Os amigos Elias de Jesus Nunes, de 43 anos, e Sebastião Gomes, de 54, se emocionam ao contar como se salvaram de uma das maiores tragédias do país. Funcionários da Vale, eles escoltavam trabalhadores terceirizados que fariam a sucção de uma fossa no momento em que a barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Grande BH, se rompeu, na sexta-feira, 25 de janeiro. Imagens de câmeras instaladas na mineradora flagraram o momento em que eles entraram em uma caminhonete que acabou alçada pela lama. O veículo ficou acima dos rejeitos, os dois saíram ilesos e ainda salvaram o colega Leandro Cândido, de 37 anos, que estava preso em um trator, com a lama até o pescoço. Nesta sexta-feira, os dois contaram detalhes desse dia, que ficará marcado para sempre na memória dos dois e de todos os brasileiros.
Sentados na casa de Elias, os dois reviveram os momentos de desespero e angústia. “Nós estávamos acompanhando uma empresa terceirizada de prestação de serviço. Na hora do rompimento, quando a gente ouviu o barulho, eu pensei que seria um descarrilamento de vagão, mas quando cheguei para olhar já vi que era o rompimento da barragem. Falei para o Sebastião para gente correr e entrar na caminhonete para tentar sair do local”, contou Elias.
“Eu falei para o Elias e com seu Antônio que parecia a explosão do pneu de um caminhão de grande porte na estrada. O barulho foi muito forte. Depois que eu percebi que o barulho era mais forte ainda. Mas deu o segundo estrondo e o Elias falou: 'Não, Sebastião. Não é, não. Isso é o vagão que descarrilou. Parece, né?'. Nós olhamos e demos de cara com a lama, já. O Elias já correu para a caminhonete. Eu não corri para a caminhonete. Eu saí correndo para o outro lado. Ai, o Elias gritou: 'Corre, Sebastião, vem para a caminhonete, senão você vai morrer'. Eu corri para a caminhonete”, disse Sebastião.
Quando foram atingidos pela lama, eles se apegaram à fé. “Daí, foi só a gente fechar a porta e o Elias, na hora, foi um grande herói na direção. Não é porque ele fez o feito da caminhonete, porque não tinha como fazer mais nada. Mas, pela presteza de ir para um lado, para o outro. Depois, soltou a direção e disse: Sebastião, acabou. É só entregar para Deus agora. Começamos a rezar o Pai Nosso. Foi quando a caminhonete pairou, naquele momento, para cima”, lembrou Sebastião.
“No caso, eu parei a caminhonete e falei: 'Agora vamos só orar e pedir a Deus para tirar a gente daqui'. Foi quando a lama veio e atingiu, primeiramente, o meu lado, no sentido da barragem. Depois atingiu o lado do Sebastião e jogou (a caminhonete) para cima. E nós, então, paramos e saímos de dentro da caminhonete”, completou Elias.