(Afonso Borges, produtor cultural) O luto das vítimas do crime ambiental de Brumadinho é permanente. Os filhos pequenos perguntam onde está o pai; ouvem o som das hélices dos helicópteros e tremem; acordam sobressaltados com medo de a lama invadir o quarto. Suas mães e parentes não param de chorar e eles observam, tristes e temerosos, por um amanhã sem respostas.
Parte dessas crianças vai voltar às aulas. O silêncio dará lugar ao ruidoso trinado na sala de aula. O que será dessas crianças sem pai? E suas mães, sem saber se vão enterrar o marido? Ou os pais e mães? A família?
Este é um sentimento que se distribuiu, tornou-se solidário. Todas as crianças de Minas ouvem helicópteros e escondem-se embaixo da cama; dormem sobressaltadas, acordam com o choro da mãe. As vidas paradas.
O ano de 2019 começa, oficialmente, esta semana. Um novo país se configura. Um novo país se reconfigura no sofrimento de tantos. As vítimas de Brumadinho, insepultas, não morreram. Dormem embaixo da lama esperando ser despertadas. Estão todos dormindo. Dormem profundamente.
Rompeu-se, com a barragem de Brumadinho, a nossa tolerância. Mariana atingiu nosso alimento, Brumadinho, nossa alma. É hora de consolidar um elo entre a consciência civil e a responsabilidade empresarial e governamental. Hora de cobrar das autoridades e da Vale que cada um dos corpos seja encontrado nem que ali seja peneirada cada partícula.
Aquele trecho não pode se transformar em um eterno cemitério. Cada uma daquelas famílias merece enterrar seu ente querido. Porque os insepultos de Brumadinho nunca serão esquecidos. Nunca.