Desde às 4h de sábado, os 27 índios pataxós hã-hã-hãe assistem a lama descer pelo Rio Paraopeba, matando os peixes, principal fonte de alimento da tribo, na divisa entre São Joaquim de Bicas e Brumadinho. Piabas, traíras e piaus estão empilhados na margem do rio e o cheiro de peixe podre é percebido a metros de distância.
“Muitos estão olhando o papel sujo, que é o dinheiro e só estão olhando os bens materiais. Eles não entendem que o ar puro que eles respiram são através das reservas, nascentes, do rio”, afirmou o cacique Hãyó Pataxó, que aguarda ajuda, já que o peixe é a principal fonte de sobrevivência da tribo. “Estamos precisando neste momento de cesta básica, da carne, porque a gente vivia do peixe”, conta.
Na manhã desta terça-feira, depois de quatro dias sem fornecimento de águas e vivendo de ajuda de poucas doações, os pataxós se reuniram com representantes do governo do estado, Fundação Nacional do Índio (Funai), Ibama, Ministério dos Direitos Humanos e Secretaria Estadual de Saúde Indígena.
"Pescaria acabou agora, enquanto sujeira estiver aqui não tem como pegar peixe"
Gervásio Alves de Souza, de 93 anos
“Pescaria acabou agora, enquanto sujeira estiver aqui não tem como pegar peixe”, lamenta Gervásio Alves de Souza, de 93 anos “Os peixes que tinha, pelo menos de Brumadinho para cá, acabou, não tem mais. As piabinhas estão todas mortas”.
O governo do estado, por meio de representantes da Subsecretaria de Direitos Humanos, afirmou que vai articular com a Copasa para retomar o abastecimento da aldeia, além de cuidar de questões emergenciais de alimentação e água. Já o Ministério dos Direitos Humanos tem recebido demandas de indígenas, quilombolas e solicitou um mapeamento da população ribeirinha e povos tradicionais, para cobrar assistência da Vale.
As famílias pataxós vivem à margem do Rio Paraopeba há cerca de um ano e meio, boa parte deles provenientes do Sul da Bahia. A Funai fez a qualificação fundiária, que é o passo inicial para que a área seja reconhecida como pertencente aos pataxós hã-hã-hãe.