Ter a mulher e a filha de 12 anos sob a mira de revólveres manuseados por dois adolescentes visivelmente dopados foi a sensação de maior fragilidade já experimentada pelo empresário Ricardo Araújo Caetano, de 46 anos. “Naquele momento, só podia rezar e torcer para que os ladrões fossem embora da minha casa, na zona rural de Itaúna. Ameaçaram atirar, disseram que iam nos matar e ficaram nos aterrorizando. Não quero passar por isso nunca mais. Ter uma arma legalmente faz parte das medidas que estou tomando para que isso não volte a ocorrer jamais”, disse o empresário. A residência de Ricardo foi invadida pela dupla de menores no ano passado e ele quase vendeu a propriedade, devido ao desgosto. Com a flexibilização da posse de armamento, na terça-feira, após a assinatura do Decreto 9.685 pelo presidente Jair Bolsonaro, ele se sentiu mais confortável para passar pelos trâmites necessários para a aquisição de armas. “Passei pelas exigências para ter um armamento legalizado.
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Profissionais liberais entre 25 e 40 anos lideram procura por armas em MinasEm Minas, obter posse de arma custa menos de R$ 500Os bastidores do lobby da bala na busca ao mercado de R$ 12 bilhõesDo estilingue ao rifle: donos de terra se mobilizam para ter posse de armasA ampliação da duração do registro de 5 para 10 anos, para o instituto, trará menos controle do Estado sobre os armamentos legais. “Ou seja, (o Decreto) requer que psicólogos garantam que as pessoas continuarão em suas plenas faculdades mentais pelos próximos 10 anos. Do mesmo modo, ninguém consegue garantir que permanecerá com capacidade motora para usar uma arma de maneira responsável sem atingir ninguém no mesmo período”.
Já Bené Barbosa, presidente do Movimento Viva Brasil – criado em 2004 para garantir o direito de posse de armas e crítico do Estatuto do Desarmamento –, defende que a quantidade de armas de fogo que o decreto poderá injetar na sociedade brasileira não trará um aumento da violência ou dos crimes por motivos banais, como brigas domésticas e de trânsito. “Esse decreto foi uma resposta a um referendo (leia texto nesta página) que teve um resultado inequívoco e não foi respeitado. Foi esquecido como se não tivesse acontecido. O governo Bolsonaro reviveu esse assunto. Vamos ver, na prática, se o decreto vai ser suficiente. Não acredito que vá ser suficiente, mas a gente tem que esperar”, disse. Nos canais e redes sociais armamentistas, o tom é de crítica, sobretudo pela redução de seis para quatro do número de armas que podem ser adquiridas sem licenças extras. Tais setores também reagiram negativamente ao fato de o presidente não ter alterado as regras que restringem o porte nem ampliado a possibilidade de compra de munição, limitada a 50 unidades por ano.
O mecânico Rinaldo Henrique do Nascimento, de 38, encarou como positiva a flexibilização.
A segurança da família também é o argumento do empresário Clayton Rubiano Moisés Teixeira, de 36, para passar pelos trâmites para a aquisição de uma arma de fogo. “Tenho minha família agora.