Jornal Estado de Minas

População cobra presença de trocadores em meio a vaivém da tarifa dos ônibus

O vaivém do preço da tarifa dos ônibus de Belo Horizonte confunde a cabeça da população, que ontem passou pela terceira mudança de preço em uma semana. Se por um lado o aumento de 11% anunciado em 26 de dezembro pela BHTrans foi retomado, resgatando o valor de R$ 4,50 nos bilhetes, uma situação que ainda espera por solução é a contratação dos cobradores para ocupar os postos que praticamente sumiram dos ônibus nos últimos meses. A situação sobrecarrega os motoristas e a promessa é de que esse problema será resolvido a partir deste mês, com a contratação de 500 cobradores. Esse foi um dos pontos do acordo entre as empresas e a Prefeitura de BH, que também exige a entrada de 300 novos coletivos com ar-condicionado no sistema, além da autorização para o reajuste das passagens.

“Ontem (quarta-feira) era R$ 4,05, hoje (ontem) é R$ 4,50 e amanhã só Deus sabe. A pessoa fica sem saber quanto paga e o pobre é quem mais fica prejudicado nessa história, pois ele não tem condição de pegar outro tipo de transporte, já que o salário não aumenta do mesmo jeito”, diz a vendedora Maria Lúcia da Silva Reis Corrêa. A confusão por conta da terceira mudança de valor em uma semana fez a diarista Ana Maria Silva, de 55 anos, pagar R$ 4,05 no ônibus que a levou do Bairro Serrano, na Região da Pampulha, ao Centro de BH. “Agora que estou percebendo que a passagem voltou para R$ 4,50, mas eu só paguei R$ 4,05. Nem os poucos cobradores que restam estão dando conta dessa confusão”, diz ela.
Já no segundo ônibus que pegou ontem, do Centro ao Bairro Concórdia, na Região Nordeste da capital, ela desembolsou R$ 4,50, porém teve que pagar diretamente ao motorista. O coletivo da linha 8107 (São Pedro/Concórdia) estava sem cobrador por volta das 8h40. “Fica bem mais difícil sem o trocador. Atrasa a viagem e sobrecarrega o motorista. Acho que R$ 0,45 foi muito de aumento”, diz ela.

O condutor do ônibus que levou a diarista até o Bairro Concórdia, Reginaldo Lopes, de 39, disse que sem os cobradores sobram muitas funções para os motoristas. “Essa situação aumenta o risco de um acidente porque divide a nossa atenção. O passageiro quer que a gente saia logo, mas muitas vezes ainda estamos cobrando a passagem.
Então, fica difícil”, afirma. Uma cobradora que ainda trabalha no sistema e pediu para não ser identificada disse que a função é importante para ajudar o motorista. “Esta semana mesmo uma criança quis pegar carona na porta do ônibus, do lado de fora. Com mais um funcionário no ônibus fica mais fácil ver essas coisas, além de falar a hora de fechar as portas, ajudar nas mudanças de faixas e várias outras situações”, disse ela.

MULTAS
De janeiro a novembro, a BHTrans aplicou 8.726 multas por viagens feitas sem trocador fora dos horários permitidos. Em todo o ano passado, foram 210. Viagem sem agente de bordo, popularmente conhecido como trocador, é permitida por lei durante o período noturno, entre as 20h30 e as 5h59, durante os domingos e feriados, em horário integral, e nos veículos do Move, mas passou a ser adotada irregularmente em situações não permitidas.

Reginaldo Lopes recebe o valor da passagem diretamente da diarista Ana Maria. "Atrasa a viagem e sobrecarrega o motorista", diz ela. O condutor concorda: "Aumenta o risco de acidente" - Foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A PRESS

A gangorra no preço da passagem começou depois de a BHTrans ter anunciado que a tarifa seria reajustada a partir de 30 de dezembro em 11%, passando para R$ 4,50, no caso da principal. O reajuste foi praticado nos dias 30 e 31 de dezembro, mas uma ação protocolada pelo movimento Nossa BH, com apoio do Tarifa Zero, conseguiu na Justiça uma liminar que suspendeu o aumento e fez as empresas praticarem novamente os R$ 4,05 nos dias 1º e 2. Ontem, o valor subiu de volta para R$ 4,50, depois que as empresas conseguiram derrubar a liminar e conquistaram nova decisão judicial favorável à subida das passagens.

Além da contratação dos 500 cobradores ainda em janeiro e da entrada de 300 novos ônibus com ar-condicionado no sistema até o mês de abril, outro ponto do acordo entre empresas e prefeitura, que foi uma exigência dos empresários, é o aumento na quilometragem de faixas exclusivas na cidade.
Segundo a BHTrans, serão mais 50 quilômetros na cidade em 2019, caminhando em direção à meta de 80 quilômetros prevista no Plano de Mobilidade até 2025. De acordo com o presidente do sindicato que representa as empresas, Joel Paschoalin, as faixas diminuem o tempo de deslocamento e melhoram a frequência das viagens, suprindo a demanda de passageiros.

CONTRATAÇÃO
Por meio de nota, a BHTrans garantiu ontem que vai acompanhar a contratação de agentes de bordo pelo Setra-BH e informou que o sindicato já publicou anúncio para recrutar novos profissionais. O aumento da frota com ar-condicionado também será controlado. Segundo o texto, antes de os ônibus entrarem no sistema, eles passam por vistoria na autarquia e, assim, a empresa sabe quantos veículos novos a frota está recebendo. “Está em processo de criação um grupo de trabalho para discutir melhorias no transporte coletivo”, informou ainda.

Também por meio de nota, o Sindicato das Empresas do Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) disse que anunciou a contratação de cobradores em 28 de dezembro e que está recebendo os currículos dos interessados para o preenchimento das vagas na sede da entidade (Rua Aquiles Lobo, 504, Bairro Floresta, BH) e realizando o processo seletivo. Ainda de acordo com o Setra, no processo de renovação da frota com veículos com ar-condicionado os mais antigos serão retirados do sistema de transporte da capital, composto por 35 empresas, distribuídas em quatro concessionárias.

A intensificação da presença da Guarda Municipal nos coletivos é outra demanda das empresas, para aumentar a segurança do sistema. A Guarda Municipal lembrou, ontem, por meio de nota, que já atua no transporte público da cidade por meio da Operação Viagem Segura. A ação consiste no embarque e acompanhamento de viagens de algumas linhas de ônibus, de acordo com índices de violência. Por se tratar de uma informação de caráter estratégico, as linhas atendidas e o efetivo empregado no projeto não serão divulgados. A ampliação do projeto está sendo estudada

juntamento com a BHTrans.

 

O CUSTO DAS PASSAGENS
Confira os valores das tarifas e contrapartidas do acordo

11%
Índice de reajuste das passagens

500
Número de cobradores que as empresas se comprometeram a contratar

300
Veículos com ar-condicionado devem ser adquiridos até abril

50km
Extensão de faixas exclusivas de ônibus que a prefeitura terá que adicionar ao trânsito neste ano

As tarifas
Principal

De R$ 4,05 para R$ 4,50

Circular
De R$ 2,85 para R$ 3,15

Vilas e favelas
De R$ 0,90 para R$ 1,00

Táxi lotação
De R$ 4,45 para R$ 5,00

 

Enquanto isso...

...Prazo dado pelo MP vence hoje

Termina hoje o prazo dado pelo Ministério Público de Minas Gerais para que a administração municipal se manifeste sobre contestação das tarifas levada ao órgão, que abriu um inquérito para investigar o aumento da passagem, depois de o movimento Tarifa Zero entrar com uma representação questionando a alta de 11%.

O grupo afirma que não há parâmetros para o valor da tarifa ser R$ 4,50 e conta com a representação no MP para reverter o aumento depois de a liminar que o suspendia ter caído. O mérito da ação na Justiça, aberta pelo movimento Nossa BH com apoio do Tarifa Zero, ainda não foi julgado.

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