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Moradores atingidos pela tragédia de Mariana fecham percurso do trem da ValeOito municípios acionam a Justiça para receber indenizações da Renova por MarianaAtingidos pela tragédia de Mariana denunciam pressão para que desistam de ações na JustiçaPrimeiras casas do novo Bento Rodrigues vão começar a ser construídas com atrasoBelo Horizonte terá mais uma semana de forte calorAcidente interdita trecho da BR-381 há mais de 12 horas, em ExtremaAgora com os olhos brilhantes, o presidente da associação também aponta, na fotografia colorida, a mesa e os bancos de madeira ensombreados e posicionados perto da igreja, onde os amigos se reuniam nos fins de semana para conversar e descansar. “A árvore e a igreja foram assassinadas em 5 de novembro de 2015, no crime da Samarco. Foram embora o patrimônio e o meio ambiente”, lamenta. Logo depois, movido pela força de viver, o homem de 74 anos, casado há 56 com Maria Irene de Deus, conta que já tem quatro bisnetos, completando a família de quatro filhos e 11 netos. Em cada planta, sem dúvida, está o sinal verde da esperança para uma comunidade que já sofreu tanto e luta por justiça até em tribunais internacionais.
FRUTOS DA VIDA A água gelada servida no fim da tarde quente cai bem, e, copo vazio, Zezinho convida a equipe do EM para ir até uma parte da garagem a céu aberto onde desenvolve seu lado agricultor. “Vendo biscoitos perto da prefeitura (de Mariana), e lá tem uma castanheira bem frondosa. Então, fui pegando as sementes que caíam e plantando.
Compartilhando o entusiasmo do marido, Maria Irene avisa que já está “arrumando” flores e folhagens para a nova casa, que terá o mesmo nome de rua e número da anterior: Rua Raimundo Muniz, 131. “Vamos tocar a vida, com os vizinhos e amigos. Não vejo a hora”, revela Zezinho, após receber o abraço carinhoso da mulher. Como o líder comunitário já disse várias vezes após a tragédia, não vale a pena ficar remoendo o passado. Mas para entender melhor sua história, é fundamental lembrar que na fatídica tarde de 5 de novembro de 2015 o casal estava bem tranquilo em casa.
Com o “ouvido que ele tem”, conforme diz Maria Irene sobre o marido, Zezinho escutou de longe o avanço da lama de minério, já que não havia alarme instalado pela empresa.
RETORNO Nada impede que Zezinho do Bento leve suas plantas para o reassentamento em Bento Rodrigues, explica o coordenador dos arquitetos da Fundação Renova, Alfredo Zanon – a fundação foi criada para gerir a ações de reparação e compensação dos danos causados pelo rompimento da barragem. Destacando que se trata de um reassentamento pioneiro no mundo, pois os moradores definem o projeto, com escolha do tipo de casa e localização, com uma equipe especializada para orientar. “Vamos ter um viveiro grande, então as plantas podem ser levadas para lá e distribuídas. A atitude de Zezinho do Bento é muito louvável, pois, além de fazer as mudas, ele estimula outras pessoas”, diz o especialista em obras e projetos da Renova.
A expectativa é de que, neste primeiro semestre, comecem as construções das casas, com previsão de término em agosto de 2020, de acordo com entendimento entre comunidade, Fundação Renova e Ministério Público. Para cada casa construída será preciso um alvará. “Olhamos o desejo de cada família, e vale o que ela quer plantar no quintal ou no jardim, se pretende ter um galinheiro e criar outros animais. Há até um pedido para instalação de duas pocilgas, o que será verificado pela equipe de zootecnia e meio ambiente”, diz o arquiteto.
Em nota, a Renova informa que, durante a construção das casas, as famílias poderão visitá-las, “vivenciando a execução, possibilitando criar laços de afeto com o novo espaço antes da ocupação”.
Três perguntas para Alfredo Zanon, arquiteto da Fundação Renova
Como está o andamento do projeto de reassentamento das famílias de Bento Rodrigues? Quando as famílias serão transferidas?
As obras de reassentamento de Bento Rodrigues estão em fase de atividades de infraestrutura. Cerca de um terço da terraplenagem foi executado. As atividades de drenagem também foram iniciadas. A previsão é de que o início das contenções dos lotes e a construção das edificações ocorram no segundo trimestre de 2019. As obras das casas devem começar no fim do primeiro semestre.
Qual será a duração da obra?
Toda a obra deve ter duração de 22 a 24 meses, prazo que está sendo construído no Grupo de Trabalho supervisionado pelo Ministério Público, com a participação dos atingidos. A previsão é que 225 famílias sejam reassentadas.
O líder comunitário, Zezinho do Bento, tem cerca de 40 mudas em sua casa em Mariana. A ideia dele é plantar todas elas no reassentamento. É possível? Há variedades indicadas pelos engenheiros?
Sim, é possível. Nas áreas comuns, é preciso alinhar com a equipe de obras para avaliar o local, já que ainda estão ocorrendo intervenções de terraplenagem e outras iniciativas de infraestrutura.