Moradores e líderes comunitários de áreas rurais de Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, estão reunidos, na manhã deste domingo (24), para discutir questões econômicas, viárias e sociais que causam sérios problemas à vida de cerca de 1 mil famílias, desde o rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, que completa um mês amanhã (25).
“Os impactos são muitos desde a tragédia – do estado precário de acesso à sede do município, o que transformou a viagem de uma hora de ônibus em três horas e meia, à falta de informações oficiais”, diz o presidente da Associação Comunitária de Suzana (Amocos), Gustavo Morais, representante de sete localidades: Suzana, Chácara, Padre Antônio, Samambaia, Campinho, Barreiro de Cima e Barreiro de Baixo.
O encontro é fruto da parceria com outras associações e a organização não-governamental Abrace a Serra da Moeda. O objetivo da reunião é formalizar um documento com todas as reivindicações dos moradores, comerciantes, pequenos produtores, donos de pousadas, sitiantes e outros e promover uma audiência pública com as demandas das comunidades e apresentá-las ao Ministério Público, Defensoria Pública, governo do estado e demais órgãos responsáveis.
“Queremos mostrar nossos problemas. Há muita gente falando em nosso nome, incluindo movimentos que sequer conhecemos ou nos conhecem. Ajudar é diferente de protagonizar”, afirma Morais, certo de que, embora o município tenha sido vítima de uma tragédia com muitos mortos e desaparecidos, “Brumadinho não morreu, Brumadinho está vivo”.
O presidente da Amocos explica que Brumadinho tem cinco distritos, estando três deles impactados pelo rompimento da barragem da mineradora Vale. “Aqui na região de Suzana e demais comunidades rurais, estamos no distrito de Piedade do Paraopeba, mais perto da Serra da Moeda e à montante da mina do Córrego do Feijão. Para chegar aqui, quem se encontra na capital pode vir pela rodovia BR-040, sem problemas”, informa Morais, esclarecendo que o grande gargalo está na ligação com a sede municipal, que está interditada devido à queda de uma ponte. “Quem tem carros se vira, embora os trechos sejam perigosos, mas os mais pobre passam aperto no transporte coletivo”, observa.
ILHADOS “Os alunos da escola não precisam se deslocar para outras áreas, mas os professores que vêm da sede municipal estão gastando três horas e meia de ônibus. Antes saíam às 7h e agora às 4h50. Além disso, há entraves para a saúde, pois a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) fica perto da Estação do Conhecimento”, diz Morais.
Já a cadeia produtiva está afetada com muita intensidade. “Na nossa região, há agricultores de produtos orgânicos, pequenos negócios, que sofreram os impactos, além de comércio, pousadas e outros pequenos empreendimentos. Estamos ilhados e isolados.”
A reunião é fruto da parceria entre a organização não-governamental Abrace a Serra da Moeda, Amocos e associações comunitárias de Campinho, Moradores do Vale do Paraopeba, Marques e Marinho e tem lugar na Escola Municipal Josias José Araújo (Escola do Palhano).
A advogada e integrante do Abrace Serra da Moeda, Beatriz Vignolo, ressalta os efeitos da interdição da estrada à sede municipal. “Há diversos moradores do interior de Brumadinho sofrendo com os impactos desse desastre-crime da Vale, mas não estão sendo ouvidos pelas instituições envolvidas na reparação de danos. Disponibilizaram na semana passada uma estrada por dentro da mina da Vale extremamente perigosa. A outra opção é desviar pela BR-040 e 381, o que aumenta 44 km no deslocamento”.
Denunciando também que os moradores das localidades não foram ouvidas, Beatriz afirma que as associações, entidades ambientais atuantes em Brumadinho e comunidades em geral foram desconsideradas nas tratativas de reparação de danos emergenciais” – daí a necessidade de apresentar uma pauta de reivindicações às autoridades.