Brumadinho, Nova Lima, Itabirito e Congonhas – Diante da tragédia que provocou o rompimento da Barragem 1 da Vale em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte, moradores das regiões mais afetadas pelo vazamento da lama de minério fazem planos para deixar suas casas, o que pode representar uma debandada nas comunidades próximas ao complexo de mineração.
O desejo de partir de Córrego do Feijão e Parque da Cachoeira se mistura à decepção de quem já havia colocado imóveis à venda e, agora, percebe que terá ainda mais dificuldade de achar quem os compre. O medo de que a catástrofe se repita leva à mesma decisão de sair de perto das barragens moradores de Nova Lima, também na região metropolitana da capital, e Congonhas, na porção Central do estado.
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Cercado de montanhas e de um verde bucólico, de um lado; e por barragens do complexo Maravilhas, da Vale, de outro, o condomínio de luxo Vale dos Pinhais, em Nova Lima, também passou a enfrentar o dilema da desvalorização imobiliária. Lotes à venda não chamam a atenção de compradores como antes, e os proprietários bem-sucedidos na empreitada se viram forçados a aceitar proposta de compra de lotes de 2.300 metros quadrados com desconto de pelo menos 25% em comparação aos valores pagos no ano passado.
Terrenos ofertados a R$ 180 mil em 2018 foram arrematados nos últimos meses por R$ 135 mil.
De 157 lotes do condomínio Vila dos Pinhais, há cerca de 60 casas construídas e em obras, das quais 30 ocupadas por pessoas que vivem no local. A outra parcela é de proprietários que usam os imóveis nos fins de semana. A síndica Maria do Carmo Ferreira diz que os condôminos tentam negociar uma saída. “Temos cinco ou seis casas grudadas nas barragens. Por que a tecnologia não chegou a uma relação mais sustentável da exploração, sem as barragens?”, questiona.
SEM CONDIÇÕES
Em Congonhas, moradores têm medo de se expor e revelam, sob condição de anonimato, já ter visto vizinhos fecharem a casa e ir embora. Caminhando pelas ruas Alfredo Félix Melion e Maria José C.
A depender do imóvel e do local, aluguéis de padrão popular em Congonhas estão na faixa de R$ 500 a R$ 800 por mês. Outra moradora da cidade, que se mostra convicta de estar a salvo de uma tragédia como a de Brumadinho e Mariana, confessa: “Não compraria um imóvel aqui”, referindo-se ao Bairro Cristo Rei.
"Acabou a graça do Feijão"
É geral o sentimento de tristeza com a perda da qualidade de vida de que desfrutava a população nos distritos de Brumadinho afetados pela tragédia do vazamento de lama da Vale. O comerciante Odilon Alves, de 61 anos, mora há 10 no Parque da Cachoeira, bairro que acumula a maior quantidade de danos materiais pela passagem dos rejeitos da Mina Córrego do Feijão. Dono de uma loja de material de construção, ele viu as vendas praticamente caírem a zero e agora pretende se mudar para o interior. “Saí de Belo Horizonte em razão da violência e agora, aqui, acabou o sossego.
Com a casa à venda desde o ano passado, a faxineira Norma Auxiliadora, de 56, já tinha a intenção de sair do Parque da Cachoeira, mas agora o desejo de se mudar o mais rápido possível cresceu. “Depois que estourou a barragem, aí que fiquei mais doida. Minha casa trincou e agora desvalorizou. Perdemos a confiança nisso aqui. Pode haver contaminação, a gente não sabe. Aqui tinha uma lagoa onde a gente pescava e uma cachoeira pequena. Agora está tudo debaixo da lama”, conta ela. Mesmo com a perda do valor, ela quer vender depressa o imóvel. A intenção é seguir para o Norte de Minas, para viver perto da filha.
Em Córrego do Feijão, o sentimento de muita gente é semelhante. O carpinteiro João Edivo da Silva, de 67, diz que desistiu de viver na comunidade.
Nascida no Córrego do Feijão, Adneia Vieira, de 31, está vendendo a casa que é dela e das irmãs, onde morava a mãe, já falecida. “Antes eu ainda gostava muito de passar o fim de semana. Mas agora, com tudo destruído, eu não tenho nem coragem de ver como ficou. Eu perdi uma sobrinha que trabalhava na Nova Estância (pousada soterrada pela lama) e o padrinho da minha filha. Choro o tempo todo. Não há clima para voltar e não sei se alguém vai querer comprar a casa num lugar desse”, diz ela.
“Minha esposa trabalhava na Nova Estância e saiu ao meio-dia para dar almoço ao nosso filho.
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