Itatiaiuçu, Barão de Cocais e Brumadinho – O terror vivido com a destruição e o rastro de centenas de mortos que assombrou o Brasil após o estouro da barragem da Vale em Córrego do Feijão, em Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte, espalha o medo entre comunidades vizinhas de diversos empreendimentos minerários estado afora. Nessa sexta-feira, em duas cidades, o temor de que outros reservatórios não estivessem 100% seguros retirou de suas casas quase 400 pessoas, removidas às pressas em operações de emergência coordenadas que envolveram a Defesa Civil e forças de defesa social em Barão de Cocais, na Região Central, e Itatiaiuçu, na Grande BH.
Mas o sentimento de insegurança é muito mais amplo e se espalha por várias regiões de um estado marcado pela mineração, onde milhares de pessoas vivem abaixo de represas nem sempre seguras, de rejeitos ou de água. O Estado de Minas mapeou em mais de 10 cidades empreendimentos que vêm tirando o sono de seus vizinhos, especialmente desde a última catástrofe. Algumas delas somam mais de 20 depósitos de restos de mineração em seus limites. Clique na imagem para ampliar o mapa:
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De manhã, quando um posto de comando foi montado pela Defesa Civil de Minas Gerais para coordenar as ações de evacuação das famílias, o clima era de desinformação, até que as notícias começaram a chegar com mais clareza. A ArcelorMittal Mineração Brasil informou que a tragédia de Brumadinho gerou uma mudança nas referências do projeto geotécnico da barragem da Mina Serra Azul, e nova avaliação com uma consultoria internacional contratada pela própria empresa apontou mudança de estágio de segurança, de 1 para 2, o que exigia a saída das famílias da mancha de inundação da barragem.
“Estou tendo até febre.
Mais tarde, o presidente da ArcelorMittal Mineração Brasil, Sebastião Costa Filho, chegou a Itatiaiuçu e garantiu que a saída das pessoas de suas casas era necessária. “As alterações vieram por meio de auditorias externas, que levaram em consideração determinadas circunstâncias que foram aprendidas após o último rompimento, que até então não fazia parte desse contexto.
Essa situação fez com que 54 famílias fossem obrigadas a sair às pressas de seus imóveis em Pinheiros, totalizando cerca de 150 pessoas. “Daqui para a frente, estamos trabalhando com novos parâmetros. Vamos executar uma série de testes na barragem e assim que tivermos a garantia de que ela está 100% segura, de que não existe nenhum risco para a comunidade, retornaremos com as pessoas para suas residências”, disse Costa Filho.
O executivo também enfatizou que todas as preferências da comunidade serão estudadas e garantiu que quem quiser novas casas fora da área de risco será atendido pela Arcelor. “Vamos oferecer toda possibilidade de mudança. O que o residente quer? ‘Eu quero vender meu imóvel. Eu quero trocar meu imóvel, eu quero morar na residência, eu quero ir para outro local...’, essas possibilidades vão ser estudadas. A empresa assume o compromisso de tratar essas pessoas com a dignidade que merecem”, completou.
Prevenção
Os 239 moradores retirados das imediações da Mina Gongo Soco, da Vale, em Barão de Cocais, e os 150 habitantes de Itatiaiuçu removidos das imediações da barragem da ArcelorMittal, na madrugada de ontem, só poderão retornar às suas casas após a constatação técnica de que as estruturas vizinhas não representam risco. A informação foi dada pelo tenente-coronel Flávio Godinho da Defesa Civil.Numa escala crescente de 1 a 3 de risco, a barragem da Vale subiu do nível 1 para o nível 2. Segundo Godinho, ao mesmo tempo em que empresa contratada pela mineradora não quis atestar a estabilidade da barragem, técnicos da Agência Nacional de Mineração (ANM) que estiveram em Barão de Cocais se pronunciaram pela evacuação imediata, determinando que se adotasse o nível 2 de atenção.
Já no caso de Itatiaiuçu, a própria ArcelorMittal se antecipou e solicitou a evacuação dos moradores nas imediações da barragem, como forma de prevenção. Não houve, como no caso da Vale, recusa de técnicos de atestarem a estabilidade da barragem da Mina Serra Azul em Itatiaiuçu.
Resgate em Brumadinho
Na sexta-feira, 15º dia de buscas em Brumadinho, foi o primeiro desde a tragédia em que os bombeiros não conseguiram localizar nenhuma vítima. Com o passar do tempo, as condições do ambiente tornam a tarefa mais difícil, como já havia antecipado o tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros. Balanço divulgado pela Defesa Civil no início da noite indicou o mesmo número de óbitos – 157, com 151 identificados – e 165 desaparecidos, dos quais 42 funcionários da Vale e 123 terceirizados e moradores da comunidade.
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