Brumadinho – A segunda semana útil desde o rompimento da Barragem 1 da Mina do Córrego do Feijão começa hoje e Elismar Ferreira não sabe quando voltará a trabalhar para pagar as contas. Sua renda depende da operação de em uma das quatro areeiras que funcionavam no curso do Rio Paraopeba, na parte mais atingida pelos rejeitos da Vale, que invadiram o manancial desde o início da tarde de sexta-feira.
O rompimento paralisou o trabalho ao longo do rio. São operadores de dragas de areia, pedreiros que prestavam serviço em condomínios e chácaras – que pararam as obras –, e dezenas de agricultores familiares que viviam das hortas. “A gente não tem previsão de voltar a trabalhar. Até agora não recebemos nada do patrão, ele não falou nada, como vai ser o pagamento nosso. Do jeito que está, nem imagino quando vamos voltar”, contra Elismar, que opera dragas de areias há 10 anos. A empresa tem sete funcionários.
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De alto risco, barragem está próxima de área ocupada por lavouras em SalinasMinas tem cinco barragens que acumulam duas classificações de perigoChuva suspende buscas em Brumadinho por risco aos bombeirosTerceira barreira para contenção de rejeitos começa a operar no Rio ParaopebaDuas barreiras instaladas pela Vale começam a operar no Rio ParaopebaEquipes deslocam buscas para o Rio Paraopeba por causa da chuvaPresidente do Instituto Brasileiro de Mineração renuncia ao cargoWalmir Márcio da Silva, que também é pedreiro, começaria uma obra nesta semana. “Eu ia pegar uma reforma, que estava programada para começar este mês e foi cancelada. Estou na expectativa. Vou procurar outra coisa para trabalhar, fazer outra coisa enquanto isso.”
FUTURO INCERTO Os últimos 10 dias no Parque da Cachoeira foram de sustos em sequência. No dia 25, a lama do rompimento da barragem chegou poucos minutos depois à comunidade, destruindo cerca de 30 casas.
A comunidade se uniu e se reúne diariamente no campo de futebol do centro comunitário. Ali são distribuídos cestas básicas e água para os moradores. Muitas casas ficaram até dois dias sem fornecimento de água e luz, já que muitos postes e árvores foram tombados com a chuva, atrapalhando o abastecimento.
O futuro é incerto para os moradores, que estão vivendo de doações e ajuda dos voluntários, e oferecendo o pouco que tem para ajudar uns aos outros. “Esta semana fiquei correndo atrás, ajudando o povo, botando água para gelar, carregando água em função do resgate. Moro com meu pai e minha mãe e minha renda é a única. Tenho filho, pago pensão e não sei como vou fazer neste mês”, lamenta Elismar.
Poluição que não para
A água verde que corre sob o pontilhão da comunidade rural de Alberto Flores se encontra com a lama vermelho-escuro que desce pelo Córrego do Feijão. A reportagem do Estado de Minas visitou ontem o exato ponto onde o Rio Paraopeba recebe a poluição de rejeitos, que continua contaminando o leito 10 dias após o rompimento da barragem da Vale.