Falsificação de assinaturas em cheques e falsas campanhas de caridade estão entre as suspeitas que recaem sobre uma mulher de 54 anos que foi presa preventivamente pela Polícia Civil nessa quinta-feira em Belo Horizonte. De acordo com a instituição, Andréia Amorim Meinick usava os valores em benefício próprio e também para ajudar parentes, que foram surpreendidos com a prisão da mulher.
O delegado Vinícius Dias, do Departamento Estadual de Fraudes e Crimes contra a Administração Pública, deu mais detalhes das investigações em uma entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira. Segundo ele, Andréia trabalhava como gestora financeira de uma empresa de administração de condomínios. Em meados de 2018, dois sócios da companhia desconfiaram do desconto no fluxo de caixa e de um volume exagerado de cheques e, a partir daí, as apurações da polícia tiveram início.
Os desvios começaram em 2014 ou 2015. “Ela iniciou a atividade criminosa uma vez que tinha os cheques dos condomínios, que repassavam à administradora para pagamento dos contratos. Esses cheques precisavam ser assinados pelos dois sócios da administradora, e era ela que repassava aos sócios. Ela passou a não repassar e ela mesma assinava esses cheques”, explicou o delegado Vinícius Dias. “Ato contínuo, ela ia à casa lotérica e descontava esses cheques. Um dos sócios do estabelecimento é amigo pessoal dela há mais de 20 anos, então, tinha uma credibilidade, já tinha uma confiança nela de que esses cheques não voltariam. E ela retirava esse montante da casa lotérica, justamente gerando a lavagem de dinheiro e distribuindo de maneira particular com ela, para alguns familiares, compras de objetos pessoais”, disse o policial. Segundo ele, a polícia vai verificar se o carro de Andréia, que foi apreendido, é oriundo das fraudes. Joias e semijoias também foram localizadas durante a ação de busca e apreensão contra a suspeita.
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FALSA CARIDADE O responsável pelas investigações disse que também surpreenderam as postagens nas redes sociais de Andréia sobre doações para eventos de caridade, compra de cadeiras de rodas, cestas básicas para creches e asilos e sopões para os moradores de rua. “Quando verificamos aquelas notas fiscais em que eram comprovadas as compras desses produtos, nós percebemos que tinham sido desviadas de dentro da empresa e foram fraudadas datas, valores, para justificar a compra desses produtos para as instituições de caridade”, informou Dias.
“Isso só mostra o intuito criminoso dela. É um outro crime que era praticado paralelamente ao desvio maior, mas que mostra a continuidade delitiva e os objetivos espúrios dela”, enfatizou o delegado Domiciano Monteiro, chefe da Divisão de Fraudes da Polícia Civil, também presente na coletiva. “As doações eram justificadas em redes sociais através de notas fiscais que ela falsificava. Notas fiscais essas que ela obtinha junto à empresa na qual trabalhava”, pontuou.
Conforme Vinícius Dias, ao ser ouvida Andréia não confessou todos os delitos. “Ela fez uma confissão espontânea parcial, porque assume a fraude com relação às empresas de caridade. Isso ela assume veementemente. Com relação a esse mecanismo das fraudes vinculado à casa lotérica, ela ainda não assume totalmente o pagamento desses valores e a subtração deles do condomínio”, afirma o delegado.
Segundo ele, durante o período, a equipe estima que 800 cheques podem ter sido desviados. Alguns documentos ainda estão sendo investigados. “Fluxo de caixa que ela movimentou com pagamentos, receitas e despesas foi mais ou menos R$ 5 milhões. A comprovação da subtração de valores é de R$ 1,48 milhão. Estima-se, por ventura, valores superiores a isso”, contabiliza o policial.
Ainda de acordo com o delegado, se comprovado o envolvimento de outros coautores nos delitos, a mulher pode responder pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro (por ter usado a casa lotérica como mecanismo de lavagem), além dos crimes de falsidade ideológica e estelionato qualificado.
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