A população deve evitar contato com a lama de rejeitos que vazou da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, em 25 de janeiro, e que avança pelo Rio Paraopeba. Em nota divulgada na segunda-feira (28), a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG) alertou sobre os riscos à saúde de contato com a lama, que pode conter altas concentrações de metais pesados.
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Depois do rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, em 2015, a professora Cláudia Carvalhinho, do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), fez a análise da lama dos rejeitos da extração do minério de ferro e detectou a presença de metais pesados no material. Na análise da lama de Fundão, foram encontrados ferro, manganês e alumínio.
Cláudia afirma que o rejeito da barragem de Brumadinho deve ter concentrações semelhantes de metais pesados, por se tratar dos resíduos das mesmas atividade e técnica. A pesquisadora alerta ainda que podem ser encontrados cromo, chumbo e arsênio na lama. O maior risco para a saúde da população, conforme destaca a professora, vem da ingestão de água contaminada por metais pesados.
O consumo continuado de água com altas concentrações de metais pesados, segundo a pesquisadora, pode levar ao aparecimento de problemas neurológicos.
Outro risco é o contato com os metais pesados que podem chegar à atmosfera. O rompimento lançou, no meio ambiente, cerca de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos. “Quando a lama secar, as pessoas podem ficar expostas à poeira dessa lama, que pode gerar exposição atmosférica ao material particulado”, afirma Cláudia.
A pesquisadora ressalta, porém, que não há motivos para que a população fique alarmada. “Os riscos são muito menores, se comparados aos de acidentes envolvendo material radioativo”, diz. Ela também destaca que é pouco provável encontrar mercúrio em rejeitos de minério de ferro. “O mercúrio é usado na exploração do ouro. Nesse caso de exploração de ouro, podemos encontrar arsênio, cianeto e mercúrio.”
As partículas sólidas, que chegam aos rios, acabam ameaçando a vida aquática. O professor Ricardo Motta Pinto Coelho, do Departamento de Biologia Geral da UFMG, salienta a importância de se medir o nível de turbidez da água.
TRÊS MARIAS Pinto Coelho alerta para os riscos de contaminação da Usina Hidrelétrica de Três Marias por metais pesados. “Quando a mancha da lama (água turva) chegar à usina, tudo o que ela levar vai se disseminar pelo reservatório. E, certamente, também os componentes tóxicos”, assegura. A ANA, por meio de sua assessoria de imprensa, procurou amenizar os riscos de contaminação por metais pesados. O órgão acredita que a Usina Hidrelétrica de Retiro de Baixo, que fica a 29 quilômetros de Três Marias, possa “segurar” a maior quantidade do material que vazou em Brumadinho. Dessa forma, chegaria a Três Marias apenas água turva, mas com baixa concentração de rejeitos.
Procurada, a assessoria de imprensa da Vale não detalhou à reportagem qual seria a composição dos rejeitos de Brumadinho.