Jornal Estado de Minas

Moradores improvisam piscinas e escorregador na Barragem Santa Lúcia

A lagoa da Barragem Santa Lúcia atrai jovens, mesmo que o banho no local seja proibido - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press

A onda de calor continua em Belo Horizonte. A cidade atingiu o 13º dia com temperaturas acima dos 30°C. Ontem, os termômetros marcaram 31,5°C durante a tarde na Região Centro-Sul da cidade. Uma frente fria pode provocar chuva até amanhã na capital mineira e, principalmente, no Triângulo, Zona da Mata e Sul do estado. Mesmo assim, o tempo abafado continua. Para aliviar, muita criatividade, mas sem descuidar da segurança. Moradores do entorno da Barragem Santa Lúcia, na mesma região da capital, formaram uma rede solidária para enfrentar as altas temperaturas e garantir a diversão no verão.


Munidos de baldes e canos de PVC, o grupo transformou o sol escaldante em alegria para a criançada. Pequenos entre 1 e 9 anos se reúnem todas as tardes acompanhados por mães, tias e vizinhos e se esbaldam numa lona improvisada junto à nascente que abastece o lago.
A lona foi doada por um amigo da comunidade, conhecido apenas como Leandro. Com medidas aproximadas de 20 metros x 30m ela é estendida junto à nascente. Os guardadores de carro Júnior César e Wellingon Soares de Jesus cedem os baldes para encher a piscininha levada pela diarista Cecília da Silva, que acompanha 10 crianças vizinhas e seu filho Arthur da Silva, de 7.

Júnior e Wellington improvisaram dois canos de PVC para ligar a saída de água da mina à grande lona estendida sobre o cimento quente às margens do lago. O “escorregador aquático” vem funcionando das 13 às 19h todos os dias. O equipamento é guardado pelo porteiro da agência Perfil 252, José Carlos Ribeiro, em espaço cedido pelos proprietários. Segundo os organizadores da ideia “é a forma encontrada para que as crianças, carentes de espaços de lazer, possam curtir o calor sem enfrentar os perigos do lago”, que chama mais a atenção dos jovens que vivem no entorno.

AFOGAMENTOS Sem medo, entretanto, muitos pulam nas águas da lagoa da barragem, onde é proibido nadar e duas pessoas se afogaram na última semana.  Na última semana, um jovem morreu afogado ao bater a cabeça no labirinto de muros e encanamentos dentro da lagoa. Outro rapaz se acidentou no mesmo local na quarta-feira e permanecia internado ontem em estado grave.

O risco se repete em cachoeiras, rios e outros mananciais para os desavisados e até mesmo para os mais experientes.
Segundo dados do Corpo de Bombeiros, de janeiro a novembro de 2018, a corporação realizou 526 atendimentos a pessoas perdidas, desaparecidas e ilhadas em locais como trilhas, matas, acampamentos, cachoeiras, rios, enxurradas e outros locais. Isso representa 37% a mais que as ocorrências em relação ao mesmo período em 2017. Afogamento em cachoeiras, lagoas e rios também registraram aumento de 19,6% no ano passado em relação a 2017.

Para evitar que as estatísticas aumentem neste ano, os bombeiros recomendam que as pessoas busquem informações sobre o local, além da possibilidade de chuva antes do passeio e que não visitem lugares proibidos e com sinalização de perigo.

- Foto: Arte EM

ALTERNATIVAS Sem mar, os belo-horizontinos improvisam como podem e já há até uma “praia” tradicional. A Praça da Estação, na Região Central da capital, foi adotada para o refresco há 9 anos. O que no início era uma forma pacífica de protesto, virou tradição. Em alguns sábados durante o verão, o local vira Praia da Estação, com o clima bem litorâneo. O evento tem música e as pessoas vão vestidas com trajes de banho e munidas de guarda-sóis e esteiras, como se estivessem em algum lugar praiano. Além de tudo, o tradicional banho de mangueira de um caminhão-pipa ajuda a espantar o forte calor.

Para não fazer feio, a organização pede apenas para que as pessoas levem seus sacos, sacolas e caixas de papelão para que recolham o próprio lixo, uma vez que não se trata de um evento pago e não conta com funcionários para a limpeza do espaço.
Além disso, quem não tem clube ou piscina em casa, caça com laje. Muitos amigos se reúnem no alto de prédios com as piscinas de plástico ou mangueiras. O que não falta é criatividade e o que vale é aliviar o calor intenso.

PREVISÃO De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), uma massa de ar seco predomina em Minas há dias. A partir de hoje, uma frente fria vai passar pelo litoral, o que pode provocar instabilidade no tempo. “A tendência é que nos próximos dias uma frente fria passe no litoral. Vai provocar chuva no Triângulo, Sul e Zona da Mata. Em BH, a chuva pode cair em forma de pancadas, com ventos e raios, normalmente no fim de tarde”, explicou o meteorologista Cléber Sousa.

Ainda de acordo com o especialista, mesmo com a passagem da frente fria, o calor permanece na maioria das cidades mineiras. “A frente não chega com grande intensidade, com isso, o calor vai continuar. Algumas cidades do Norte de Minas podem até ter temperaturas de 39°C”, comentou.

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