FRANCISCO SÁ – A segurança da família e da propriedade é também o argumento usado por produtores que pretendem se valer do decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonoro que os incluiu na flexibilização da posse de armas de fogo. No Norte do Estado, onde, segundo a polícia, os furtos e roubos aumentaram nas últimas décadas, já se percebe uma movimentação nesse sentido. “No meu caso, minha única defesa até agora é este estilingue”, disse o agricultor Antônio Osvaldo dos Reis, de 69 anos, morador da localidade de Gameleiras, mostrando sua “arma” atual. “Agora quero comprar uma arma de fogo, se possível um rifle”, disse o agricultor, que também tem um pequeno boteco na área rural de Francisco Sá, adiantando que para adquirir o armamento pretende fazer curso e treinamentos “como manda a lei”.
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Profissionais liberais entre 25 e 40 anos lideram procura por armas em MinasDefensores do desarmamento cobram investimento em segurança pública Em Minas, obter posse de arma custa menos de R$ 500Os bastidores do lobby da bala na busca ao mercado de R$ 12 bilhõesOs assaltos são comuns na região.
Ainda em Francisco Sá, o juiz aposentado e também produtor rural Ademar Batista da Paixão diz acreditar que a tendência é que proprietários de sítios da região comprem armas para a proteção de suas propriedades. “Com o Estatuto desarmamento, foram retiradas as armas da população. Desarmou-se o pessoal da zona rural e os bandidos se sentiram à vontade para agir”, analisa o juiz aposentado, que acompanhou vários casos de violência contra moradores da zona rural do município antes de se aposentar.
Como integrante do Poder Judiciário, Ademar da Paixão já tem direito a porte de arma. Mas isso não evitou que sua propriedade rural, na localidade rural de Caititu, também fosse alvo de assaltantes, há dois anos. “Eu não estava na propriedade. Os bandidos chegaram armados, prenderam o caseiro em um banheiro e depois roubaram munições e objetos”, disse o juiz aposentado. “Acredito que, a partir de agora, com a possibilidade de pessoas terem armas em casa, os bandidos vão pensar duas vezes antes de entrar numa fazenda”, completa Paixão.
Donos de terra mobilizados
No Norte de Minas, produtores rurais se uniram e criaram o movimento Segurança no Campo, que soma pelo menos 250 participantes. O grupo surgiu no ano passado, após o aumento de invasões de terra na região, para tentar impedir as ocupações de fazendas em ações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Assessor de Comunicação do Segurança no Campo”, o produtor João Damásio Filho, disse que apesar do nome, o grupo não tem como único objetivo a defesa das propriedades. “Nosso lema é o respeito à vida, à liberdade e ao direito à propriedade privada.
Ele afirma que a coordenação do movimento não pretende estimular os agricultores a ter armamento em casa. “Isso ficará por conta de cada produtor. Se ele achar que deve se armar, que procure os meios legais para isso”, disse o produtor. Entretanto, Damásio acredita que a tendência é de aumento de armas nas propriedades rurais da região rurais da região. “Acho que naquelas áreas mais críticas, com maiores índices de criminalidade, haverá mais adesão à compra de armas de fogo, com os produtores acionando os meios legais para que possam se defender”, declarou. Damásio Filho ressaltou que o movimento jamais incentivou a justiça com as próprias mãos. “Sempre procuramos a polícia e outras instituições de segurança”, afirma.
O ex-presidente da Sociedade Rural de Montes Claros Alexandre Vianna é mais direto: “Acho que com esse decreto as pessoas do meio rural vão adquirir armas”. Segundo ele, os moradores da zona rural são vítimas de assaltos e agressões porque “os bandidos têm a certeza de que ninguém tem arma em casa”. Ele descarta a possibilidade de que um aumento na compra de armas eleve a tensão e a violência no campo. “O que induz a violência é a impunidade”, comenta.
O tenente-coronel Gildásio Rômulo Gonçalves, comandante do 50º Batalhão da Polícia Militar de Montes Claros, confirma que nas últimas décadas aumentou a violência praticada contra sitiantes e fazendeiros na região.