Antigos moradores garantem que o Rio Paraopeba, um dia, já teve coloração meio amarelada, que, com o tempo, foi ganhando o tom avermelhado do minério. Mas nesses dias dramáticos após a catástrofe da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Grande BH, o curso d’água se tornou vermelho-escuro. Um tom sinistro da morte, um odor terrível de putrefação, um leito inerte do desrespeito pela natureza e pela vida humana.
Das nascentes em Cristiano Otoni ao deságue na represa de Três Marias, onde se junta ao Rio São Francisco, o Paraopeba, em alguns trechos, ainda conserva alguma beleza. Mesmo ferido de morte, segue com sua dignidade golpeada pela mineradora Vale desde o dia 25. Na comunidade do Funil, na cidade vizinha de Mario Campos, onde uma passarela de pedestres corta as águas escuras, muita gente, agora, se debruça, com tristeza, sobre o leito e se questiona se o rio voltará a ter vida rumo ao Velho Chico e ao Oceano Atlântico.
Além da catástrofe que agora dilui a morte ao longo de seu curso, o Paraopeba ainda enfrenta, nas redondezas de Brumadinho, a ação de muitas outras mineradoras, causando degradação e ameaças ao manancial que, em troca, matava a sede de milhares de pessoas em povoamentos ao longo de sua bacia. Irrigava também plantações, agora ameaçadas de morrer secas, bem ao lado de suas margens avermelhadas.
Mesmo com tantos duros revezes, o rio segue seu destino – agora em estado quase terminal. Se haverá salvação, só o tempo dirá, acreditam especialistas. Por enquanto, resta observar e exigir medidas urgentes para garantir a perenidade. Ainda que, em vez de água, hoje o que mais chame a atenção no Paraopeba seja a cor com que serpenteia entre o verde das montanhas e os níveis de poluentes como chumbo, mercúrio, níquel, cádmio e zinco.