Especialista em barragens de mineração, o geofísico americano David Chambers, da Universidade da Califórnia (EUA), afirma que em países úmidos, como o Brasil, as barragens à montante não deveriam nunca ser utilizadas, por causa do alto risco de infiltração. Essa técnica de construção, mais barata e considerada insegura pelos engenheiros, foi utilizada para erguer as estruturas onde houve rompimentos em Mariana (2015) e Brumadinho (em janeiro deste ano).
"Já ficou demonstrado que esse tipo de barragem oferece nível inaceitável de risco de colapso nessas regiões." Ao jornal O Estado de S. Paulo, ele afirma que haverá mais acidentes se a construção de barragens for guiada pela redução de custos.
O rompimento da barragem de Brumadinho é uma surpresa?
Não estou surpreso. E vamos ver mais desabamentos como esse no futuro, se grandes mudanças não forem feitas. O mais importante é que precisamos mudar essa lógica em que o custo determina o modelo e a operação da barragem de rejeitos. A lógica é diferente, por exemplo, nas hidrelétricas, em que a barragem é considerada um bem. Na mineração, é um custo que se tenta minimizar, não um investimento.
E essa lógica existe em países do mundo todo?
No mundo todo é assim.
É comum ter instalações da empresa bem abaixo da barragem, como em Brumadinho?
Normalmente vemos as pessoas trabalhando em instalações acima das barragens, não abaixo, por precaução. Mas isso reflete a confiança da Vale no sentido de achar que a estrutura não ia colapsar.
Os colapsos de barragens vêm aumentando?
Nossas pesquisas mostram que o porcentual de colapsos é o mesmo nas últimas cinco décadas. O problema é que agora temos mais minas do que havia algumas décadas e elas são muito maiores.
O que pode ser feito para elevar a segurança das barragens?
Não podemos trazer o custo para essa equação. A lógica não pode ser como construir uma barragem mais barata.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..