A população deve evitar contato com a lama de rejeitos que vazou da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, em 25 de janeiro, e que avança pelo Rio Paraopeba. Em nota divulgada na segunda-feira (28), a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG) alertou sobre os riscos à saúde de contato com a lama, que pode conter altas concentrações de metais pesados.
A SES recolheu amostras para verificar a presença de metais pesados. Embora o resultado ainda não tenha sido divulgado, especialistas afirmam que é praticamente certa a presença de ferro, manganês e alumínio - comumente encontrados nos rejeitos da exploração do minério de ferro. O material pode conter ainda outros metais, como cromo, chumbo e arsênio. A lama contaminada, que segue pela bacia do Rio Paraopeba, deve chegar à Usina Hidrelétrica de Três Marias até o dia 20 de fevereiro, conforme informou a Agência Nacional das Águas (ANA).
A secretaria orienta a população a não consumir alimentos que tiveram contato com a lama, inclusive os embalados e enlatados, assim como a evitar contato com a água do Rio Paraopeba, tanto para ingestão quanto para recreação. Também é desaconselhado pescar ou consumir os peixes do rio. Quem tiver contato com lama e apresentar sintomas como vômitos, coceira, tontura e diarreia deve procurar uma unidade de saúde.
Depois do rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, em 2015, a professora Cláudia Carvalhinho, do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), fez a análise da lama dos rejeitos da extração do minério de ferro e detectou a presença de metais pesados no material. Na análise da lama de Fundão, foram encontrados ferro, manganês e alumínio.
Cláudia afirma que o rejeito da barragem de Brumadinho deve ter concentrações semelhantes de metais pesados, por se tratar dos resíduos das mesmas atividade e técnica. A pesquisadora alerta ainda que podem ser encontrados cromo, chumbo e arsênio na lama. O maior risco para a saúde da população, conforme destaca a professora, vem da ingestão de água contaminada por metais pesados.
O consumo continuado de água com altas concentrações de metais pesados, segundo a pesquisadora, pode levar ao aparecimento de problemas neurológicos. A ingestão de alumínio, por exemplo, está associada ao Alzheimer.
Outro risco é o contato com os metais pesados que podem chegar à atmosfera. O rompimento lançou, no meio ambiente, cerca de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos. “Quando a lama secar, as pessoas podem ficar expostas à poeira dessa lama, que pode gerar exposição atmosférica ao material particulado”, afirma Cláudia.
A pesquisadora ressalta, porém, que não há motivos para que a população fique alarmada. “Os riscos são muito menores, se comparados aos de acidentes envolvendo material radioativo”, diz. Ela também destaca que é pouco provável encontrar mercúrio em rejeitos de minério de ferro. “O mercúrio é usado na exploração do ouro. Nesse caso de exploração de ouro, podemos encontrar arsênio, cianeto e mercúrio.”
As partículas sólidas, que chegam aos rios, acabam ameaçando a vida aquática. O professor Ricardo Motta Pinto Coelho, do Departamento de Biologia Geral da UFMG, salienta a importância de se medir o nível de turbidez da água. ”Se for verificado um nível alto, isso acarretará em mortandade de peixes. Haverá tanto sólido na água que os peixes vão morrer sufocados, sem conseguir respirar”, afirma o biólogo.
TRÊS MARIAS Pinto Coelho alerta para os riscos de contaminação da Usina Hidrelétrica de Três Marias por metais pesados. “Quando a mancha da lama (água turva) chegar à usina, tudo o que ela levar vai se disseminar pelo reservatório. E, certamente, também os componentes tóxicos”, assegura. A ANA, por meio de sua assessoria de imprensa, procurou amenizar os riscos de contaminação por metais pesados. O órgão acredita que a Usina Hidrelétrica de Retiro de Baixo, que fica a 29 quilômetros de Três Marias, possa “segurar” a maior quantidade do material que vazou em Brumadinho. Dessa forma, chegaria a Três Marias apenas água turva, mas com baixa concentração de rejeitos.
Procurada, a assessoria de imprensa da Vale não detalhou à reportagem qual seria a composição dos rejeitos de Brumadinho.