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Estado de Minas

Vistoria não libera imóveis ameaçados em Brumadinho

Cinquenta laudos foram emitidos - entre os que atestam segurança ou não - mas o prazo de retorno dos que estão vivendo em hotéis há mais de 20 dias continua indefinido


postado em 20/02/2019 06:00 / atualizado em 20/02/2019 08:47

Equipes inspecionam construções que restaram, mas volta de moradores depende de uma série de fatores(foto: Edésio Ferreira/Em/D.A press)
Equipes inspecionam construções que restaram, mas volta de moradores depende de uma série de fatores (foto: Edésio Ferreira/Em/D.A press)


Brumadinho –
“No dia em que a barragem arrebentou, os bombeiros e policiais vieram até as casas pedindo para as pessoas saírem. Eu fiquei quieta, fiquei escondida aqui. Estava presa na minha própria casa, parecia que eu era uma bandida fugitiva.” Josefa Evangelista Braga, de 38 anos, felizmente não chora a perda de familiares na tragédia provocada pelo rompimento da represa de rejeitos da Vale, mas perdeu a liberdade e a tranquilidade de viver em Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ela se mudou para a cidade nos anos 2000, com o intuito de fugir do aluguel em Itabirito (na Região Central). Hoje, está em uma das duas casas ainda ocupadas da rua onde vive, com três filhos e o marido, a cerca de 50 metros de onde a onda de rejeitos carregou o que encontrava pela frente. Os demais vizinhos esperam os trabalhos de órgãos de Defesa Civil do estado e de Brumadinho, que vistoriam imóveis para emitir laudos de segurança. Mas nem os que forem liberados poderão ser reocupados, já que isso ainda dependerá da elaboração de um novo plano de emergência pela mineradora, atrasando ainda mais o sonho da retomada da rotina.


Já são 254 solicitações de vistoria em Córrego do Feijão, 155 delas atendidas. Cinquenta laudos foram emitidos – entre os que atestam segurança ou não – mas o prazo de retorno dos que estão vivendo em hotéis há mais de 20 dias continua indefinido. O capitão Júnior Alves, diretor de Respostas a Desastres da Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil de Minas Gerais (Cedec/MG), explica que 97 pessoas – o que corresponde a 74 famílias – estão em casas alugadas ou em hotéis custeados pela Vale depois do rompimento da barragem. Outras 80 – ou 36 famílias – estão abrigadas em casas de parentes ou amigos.


Até quando, ninguém sabe. Até porque a volta depende, além da Vale, de avaliações de resgatistas e policiais militares. “Hoje, na reunião do gabinete de crise, ficou acertado que a Polícia Militar, a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros precisam autorizar a volta ao local, pois há alguns riscos”, explicou o representante da Cedec. Segundo ele, a Vale precisa repassar qual a situação da represa que resiste na Mina Córrego do Feijão e apresentar um novo plano de emergência em caso de novo acidente. Além disso, nas áreas em que bombeiros ainda fazem buscas por vítimas, é preciso avaliar se o retorno trará impactos para o trabalho. Finalmente, como a PM faz vigilância para evitar saques em locais que foram evacuados, não será possível liberar o acesso a apenas alguns dos imóveis, o que dificultaria o controle.


“Não tem como prever quando vai acontecer o retorno para as casas. Estamos sendo cautelosos: nosso maior medo é permitir a volta dessas pessoas e precisar retirá-las novamente por algum motivo. Se é para voltar, que seja em definitivo”, acrescentou o capitão. Ele adianta que o novo plano de ação da Vale considera que um eventual rompimento atingiria o mesmo trajeto feito pela lama – com pequenas alterações. “Acreditamos que quem não foi afetado da primeira vez não estará suscetível”, informou.


Entretanto, quase toda a rua de Josefa foi esvaziada, e assim continua. Apenas ela e o operador de máquinas Wagner Rogério, de 43, continuavam lá até a tarde de ontem. “A Vale ofereceu hotel para nós, mas eu não tenho interesse. É minha casa, meu investimento e daqui eu não saio. A Defesa Civil veio a nossa casa no último sábado. Eles fizeram vistoria e medição, e disseram que estamos em uma área de risco”, contou a moradora. Com o impacto da lama, o muro rachou. Na casa, nada foi afetado, pelo menos visualmente. Mas, eles têm medo dos riscos a longo prazo: “Quando o tsunami chegou, a terra tremeu.”


O desastre deixou um rastro de 169 mortes comprovadas, mas o total de vítimas pode passar de 300. Isso porque 141 pessoas continuam desaparecidas na lama. Josefa, com seus parentes correram em direção a um ponto alto da cidade e conseguiram se salvar.

 

Itabira terá visitas a 5,2 mil moradias

 

Depois das tragédias em Mariana (2015) e em Brumadinho, Itabira, na Região Central do estado, se mobiliza para garantir a segurança de 5,2 mil famílias. A partir do dia 27, em parceria com a Defesa Civil Municipal, a mineradora Vale promete desenvolver um trabalho de “porta em porta” a fim orientar moradores sobre como agir durante em um eventual rompimento de barragens de rejeitos. A informação foi divulgada ontem pelo gerente-executivo do Complexo Itabira e Água Limpa, Rodrigo Chaves, em reunião ordinária do Legislativo que lotou o plenário e terminou com duas pessoas conduzidas à delegacia por “desacato” aos vereadores, como explicou o presidente da Câmara, Heraldo Noronha Rodrigues (PTB). O município tem 15 barragens cadastradas na Agência Nacional de Mineração (ANM), das quais cinco próximas de núcleos urbanos, e tem estruturas entre as maiores do país, como a de Itabiriçu, que junto das de Pontal, Rio de Peixe e Conceição totaliza 401 milhões de metros cúbicos de rejeitos.


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