O resgate dos corpos dos 154 passageiros que morreram no desastre do voo Gol 1907 – o Boeing 735 que colidiu no ar com um Legacy e caiu em mata fechada no Mato Grosso – em 2006, tinha sido a maior experiência com salvamentos do coronel Edmilson Leite Guimarães Filho, o coronel Leite, que ganhou projeção também com os programas de sobrevivência do canal pago Discovery: Desafio em Dose Dupla Brasil (2 temporadas) e Desafio Celebridades. Como integrante da equipe de resgate da Força Aérea Brasileira (FAB), no Rio de Janeiro, o coronel foi agora acionado para a Operação Brumadinho, uma tragédia que já supera o número de vítimas do voo da Gol, com 165 corpos já resgatados, numa conta que não para de crescer. Seu chamado foi feito no dia 25, quando se rompeu a Barragem 1 do complexo minerário de Córrego do Feijão, da Vale. Como estava fora da sede, não pôde atender de imediato, passando a operar anteontem, na segunda fase dos trabalhos em Brumadinho, emprestando sua expertise no trabalho de resgate da pior tragédia socioambiental brasileira. Natural de São Luiz (MA) e criado em Fortaleza (CE), Leite ingressou na Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar), em Barbacena. Casado, é pai de três meninas e um menino. “A oportunidade de mostrar tudo que aprendi com a FAB no gênero de sobrevivência surgiu a partir de uma indicação para participar dos testes. Foi aí que comecei a gravar no Discovery”.
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Quais são os maiores perigos e desafios desse tipo de operação?
Numa catástrofe dessa natureza, vários organismos se unem para atender a essa emergência. O recurso aéreo aumenta e a coordenação do tráfego das aeronaves é extremamente importante. Nós (FAB) viemos para Brumadinho com uma unidade de controle de tráfego aéreo para coordenar só esse voo local feito por aeronaves de asa rotativa.
Qual é a diferença de atuar num desastre aéreo em área de floresta, como o Voo 1907 da Gol, em 2006, na Serra do Cachimbo, e num rompimento como o de Brumadinho?
Para os homens de resgate esses teatros de operações são diferenciados. A selva é muito diferente desse tipo de desastre. A selva têm árvores muito altas e as temperaturas são elevadas. Nesse rompimento encontramos outros fatores, de alguma forma até mais complicados. Principalmente devido ao solo. Temos muita lama. A minha primeira impressão foi diferente das imagens veiculadas pela mídia.
Como é operar sobre os rejeitos e a lama?
Para o desembarque dos bombeiros a gente precisa orientar. Se ele (bombeiro) pular da aeronave para o solo, afunda até a cintura na lama. Acaba precisando ser resgatado e impedindo o desembarque de mais bombeiros. Tem de descer como se fosse numa escada. Na lama, você perde o seu apoio. Ela escorrega e fica como se fosse pegar um sabonete no chuveiro. A pessoa que está dentro da lama não consegue fazer força para erguer outra, porque se a elevar, ela acaba afundando mais.
Qual é a sensação para alguém do resgate saber que cada vez há menos chance de trazer alguém com vida de volta para a sua família?
Nos trabalhos do acidente do voo da Gol 1907, aprendi que é muito bom você trazer alguém de volta com vida para a sua família e essa pessoa te abraçar e dizer: “Que bom que você veio”. Mas também é muitíssimo importante para a família a gente poder entregar o corpo do seu parente, para que possam se despedir dele de maneira honrosa, e a vítima ir descansar em outra dimensão.
Qual foi a sua primeira impressão ao ver a abrangência dessa tragédia?
A minha primeira impressão não foi de grandes proporções, de dimensão. O que me impressionou foi a força desprendida por esse rompimento. O quanto essa força foi destruidora. O quanto essa força conseguiu devastar o meio em que vivemos e de uma maneira tão rápida. Só estando aqui para sentir realmente as proporções que esse desastre tomou.
Qual a lição que as pessoas podem tirar dessa catástrofe?
Prepare-se. Esteja sempre preparado para tudo. Prepare-se para uma aventura, para uma viagem, para a possibilidade de que as coisas possam dar errado. Pode ser uma coisa legal, divertida, que vai ter foto. Mas tenha essa consciência e se prepare para as coisas que podem dar errado.