Em volta de escavadeiras anfíbias, no meio dos rejeitos, bombeiros militares rastejam à procura de corpos ou sobreviventes. Do alto, entregando ferramentas e suprimentos, procurando sinais de atingidos e transportando vítimas, helicópteros da Polícia Militar de Minas Gerais integram uma esquadrilha de 17 aeronaves operando por vezes das 6h às 21h. Todo o complexo trabalho de resposta desde o rompimento da Barragem 1 da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Grande BH, no último dia 25, emana de decisões tomadas no Sistema de Comando de Operações montado na Faculdade Asa de Brumadinho. A reportagem do Estado de Minas teve acesso a essa estrutura operacional e, além de acompanhar as tomadas de decisões estratégicas para a coordenação dos trabalhos de campo e processamento de informações, ouviu dos principais envolvidos como se dá a sintonia fina dessa estrutura fundamental para a resposta à altura do que a catástrofe exige. Um verdadeiro quartel-general, onde são travadas batalhas diárias de estratégia, logística e planejamento.
Os três andares da instituição de ensino superior foram ocupados por forças e serviços públicos de todas as áreas de atuação e estruturas da esfera federal, de vários estados e municípios (veja arte). No pátio do primeiro andar, a mistura de pessoal com padrões de camuflagem das diversas instituições de segurança e as cores chamativas dos coletes do Ibama (verde), do ICMBio (verde-claro), da Defesa Civil (azuis e laranjas) e de funcionários da Vale (laranjas) dão uma impressão de desordem e caos. Grupos passando apressados com caixas de equipamentos, embalagens térmicas com alimentação e água sendo enviadas para as diversas equipes ampliam ainda mais a aparente confusão. Mas é dentro das salas de aula convertidas em escritórios de situação, reunião e comando que todas as informações são reunidas e repassadas para o trabalho de campo.
Nas salas de coordenação das forças, por exemplo, o mapeamento do Serviço Geológico do Brasil/Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) auxiliou as autoridades a demarcar o mapeamento dos 270 hectares devastados pela catástrofe. Nesses locais, o mapeamento por satélite impresso em folhas A4 coladas nas paredes vai sendo montado como um quebra-cabeças de áreas destruídas. Graças a isso, foi possível dividir a área de busca em 45 setores. “Todos os órgãos que estão conosco nessa empreitada estão dedicados ao máximo para que tenhamos êxito. Faremos, ainda, um planejamento de vários dias e a previsão é de que, ao longo do tempo, com a lama se estabilizando, mudemos as técnicas e possamos traçar um panorama mais realista. O Corpo de Bombeiros não descarta o encontro de pessoas com vida”, disse o chefe do Estado-Maior da corporação, coronel Erlon Dias do Nascimento Botelho.
O Sistema de Comando de Operações foi fundamental para ganhar tempo e com isso resgatar mais pessoas com vida, afirma o tenente-coronel Flávio Godinho, coordenador da Defesa Civil de Minas Gerais. “Todos os órgãos envolvidos na crise têm uma cadeira naquele centro e isso facilita demais. Por exemplo, houve uma tempestade em que árvores desabaram sobre a rede elétrica. Como tínhamos gente da Cemig no centro, foi automática essa comunicação e a resolução do problema para que as buscas não fossem atrasadas”, exemplifica. De acordo com o oficial, diariamente as ações são coordenadas no centro e ao final do dia há outra reunião para avaliar o que foi implementado.
Uma das primeiras corporações a assumir tanto a área de resgates quanto a coordenação de controle foi a Polícia Militar de Minas Gerais, o que permitiu o sucesso de várias operações de segurança, segundo o comandante-geral da corporação, coronel Giovanne Silva. “Ajudamos a estabelecer os três perímetros de segurança (quente, morno e frio, do mais perigoso para o menos arriscado). Traçamos estratégias para remover a população e mantê-la afastada, até porque havia risco iminente de novos rompimentos. Um dos momentos mais sensíveis foi quando a Vale informou, na madrugada de sábado para domingo, que a barragem que restou no complexo estava em elevado nível, com ameaça de rompimento. Tivemos de proceder a evacuação de quatro bairros de Brumadinho”, disse.
O primeiro piloto a chegar para a coordenação da operação Asas por Brumadinho foi o tenente-coronel PM Carlos Júnior, apenas uma hora e 40 minutos após o rompimento da Barragem B1. “Ajudamos a aglutinar os recursos das forças estaduais e federais. Numa catástrofe como essa, é fundamental lançar todos os nossos recursos e esforços nas primeiras 36 horas, para conseguir resgatar sobreviventes. Usamos inclusive óculos de visão noturna. Conseguimos resgatar pessoas em matas assim”, diz o oficial, com mais de 22 anos de aviação e 4.500 horas de voo.
A primeira força a impedir que em meio ao desespero dos atingidos se instaurassem oportunidades para saques de criminosos foi a Polícia Militar Rodoviária. “Fizemos um planejamento para garantir a segurança dos acessos aos pontos atingidos e aos que são áreas que podem ser afetadas. Com isso, mantivemos a segurança das comunidades, evitando focos de criminalidade, como saques a residências que poderiam ocorrer aproveitando a instabilidade provocada pelo rompimento”, disse o comandante do Policiamento de Trânsito, coronel Ledwan Salgado Cotta.
De acordo com o comandante do Comando de Aviação do Estado (Comave), coronel Rodrigo Sousa Rodrigues, todas as aeronaves disponíveis foram acionadas e deram início ao atendimento ao desastre. “Pela característica do ambiente que ficou em colapso, não era possível o acesso por um terreno que não era exatamente nem líquido nem sólido. As aeronaves passaram a ser equipamentos essenciais, por ter capacidade de se deslocar por ambientes não preparados, podendo pousar nesses ambientes ou pelo menos pairar para transportar equipamentos e pessoal.” O Comave atuou em apoio às atividades dos bombeiros, dando o suporte na Operação Asas por Brumadinho. Esse conjunto é responsável pela atuação de uma verdadeira força áerea, que até ontem coordenou e executou mais de 4.800 pousos e decolagens, em mais de 500 horas de voo.