Jornal Estado de Minas

Moradores de Nova Lima vivem noite de pânico com sirene de barragem

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Um alerta na noite de ontem deixou em pânico moradores de condomínios em distrito de Nova Lima e reacendeu nas famílias que moram próximas a barragens de minério de ferro o medo de uma nova tragédia como a de Mariana, em 2015, e a de Brumadinho, há menos de um mês. Cerca de 200 pessoas de uma área próxima a uma barragem da Vale em São Sebastião das Águas Claras, conhecida como Macacos, foram obrigadas a deixar suas casas às pressas. Moradores e turistas relataram ao Estado de Minas momentos de desespero na tentativa de chegar aos pontos altos do distrito de Nova Lima. Nas estradas de acesso a Macacos, trânsito intenso de pessoas deixando a região de carro.

O risco desta vez veio da Barragem B3/B4 da Mina Mar Azul, da Vale, com aproximadamente 3 milhões de metros cúbicos de rejeitos e construída com estrutura a montante. Em nota, a mineradora informou que acionou o nível 2 do Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM) para a barragem B3/B4 da Mina Mar Azul. “A decisão é uma medida preventiva e se dá após a revisão dos dados dos relatórios de análise de empresas especializadas contratadas para assessorar a Vale. Cabe ressaltar que a estrutura está inativa e essa iniciativa tem caráter preventivo”, informou a mineradora.

O tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros, informou que 49 casas que estavam no plano de emergência foram evacuadas. “Sirenes foram acionadas, conforme o plano de emergência.
O acionamento da sirene ocorre devido à elevação ao nível 2 de risco”, explicou.

O ponto de encontro dos moradores na noite de ontem foi o Centro Comunitário de Macacos, na Rua Dona Maria da Glória, que fica a 200 metros da Igreja do distrito. O local ficou lotado de pessoas da região e turistas, que tentavam encontrar uma rota segura para deixar Macacos. Sob forte chuva, que atingiu a cidade desde o início da tarde, muitos motoristas se arriscaram em algumas vias. Turistas que estavam no distrito para curtir o fim de semana relataram correria em pousadas no momento do alerta. A estudante Fernanda Gabriela Lima de Faria, de 22 anos, estava desde a sexta-feira em Macacos e teve de deixar às pressas o local após ser informada por funcionária de pousada. “Estava descansando no momento. Na hora, todos apavoraram e o trânsito agarrou.
Tinha policiais militares tentando resolver e não conseguiam.

Deixamos o carro e subimos para o ponto de apoio”, relatou ao EM. “Estou achando muito perigoso, meu coração está disparado. É uma coisa que a gente nunca imagina pela qual passaria”, desabafou.
A doméstica Sirlene Martins, de 37, disse que o alerta sonoro para deixar as casas informava que se tratava de um caso real de risco, reforçando a obrigatoriedade de deixar as casas. “Algumas pessoas estava desacreditadas e acabaram voltando para suas casas. Alguns turistas, desesperados, perguntavam como voltar para BH sem ter de passar pelo trecho bloqueado pela PM”, disse. Sirlene criticou a falta de informação, que deixou vários moradores de áreas mais pobres da região na chuva sem saber para onde ir. “Estamos aqui, ilhados, sem saber o que aconteceu e o que fazer”, afirmou.
Muitos moradores questionaram ainda a eficácia das sirenes, que não informavam para onde deveriam ir.

O comerciante Paulo Gonçalves de Melo, dono de uma distribuidora de gás e morador há 40 anos de Macacos, disse que depois do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, a população local começou a ser informada pela Vale sobre eventuais alterações em barragens. “Agora é que eles estão passando para a população uma coisa que estão escondendo há muitos anos: de que existe o perigo”. Ele foi transferido de táxi para um dos hotéis de BH reservados para os moradores. “Minha raiz está aqui, minha família e meus amigos estão aqui e ter de sair de uma hora para outra é triste”, desabafou.

Turistas que estavam no distrito para curtir o fim de semana relataram correria em pousadas no momento do alerta. A estudante Fernanda Gabriela Lima de Faria, de 22 anos, estava desde a sexta-feira em Macacos e teve de deixar às pressas o local após ser informada por funcionária de pousada. “Estava descansando no momento. Na hora, todos apavoraram e o trânsito agarrou. Tinha policiais militares tentando resolver e não conseguiam. Deixamos o carro e subimos para o ponto de apoio”, relatou ao EM. “Estou achando muito perigoso, meu coração está disparado.
É uma coisa que a gente nunca imagina pela qual passaria”, desabafou..

 

 

Proibição da ANM


Agência Nacional de Mineração (ANM) vai propor uma resolução para acabar com todas as barragens a montante até 2021. Atualmente, há 84 barragens desse tipo em todo o país, das quais 43 são classificadas como de alto dano potencial – quando o rompimento ou mau funcionamento acarreta perda de vidas humanas e danos sociais, econômicos e ambientais. O modelo a montante era o mais comum nas décadas de 1970, 1980 e 1990, por ser um método mais barato, reconhece a ANM. A proposta de resolução divulgada pela ANM prevê que as mineradoras façam o descomissionamento ou descaracterização de suas barragens a montante até 15 de agosto de 2021. O texto foi divulgado na sexta-feira e deve ser publicado na edição de amanhã do Diário Oficial da União 

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