Brumadinho – Sessenta covas abertas, caixões em fila, aguardando a hora de serem levados do velório para o cemitério Parque das Flores, no Bairro Salgado Filho. Parentes se revezando em choros, soluços e orações. Uma família subia o corredor entre os montes de terra, enquanto novos familiares já se juntavam ao aguardo da próxima urna. A sensação é que todos estão anestesiados, ainda sem acreditar no que ocorreu, que o tempo parou desde que a barragem do Córrego do Feijão estourou, no início da tarde de sexta-feira. Até a noite de ontem eram 65 mortos confirmados e ao menos 279 desaparecidos.
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A Prefeitura de Brumadinho estuda a possibilidade de ampliar o terreno do cemitério Parque das Flores, para receber as vítimas do rompimento da barragem do Córrego do Feijão. Ontem, os funcionários aguardavam liberação de engenheiros para roçar a grama e ampliar a capacidade do cemitério, o mais novo da cidade.
Para alguns, a dor da certeza da perda definitiva de entes queridos, para outros a angústia do silêncio da desinformação. No Bairro Gameleira, essa foi a rotina ontem durante todo o dia no IML. Muito choro, apreensão, poucas esperanças e muita solidariedade. No quarteirão permitido somente ao trânsito local, calçadas tomadas por uma rede solidária de voluntários, gente vindas de todas as partes para oferecer alimento, acolhida, agasalho ou apenas um afago se misturava com famílias e amigos nas idas e vindas do desespero de obter “alguma notícia” ou na dor expressa da confirmação da ausência de um pai, um filho, um marido ou esposa.
Sem dormir há três dias, Odair Dias da Rocha Santana, de 42 anos, aguardava notícias da irmã Denise da Rocha, de 32, engenheira da Vale, mãe de dois filhos, um de 12 e outro de 8, que trabalhava na empresa há quatro anos. “Ela nos mandou fotos almoçando, no refeitório, na sexta-feira, às 13h30 e nunca mais tivemos notícia”. Odair aguardava a chegada da mãe e irmãs, vindas de São Paulo, para tentar entrar no instituto e reconhecer a irmão entre os corpos. “Não sabemos o que dizer aos filhos, que chamam pela mãe o tempo todo e precisaram ser medicados.
Angustiante. Assim o metalúrgico Ricardo Braga classifica a busca pelo irmão, o analista de qualidade na Vale há 10 anos, Adriano Júnior Braga, de 38. Na rua, redes de solidariedade foram formadas. Movidas pelo mesmo sentimento, Gabriele Fernandes Gabriel, Erika Fernandes, Carla Eduarda da Silva, Letícia Aparecida Gomes da Silva, Mariza Costa e Ana Carolina, que se conheceram no local. Eles distribuíam sucos, água e alimentos doados por inúmeras pessoas a familiares que chegavam ao IML em busca de notícia. “Pensei em ir para Brumadinho mas me lembrei que muitos vinham aqui com a roupa do corpo, às vezes sem dinheiro até para passagem, no desespero e me desloquei para cá”, relatou Ana Carolina.
No primeiro dia útil após a tragédia, o centro comercial de Brumadinho esteve pouco movimentado, reflexo do sofrimento da população com a situação. Poucas lojas estavam abertas. Algumas, além das portas fechadas, traziam o símbolo de luto na fachada. Quem teve força para encarar o dia de trabalho ainda lamentava a tragédia. Todos perderam algum conhecido próximo.