“A vida aqui era um paradeiro. Galinha, cachorro e horta. Hoje (ontem), estourou uma bomba. De repente, apareceu o pessoal da Vale e estou no mesmo desespero das pessoas debaixo das barragens que podem se romper que vi nesses meses todos. Temos até as 16h para deixar nossas casas com o que pudermos carregar”. O desabafo, nervoso, de quem esfrega os dedos enquanto reúne o que pode de roupas e utensílios para evacuar sua casa antes de uma avalanche de rejeitos de minério de ferro, é da dona de casa Josiane Cristina da Silva, de 38 anos. Ela, o marido e o filho adolescente, de 17, estão entre as 40 pessoas da Vila do Peixe, em Nova Lima, um pequeno aldeamento de casas do século 19 que abriga funcionários da mineradora AngloGold Ashanti, que precisou ser evacuado ontem devido ao risco de rompimento da Barragem de Vargem Grande, da Vale. Outras 60 pessoas também tiveram que deixar suas casas no mesmo município, segundo a Defesa Civil.
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Além das pessoas desalojadas para casas de parentes e hotéis em Belo Horizonte, Ouro Preto e Congonhas, segundo a Vale, muitos que estavam no caminho da devastação em condomínios de luxo e comunidades rurais procuraram guarida em outras áreas.
As equipes da mineradora Vale, contando com ambulâncias, resgate animal, engenheiros para explicar sobre o plano de evacuação, vans e ônibus para transporte de desalojados, se espalharam para as áreas ameaçadas nos três municípios. Desde portarias de condomínios elegantes a vielas de vilarejos, esses comboios de vans, ônibus e caminhonetes ofereciam hotéis e pousadas custeadas pela gigante da mineração. Animais que habitam as residências na zona vulnerável também seriam recolhidos e tratados, de acordo com a assessoria da empresa.
Na comunidade de Vila do Peixe, onde 40 pessoas foram evacuadas, o desespero ao longo do dia foi grande. Pais e filhos removiam o que podiam de seus armários, cômodas e arcas tentando equacionar o que fosse possível de ser transportado em seus carros pessoais, apenas para se verem depois tentando compactar tudo em porta-malas e no interior dos veículos, até terem de se resignar e aceitar que muito seria deixado para trás.”Moro aqui há 20 anos e as coisas a gente traz aos poucos, nunca imagina que vai ter de correr com o que precisa, escolhendo o que deixar para trás.
Já a dona de casa Josiane Cristina da Silva, de 38, moradora da mesma comunidade, não conseguia disfarçar a aflição. “Meu filho de 17 anos e eu viemos correndo para ajudar meu marido a juntar as coisas, mas a gente vê que muito do que é nosso vai ficar para trás”, lamenta, enquanto empacota o que pode para transportar nos ônibus fretados da Vale. “Vão ficar muitos móveis, utensílios, lembranças. Não tem como levar tudo e não sei nem se vai dar para vir tirar depois não. Meu marido e eu vamos embora juntos.
Enquanto o vilarejo de casas de madeira e coloniais onde operam as plantas das minas da mineradora AngloGold eram evacuadas, com pessoas tensas, carregando seus carros e ônibus mirando um local seguro em caso de rompimento, o destino de vários animais, como galinhas e gansos não estava ainda muito claro. Dois cãezinhos da raça pinscher, por exemplo, ficaram trancados numa das casas. Segundo a vizinhança, os donos estavam viajando, de férias, e os animais eram alimentados por vizinhos, que deveriam recolhê-los.
Segundo a mineradora AngloGold Ashanti, nenhuma área operacional da empresa foi afetada e não haverá impacto na produção. “Os empregados do Sistema Hidrelétrico Rio de Peixe ficarão em casa, com seus salários sendo pagos”, informou empresa, explicando ainda que o fornecimento adicional de energia será feito Cemig. *Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho.