Os mineiros que procuram por licenciamento na Polícia Federal com o intuito de adquirir uma arma de fogo legal são, em sua maioria homens, de 25 a 40 anos, profissionais liberais e que têm família constituída. Apesar de não ter sofrido violência diretamente, sentem que podem ser vítimas e não acreditam que o Estado possa defendê-los. Esse é o perfil que a reportagem do Estado de Minas encontrou consultando clubes de tiro e despachantes de armamentos que atuam em Belo Horizonte, mas prestam serviço para pessoas de todo o estado, uma vez que só há sete unidades da Polícia Federal em Minas Gerais para esse atendimento. Todos os serviços experimentam uma procura incrementada desde a assinatura do decreto de flexibilização da posse de armas de fogo, assinado na terça-feira pelo presidente Jair Bolsonaro. A principal alteração do decreto foi sobre a declaração de efetiva necessidade de uma arma de fogo. Esse critério passou a ser condicionado pela violência do local onde se vive (mais de 10 homicídios para cada 100 mil habitantes) e considera ainda quem vive nas áreas rurais, o que na prática abrange todos os brasileiros.
De acordo com a empresária Graziele Laine, de uma das maiores firmas de desembaraço de armamentos em Minas Gerais, a Laine Despachante de Armas, o volume de atendimentos aumentou 80% depois da assinatura do decreto. Segundo ela, 90% de quem procura o serviço são homens, sendo metade deles de Belo Horizonte, um quarto da Grande BH e um quarto do interior. “As justificativas são muito parecidas.
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Em Minas, obter posse de arma custa menos de R$ 500Os bastidores do lobby da bala na busca ao mercado de R$ 12 bilhõesDefensores do desarmamento cobram investimento em segurança pública Do estilingue ao rifle: donos de terra se mobilizam para ter posse de armasO empresário belo-horizontino Hudson dos Reis, de 26 anos, quer uma arma de fogo para a proteção da família e de seus negócios. “Busco mais proteção. Minha intenção é nunca precisar de usar a arma de fogo, mas ter esse poder de decisão. Para proteger a mim mesmo, minha família e nossos bens”, afirma. O empresário gostou das instruções que teve no clube e as considera uma forma de ampliar a segurança de quem tem material bélico em seu poder. “Aqui (no clube de tiro), tive reforçada a necessidade de treinar sempre, manter a prática e estar sempre mais preparado. Nunca estive envolvido numa questão de violência ou de briga, mas a realidade que vemos nas ruas e as histórias que ouvimos nos levam a agir preventivamente”, disse Hudson, que aproveitou a oportunidade dos exames de tiro para aquisição da posse de armamento para se filiar ao clube.
A facilidade para a aquisição de uma arma de fogo igualou as condições de segurança para a população, opina o gerente Everton Luis Miguel, de 28. “Antes, apenas os criminosos tinham acesso aos armamentos e a certeza de que suas vítimas estariam desarmadas.