Moradores de Brumadinho, que tiveram familiares e amigos atingidos pela lama da barragem do Córrego do Feijão, rompida no fim da manhã desta sexta-feira, relatam momentos de desespero.
A esposa de Jorge Santana de Araújo Porto trabalhava próximo à barragem e estava ao telefone com ele quando aconteceu a tragédia. “Por volta de 12h15 ela me ligou, de repente ela falou: ‘tá tendo um terremoto, tá tremendo, as árvores estão caindo, meu Deus do céu, tenha misericórdia’ aí a ligação caiu”, relata. Ele contou que com 20 minutos conseguiu chegar no local, que já estava devastado pela lama. Ele ainda entrou na lama em busca de sua esposa, mas não a encontrou. Jorge agora teme em voltar sozinho para casa com suas duas filhas, mas não perde as esperanças “Eu creio que vai dar tudo certo, ela vai estar ilhada em algum lugar e vai sair com vida”, disse.
Várias famílias perderam suas casas, animais e pertences. O ajudante de pedreiro Virgílio Fernandes Pessoa, de 60 anos, estava cuidando de suas vacas, quando ficou sabendo do rompimento da barragem e teve que sair de casa às pressas. “Perdi tudo. Saímos eu, minha esposa e meu neto, só com a roupa do corpo”, relata. Virgílio baseava o sustento da família nos animais que tinha, agora ele não tem mais esperanças de uma reconstituição de vida. “Vamos ficar na rua. São 40 anos de sofrimento, de batalha, e perdemos tudo dentro de cinco minutos. Não é justo uma coisa dessas. Eu, com 60 anos, nem emprego consigo mais, o que vou fazer da minha vida?” conta o ajudante de pedreiro, muito emocionado.
O filho do gesseiro Marcos Antônio Coelho Brito foi quem anunciou a tragédia para a família. “Era 12h40, eu tava fazendo horário de almoço em casa, quando meu menino chegou correndo e falando que a barragem da Vale tinha arrebentado, e que minha vizinha tinha perdido o cunhado que trabalhava lá, aí eu saí correndo. Peguei minha esposa, meus filhos, documentos e saí com o carro pra parte mais alta”, relata.
A barragem pertence à Vale. Prefeituras de cidades próximas ao Rio Paraopeba alertam ara que os moradores se mantenham longe do curso d'água. O número exato de vítimas até as 23h chega a sete mortos e 150 desaparecidos. O Corpo de Bombeiros e o governo de Minas Gerais enviaram viaturas e helicópteros para o socorro no município.
*Estagiária sob supervisão de Marcílio de Moraes