Todas as oito barragens que o setor de gestão de risco geotécnico (GRG) da mineradora Vale S.A. considerou dentro da Zona de Atenção (Alarp Zone) em outubro de 2018 e que se encontravam sob “risco de rompimento”, segundo avaliação do Ministério Público de Minas Gerais, tinham fator de risco considerado igual ou maior que o da Barragem 1, que se rompeu em Brumadinho em 25 de janeiro, deixando 166 mortos e 155 desaparecidos. As informações constam de relatórios anexados à Ação Civil Pública movida em 31 de janeiro contra a mineradora Vale pelo MP, que mostra 10 barragens consideradas de risco, duas delas já destruídas na catástrofe. O valor da causa foi estimado pelo MP em R$ 500 milhões. No último dia 29, a Vale anunciou o descomissionamento de nove barragens no estado com alteamento a montante – método mais barato e menos seguro –, entre elas Forquilha I, II e III e Capitão do Mato, que integram o processo.
Leia Mais
Pagamento da Vale por Brumadinho provoca brigas em família pelo dinheiroMP inclui mais duas barragens entre aquelas com risco significativo de rupturaApós reclamação, Vale vai liberar estrada que passa por dentro do complexo Córrego do FeijãoMais de 30 horas depois, Vale envia mais respostas sobre BrumadinhoVale é 'joia brasileira' e não pode ser condenada por um acidente, diz presidenteSociedade civil cria gabinete de crise para Brumadinho e critica ZemaChuva pode continuar em BH e restante do estado até semana que vem Após 166 mortes em Brumadinho, meio político se mobiliza para investigar barragensJá o Dique B, em Nova Lima, apresenta risco de rompimento cinco vezes maior que o da Barragem 1 de Brumadinho, com seus 330 mil m³ de rejeitos podendo atingir 150 pessoas ao longo de 87 quilômetros dos municípios de Nova Lima, Rio Acima, Raposos, Sabará, Belo Horizonte e Santa Luzia, de acordo com documentos obtidos pelo MP. Os prejuízos são estimados em R$ 5,6 bilhões. Pelos estudos, o galgamento, ou seja o transbordamento do material reservado pela barragem é a principal ameaça. Segundo os estudos do GRG, isso ocorre quando há a passagem de água sobre a crista da barragem, “levando-a à ruptura por erosão no pé da barragem”.
Além das instruções para descomissionamento da Barragem 1, Forquilha III e Dique B, o GRG fez outras recomendações. A barragem de Laranjeiras, em Barão de Cocais, teve indicada a revisão de “seus riscos de erosão interna por meio de processos de filtragem interna e caracterização das fundações”. O represamento de Menezes II, em Brumadinho, também no Complexo Paraopeba, teve detectado um soterramento de duto que funciona como extravasador, com necessidade de “instalar um filtro na saída interna da drenagem”.
Em Nova Lima, a Barragem Capitão do Mato teve indicação de uma “forma alternativa de ampliar a capacidade de descarga da estrutura”.
Em nota, a Vale informa que “adota os parâmetros mais modernos de segurança e monitoramento disponíveis hoje no mercado” para acompanhar a situação das barragens. Ainda de acordo com a mineradora, todas as barragens listadas pelo MP “estão devidamente licenciadas e possuem seus respectivos atestados de estabilidade vigentes”. Ressaltou também que “os laudos de segurança são atestados por empresas especializadas e independentes”.
Quanto às comunidades a jusante das barragens pontuadas pelo Ministério Público, a Vale disse que todas essas represas “possuem um Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM)”. Segundo a empresa, há diversas ações que fazem parte da gestão de segurança, entre elas a implantação de sirenes, cadastro dos moradores, execução de auditorias externas e revisões periódicas por empresas especializadas e adoção de um sistema de videomonitoramento.
FISCALIZAÇÃO No mesmo documento em que detalha os relatórios do setor de gestão de risco geotécnico (GRG) da Vale, o Ministério Público afirma que “o fato mais assustador foi a informação de que as barragens da Mina Córrego Feijão possuíam laudos que atestavam sua estabilidade e segurança, conforme se nota de informação extraída diretamente da página da Fundação Estadual de Meio Ambiente – Feam”. Em nota, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) informou que suspendeu, em 5 de fevereiro, as atividades nas oito barragens apontadas como em risco no estado. De acordo com a pasta, a medida ocorreu logo depois de o MP repassar ao órgão o teor da ação. A Semad informou, ainda, que cabe ao governo do estado “a fiscalização dos aspectos socioambientais desses empreendimentos”, enquanto a segurança diz respeito à Agência Nacional de Mineração (ANM).
Número maior
Aumentou para 10 o número de barragens em risco severo de rompimento em Minas Gerais.