Em meio à procura por desaparecidos, uma outra preocupação aflige as pessoas que trabalham nas buscas pós-rompimento da barragem em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte: encontrar animais em meio à lama. Desde a última sexta-feira - data da tragédia -, ONGs têm encontrado dificuldades para acessar locais de resgate e auxiliar as equipes oficiais, sobrecarregadas fisicamente e psicologicamente.
“Trabalhamos por 15 dias em Mariana, no rompimento da barragem em 2015. Os animais estão perdidos, sem acesso, sem atendimento, completamente abandonados, com fome e sede. De sexta-feira para cá, a gente não conseguiu fazer absolutamente nada com relação a adentrar os locais. Estamos aqui com uma equipe de veterinários, para tratamento, para resgate”, relatou ao Estado de Minas a presidente da ONG paranaense Força Animal, Danielly Savi.
A reportagem flagrou dois bovinos na região em que o Corpo de Bombeiros tenta desenterrar um ônibus desde essa segunda-feira. Enquanto um já foi atendido e alimentado, outro segue debaixo da lama. Em outra região de resgate, equipes oficiais fazem buscas por animais de pequeno porte, como cachorros e gatos.
A Força Animal, que conta com cerca de 15 integrantes em Brumadinho, não é a única ONG atenta à causa na região. Segundo a própria organização, estima-se que cerca de 60 pessoas, entre voluntários e especialistas, trabalham no local com esse intuito.
Abatimento
Outra preocupação das ONGs é o tratamento aos animais que estão presos na lama. Ao jornal Estado de S. Paulo, o chefe da Defesa Civil de Minas Gerais, coronel Evandro Geraldo Borges, confirmou que deu permissão às equipes para abater a tiros os que estiverem em locais críticos, de difícil acesso.
“O que vamos fazer? Deixar o animal sofrendo? Estamos, sim, com equipe em campo executando esse trabalho, mas essa decisão só é tomada nos casos em que não há outra opção. Não tem jeito. Tem animal preso, outro com perna quebrada. Temos de fazer escolhas, de retirar as pessoas, ir atrás de sobreviventes. Tudo que está sendo feito foi pensado. É isso”, disse.
O sacrifício em situações específicas foi confirmado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). A Defesa Civil emitiu nota em que garante que o abate aleatório de animais não foi permitido. Segundo o posicionamento oficial, a eutanásia ocorre por meio de injeção letal. Os que forem encontrados com vida são levados a um sítio nas proximidades do local. Por lá, são alimentados e atendidos por uma equipe de veterinários.
A ONG Força Animal lamentou o abate por meio de tiros e defendeu que há outras formas de contornar a situação. “Nós temos preparo para analisar o animal e, se for o caso, fazer a eutanásia, mas não queremos que seja por helicópteros a tiros. Poderia ser de outra forma. Não que os animais pudessem ser retirados. A gente concorda que, se não puder, não vamos colocar nenhuma vida em risco. Mas a gente podia, como médico veterinário, descer lá e fazer uma eutanásia digna para a vida do animal”, defendeu o médico veterinário Rodrigo Gobo, que trabalha na Força Animal em São Paulo.
Enquanto percorria a área de resgate nesta terça-feira, a reportagem conversou com integrantes de equipes oficiais que buscam os animais em escombros de casas e na lama. Eles reforçaram que os grupos responsáveis avaliam coletivamente a situação de cada animal encontrado para evitar sacrifícios.
Enquanto não podem ter acesso direto às áreas críticas, as ONGs preparam ações para alimentar e cuidar de animais que estão nos entornos dos locais mais afetados. Entre as propostas está a retirada de peixes de um dos locais contaminados para colocá-los, num primeiro momento, em reservatórios.