez exames na Unidade Pronto Atendimento (UPA) de Passos. “Vamos comemorar em janeiro”, disse ele, que fará aniversário em 19 de abril.
Primo de Chiquinho, Wellington Piantino Moraes, motorista, também comemorou o retorno e ressaltou que “ele ficou vagando muito tempo, sem saber para onde ir”. Ele destacou a alegria do tio, “pessoa de muita fé”, e a expectativa dos amigos durante os dias de desaparecimento. “Parecia um jogo da Seleção Brasileira. Todo mundo aguardando a vitória no final”, comparou.
BUSCAS Foram três dias de buscas dos bombeiros após o temporal na região de São João Batista do Glória, distante sete quilômetros de Passos. O temporal na Serra da Canastra, onde nascem afluentes que chegam a diversos rios, gerou grande volume de água que surpreendeu oito pessoas na própria cidade e em São Roque de Minas, no Centro-Oeste do estado. Embora em regiões administrativas distintas, os municípios são vizinhos e ficam na área de influência do Parque Nacional da Serra da Canastra.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, os efeitos do temporal surpreenderam seis pessoas que estavam na Cachoeira do Zé Pereira. Quatro delas (Mariana de Melo Almeida Horta, de 24, Alexsandro Antônio P. de Souza, de 32, Maurílio de Pádua Silveira e Gustavo Alfredo Godinho Lemos, de 26) praticavam rapel e, possivelmente, segundo o sargento Anderson Marcos, foram pegas pela correnteza quando desciam um paredão de 20 metros, próximo à queda d’água. Já Pollyana e o sobrevivente Eduardo nadavam em um poço acima da cachoeira.
As outras duas mortes foram de Bethânia de Matos Reis, de 13, e Raphaela Matos dos Santos, de 14, vítimas da mesma tempestade, mas que se afogaram em São Roque de Minas.
Na casa do pai de Chiquinho, Francisco José Moraes, que tem o mesmo apelido, o movimento é intenso para abraçar e conversar com o sobrevivente, que, em 72 horas, bebeu litros e mais litros de água para aplacar não só a sede, mas também para enganar a fome. “Já vieram mais de 100 pessoas me visitar. E fiz exames, então, estou bem física e psicologicamente”, disse, embora ainda meio atordoado com tudo o que aconteceu. Ontem de manhã, ele recebeu o carinho da sobrinha Isadora e da afilhada Geovana. “É uma bênção ele ter voltado para casa. Estamos felizes, mas ao mesmo tempo tristes pela morte da Pollyana (Pollyana Laine Diniz Furtuoso dos Reis, de 26) e outras quatro pessoas”, disse Leandro, irmão de Chiquinho.
Para escapar da força da água, na tarde de sábado, o sobrevivente, se agarrou a uma pedra da cachoeira, depois de tentar salvar a amiga Pollyana. “Tudo aconteceu muito rápido, em questão de segundos. A água começou a subir e não teve jeito de a gente sair. Segurei a Pollyana pelo ombro, foi uma coisa inexplicável”, relatou. Na hora da enchente, um amigo chamado Guilherme, que integrava o grupo, conseguiu sair da água e disse que buscaria ajuda. Mas, para não correr o risco de ser levado pela correnteza e ficar esperando muito tempo, Chiquinho decidiu escalar um paredão e sair das margens.
SEM DIREÇÃO Com o firme propósito de não morrer, Chiquinho saiu do lugar com uma mochila, usando bermuda e camiseta. “Fiquei muito fraco, sem direção, andei pela Serra da Canastra quase toda, ia anoitecendo e eu bebendo só água. Tinha na cabeça muita força de vontade”, afirmou, lembrando, que, no primeiro dia, comeu os dois sanduíches que havia levado. No restante, bebeu água dos riachos. “Água corrente não faz mal”, afirmou.
Durante a caminhada, o sobrevivente conta que chegou a avistar o helicóptero dos Bombeiros, que fazia buscas por ele, mas não conseguiu chamar a atenção dos socorristas. Depois de parar numa fazenda e pedir informação, sem sucesso, Eduardo relata que continuou caminhando até se encontrar com uma pessoa que o conhecia e já sabia da história do desaparecimento – conforme a polícia, a ocorrência foi registrada na delegacia de São João Batista do Glória. “Pedi arroz, feijão e ovo”, conta. E foi então que esse homem o levou à casa da família, de carro. Na sequência, Chiquinho fez exames na Unidade Pronto Atendimento (UPA) de Passos. “Vamos comemorar em janeiro”, disse ele, que fará aniversário em 19 de abril.
Primo de Chiquinho, Wellington Piantino Moraes, motorista, também comemorou o retorno e ressaltou que “ele ficou vagando muito tempo, sem saber para onde ir”. Ele destacou a alegria do tio, “pessoa de muita fé”, e a expectativa dos amigos durante os dias de desaparecimento. “Parecia um jogo da Seleção Brasileira. Todo mundo aguardando a vitória no final”, comparou.
BUSCAS Foram três dias de buscas dos bombeiros após o temporal na região de São João Batista do Glória, distante sete quilômetros de Passos. O temporal na Serra da Canastra, onde nascem afluentes que chegam a diversos rios, gerou grande volume de água que surpreendeu oito pessoas na própria cidade e em São Roque de Minas, no Centro-Oeste do estado. Embora em regiões administrativas distintas, os municípios são vizinhos e ficam na área de influência do Parque Nacional da Serra da Canastra.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, os efeitos do temporal surpreenderam seis pessoas que estavam na Cachoeira do Zé Pereira. Quatro delas (Mariana de Melo Almeida Horta, de 24, Alexsandro Antônio P. de Souza, de 32, Maurílio de Pádua Silveira e Gustavo Alfredo Godinho Lemos, de 26) praticavam rapel e, possivelmente, segundo o sargento Anderson Marcos, foram pegas pela correnteza quando desciam um paredão de 20 metros, próximo à queda d’água. Já Pollyana e o sobrevivente Eduardo nadavam em um poço acima da cachoeira.
As outras duas mortes foram de Bethânia de Matos Reis, de 13, e Raphaela Matos dos Santos, de 14, vítimas da mesma tempestade, mas que se afogaram em São Roque de Minas.