Uma confusão generalizada tomou conta da Rua Sapucaí, Bairro Floresta, Região Centro-Sul de BH, na madrugada desse domingo. Vídeos cedidos por testemunhas à reportagem mostram a ação de guardas municipais: golpes de cassetetes, armas de choque e muito corre-corre de quem tentava fugir da abordagem. Em um deles, é possível ver Millena Calado, de 22 anos, sendo empurrada por um servidor da prefeitura.
Segundo testemunhas, tudo começou por volta das 0h30, quando a Guarda Municipal de Belo Horizonte (GMBH) pediu para que músicos de uma roda de samba parassem com o som. O pedido, de acordo com os ouvidos pela reportagem, foi prontamente atendido. Contudo, instantes depois, duas outras jovens começaram a tocar um instrumento. O ato motivou os presentes a puxar outra música, o clássico “Não Deixa o Samba Morrer”.
Neste momento, um músico envolvido na roda de samba se aproximou para conversar com as garotas. “Um dos guardas pegou esse menino e o levou para a mureta. Todo mundo assustou na hora, porque foi do nada. Eles o puxaram com muita brutalidade, muito agressivo mesmo”, detalha Millena, estudante de teatro.
Como a abordagem aconteceu contra um jovem negro, os presentes acusaram a GMBH de racismo e tentaram argumentar com os servidores diante do ato. “Eu cheguei na Guarda Municipal e disse: 'o que é isso? O que vocês estão fazendo? Isso é desnecessário'. Aí, todo mundo começou a gritar 'racista' pra eles”, conta o jovem Augusto Melo, de 25 anos, namorado de Millena.
Instantes depois, segundo Millena e Augusto, a correria começou. A estudante de teatro relata quando foi agredida.“Um guarda saiu de uma viatura e esbarrou em mim. Eu desequilibrei e caí. Quando eu estava no chão, meu namorado veio para me proteger. Nesse momento, vem um guarda para me bater. (Os golpes) não pegam em mim, mas acertam as costas e o braço do meu namorado”, explica.
No vídeo acima, na altura do oitavo segundo, é possível ver Millena sendo empurrada por um guarda. Para protegê-la, Augusto Melo sofreu escoriações no braço direito e nas costas. Ele pensou em fazer um exame de corpo de delito, mas desistiu por temer pela impunidade. “Está inchado e roxo. Nos próximos dias, pode ser que eu faça o exame”, afirma.
Medo
A situação faz com que os jovens deixem de frequentar a Rua Sapucaí, um dos locais mais tradicionais da noite da capital mineira. Essa é a opinião do artista e motorista de transporte privado, Augusto Melo. “Não estava acontecendo roubo, assalto, não teve assédio, nem briga. Não teve nada que motivasse a ação dos guardas. A gente só estava curtindo”, afirma.
Segundo ele, daqui para frente, só vai compareceu à Rua Sapucaí para frequentar restaurantes e bares localizados ali. “Fico com medo de ir lá. Vou procurar fazer uma programação mais em casa e evitar ir lá. Só se for nos bares mesmo”, diz.
Arrastão
Amiga de Millena Calado, Amanda Sousa estava nas proximidades da Sapucaí no momento da confusão. Ela comia em um estabelecimento comercial próximo, onde percebeu o corre-corre.
Curiosa, ela perguntou a um guarda municipal próximo o que estava acontecendo. Segundo ela, o servidor respondeu que havia acontecido um arrastão provocado por um 'bando de pivetes'.
Posicionamento
Em nota, a Corregedoria da Guarda Municipal informou que vai apurar o caso. Confira na íntegra:
"A Corregedoria da Guarda Municipal de Belo Horizonte informa que tomou conhecimento do episódio ocorrido na noite de sábado, dia 2, na Rua Sapucaí, por meio dos próprios agentes da corporação. Eles tinham sido acionados para auxiliar na ação de desobstrução da via, por se tratar de um evento sem licenciamento e alegam terem sido alvo de objetos lançados pelo grupo ao chegaram ao local.
"A Corregedoria da Guarda Municipal de Belo Horizonte informa que tomou conhecimento do episódio ocorrido na noite de sábado, dia 2, na Rua Sapucaí, por meio dos próprios agentes da corporação. Eles tinham sido acionados para auxiliar na ação de desobstrução da via, por se tratar de um evento sem licenciamento e alegam terem sido alvo de objetos lançados pelo grupo ao chegaram ao local.
Um dos guardas municipais inclusive precisou ser encaminhado à UPA para tratar do ferimento que sofreu na testa, ao ser atingido por uma garrafa. Os fatos já estão sendo investigados e para que ambas as partes possam ser ouvidas é fundamental que os cidadãos que considerem ter sido vítima de eventual conduta inadequada dos guardas municipais entrem em contato com a Corregedoria da Guarda Municipal pelo e-mail cgmbh@pbh.gov.br ou pelo telefone 3246-0053."