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Estado de Minas

'Aquilo ali me deu choque', diz ocupante da caminhonete sobre vídeo que mostra fuga

O operador Sebastião Gomes, que escapou do mar de rejeitos de Brumadinho, precisa de remédios para conseguir dormir, além de ser acompanhado por psicólogo e psiquiatra


postado em 03/02/2019 20:31 / atualizado em 03/02/2019 20:37

 

Dez dias depois do rompimento da barragem B1 da mina do Córrego do Feijão, da Vale, o sobrevivente Sebastião Gomes, de 54 anos, vive um turbilhão de emoções a cada nascer do sol. Na sexta-feira, em entrevista ao Estado de Minas, ele se emocionou ao ver, pela primeira vez, as imagens que mostram sua fuga no desastre, por meio de uma caminhonete. Neste domingo, ele relatou como são os dias posteriores à tragédia. “Eu estou recebendo muitas visitas. Hoje (domingo) mesmo recebi gente de manhã e à tarde. Antes, eu começava a contar e chorava muito. Agora, graças a Deus, já relato os fatos e não me emociono mais”, conta.


De acordo com ele, depois que assistiu ao vídeo divulgado pela TV Band, na última sexta, o baque foi grande. “Aquilo ali me deu um choque, porque mostrou a barragem de frente e eu com a caminhonete pra lá e pra cá. Veio aquela lembrança, como se fosse um choque”, detalha Sebastião Gomes.


%u201CA sensação foi horrível. Eu me vendo ali, correndo pro lado e pro outro. Depois, entrei na caminhonete, eu e meu amigo Elias, e saímos correndo, sem saber para que lado a gente ia%u201D, contou Sebastião Gomes(foto: TV Band e Tiago Rodrigues/EM/D.A Press)
%u201CA sensação foi horrível. Eu me vendo ali, correndo pro lado e pro outro. Depois, entrei na caminhonete, eu e meu amigo Elias, e saímos correndo, sem saber para que lado a gente ia%u201D, contou Sebastião Gomes (foto: TV Band e Tiago Rodrigues/EM/D.A Press)
O sobrevivente recebe apoio de psicólogos e psiquiatras para viver a cada dia. Apesar de ter que se preocupar consigo mesmo, o operador não esquece dos amigos ainda desaparecidos. Neste domingo, ele comemorou o achado do colega Weberth Ferreira Sabino, que, segundo Sebastião, será sepultado nesta segunda. Contudo, o nome de Weberth ainda não aparece como identificado na última lista do Instituto Médico Legal (IML), divulgada pela Polícia Civil.

 

 


Os últimos dias são classificados pelo sobrevivente como “tranquilos”. Ao decorrer da entrevista, ele evita usar tal adjetivo, diante do tamanho do desastre, mas ressalta que, graças a medicamentos, tem conseguido dormir. “Eu consegui dormir ontem (sábado). Agora está tudo mais calmo. Nem estou pensando no trabalho agora, porque não sei quando terei condições psicológicas para voltar”, destaca.


Sebastião deve sua fuga a Deus. Ele é ministro da Eucaristia na Paróquia do Divino Pai Eterno, no Bairro Jardim das Alterosas, em Betim, onde mora. “Na sexta do acidente (25), eu já sabia que no domingo (27) eu teria que fazer uma pregação na igreja. Mesmo com a tragédia, eu fui fazer a pregação. Reuni toda minha família próxima ao altar”, diz.

 

Tsunami de lama

 

Por meio das imagens é possível averiguar que a velocidade da lama e dos rejeitos era de 114km/h. Isso, porque se constata que a avalanche atinge uma pequena lagoa em apenas 13 segundos, percorrendo 413 metros dentro do pátio da empresa. O tsunami de rejeitos desacelera enquanto se desloca, mas, se a mesma velocidade fosse mantida, o distrito de Córrego do Feijão, que fica a 1,85 quilômetro, teria sido atingido em apenas 58 segundos. A Pousada Nova Estância, que fica a 2,5 quilômetros, soterrada depois de 1 minuto e 20 segundos. Em todos esses pontos, a velocidade de reação das pessoas que estavam na região teria de ser muito alta para que alguém conseguisse se salvar. 


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