Jornal Estado de Minas

Articulação internacional critica 'falta de transparência' da Vale em Brumadinho



A Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale apresentou junto ao Conselho de Administração e ao Conselho Fiscal a “imediata destituição da diretoria executiva da Vale” e a pronta convocação de Assembleia Geral Extraordinária. Os resultados de campo, que levaram a decisão, foram apresentados em coletiva de imprensa na tarde desta terça-feira. A “falta de transparência” foi um dos principais pontos criticados. 

"A confusão de atores e missões institucionais nos territórios afetados pelo desastre foi colocada na reunião. Isso ocasiona alguns problemas críticos para a população”, explicou o advogado Danilo Chammas, um dos representantes do grupo. Segundo o movimento, foi flagrada a presença de funcionários da empresa descaracterizados e designados apenas como “voluntários”, “mascarando a presença da Vale na intermediação da maior parte das demandas apresentadas nos postos de atendimento.”

A iniciativa da empresa de oferecer a familiares de pessoas mortas ou ainda desaparecidas, de modo imediato, a quantia de R$ 100 mil, também foi um ponto abordado. “Causa estranheza que a Vale tenha se negado a formecer uma cópia da minuta do termo pelo qual firma com as famílias afetadas”, pontuou Chammas. Isso porque, segundo o movimento, a missão entende que se trata de um assunto de interesse público.

O movimento também denuncia que ainda há pessoas que não contam com a pronta resposta à perda de moradia, doze dias depois do rompimento da barragem. “Elas permanecem em situação de improviso e sem resposta sobre a perda”, acrescentou.

A falta de “transparência e de compromisso com a verdade” por parte da Vale, segundo a Articulação, não trouxe ao público plano de emergência para o caso de colapso da estrutura de barragem.
Eles questionam a situação da sirene que foi engolida pela lama, os escritórios e refeitórios posicionamos embaixo da barragem e a distruicao do acesso a uma das rotas de fuga.



Criada em 2009, a articulação congrega diferentes grupos, como sindicalistas, ambientalistas, ONGs, associações de base comunitária, grupos religiosos e acadêmicos de seis países; Brasil, Argentina, Chile, Peru, Canadá e Moçambique. 

Conforme a organização, seu objetivo central é “contribuir no fortalecimento das comunidades em rede, promovendo estratégias de enfrentamento aos impactos ambientais e às violações de direitos humanos relacionados à indústria extrativa da mineração, sobretudo os vinculados à Vale S.A.”

Desde o último dia 29, a articulação visitou diversas localidades diretamente atingidas pela catástrofe, conversando com a população, com familiares de vítimas, e também com órgãos públicos envolvidos na prestação direta de assistência às pessoas afetadas.

"Além de prestar solidariedade e apoio às vítimas deste desastre o grupo teve como objetivo principal a observação e registro da atuação da mineradora nos primeiros dias após o rompimento da barragem, considerando a gravidade das violações a direitos humanos, ambientais, sociais e econômicos", disse a Articulação em nota.

Na semana passada, os acionistas críticos vinculados à Articulação entraram na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com um pedido de abertura de inquérito sobre a empresa. A denúncia apontou indícios de manipulação de mercado por ocultamento dos riscos socioambientais dos empreendimentos da empresa, já que nos balanços não constavam provisões para os riscos das barragens.

Diversos movimentos sociais de Brumadinho e de Minas Gerais integram a Articulação dos Atingidos pela Vale, e já haviam alertado a mineradora sobre o risco que as barragens de rejeitos da mineradora representavam para as comunidades locais, dentre elas a barragem em Córrego do Feijão, que entrou em colapso no dia 25 de janeiro. (Com Estadão Conteúdo e Pedro Lovisi)
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