Brumadinho - “Não foi fatalidade nem acidente. Foi crime. O lucro não vale a vida”. Essa é uma das dezenas de faixas erguidas por familiares das vítimas do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Usando roupas brancas, centenas de pessoas se reuniram em uma ponte da cidade para prestar homenagens aos parentes e amigos mortos no último dia 25 de janeiro. Durante o ato, balões brancos foram levados pelos moradores e uma chuva de pétalas foi jogada de um helicóptero. O Corpo de Bombeiros, as polícias Civil e Militar (PM) e outros órgãos que participaram da operação de resgate foram aplaudidos.
Daniela Tavares, de 24 anos, continua à procura do pai, funcionário da Vale, que está desaparecido. Ela foi uma das que cantou durante o ato que emocionou todos que estavam presentes. “O último mês foi muito difícil, nós nunca esperamos. Trabalhava lá há 38 anos, no administrativo. Saiu de casa para nunca mais voltar”, contou a jovem. Ela, que canta há anos, postou em seu Instagram um vídeo em homenagem. Depois disso, foi convidada para participar. “Nós temos força e tenho certeza que meu pai gostaria que eu estivesse aqui cantando hoje”, completou.
Além da participação da Daniela, representantes de diferentes religiões se uniram para convocar um minuto de silêncio.
O momento foi de muito emoção para todos os ali presentes. “Nossos filhos eles não vão trazer mais. Mas, eu quero justiça. Ela morreu por irresponsabilidade da Vale”, disse Patricia Anísio que perdeu a filha de 28 anos. Letícia Mara, era enfermeira da Vale e deixou marido é um filho de 1 ano e meio. “Foi aniversário dela ontem. Era para estarmos em festa. E o que nós temos para comemorar?”, questionou. Ele contou que a criança chama pela mãe todos os dias: “Ele ainda mamava no peito. Ele nunca mais terá a filha de volta”, contou chorando.
Wilson Francisco Caetano, de 64, sai de sua casa em Pará de Minas, na Região Centro-Oeste, todos os dias para ir até o Córrego do Feijão para buscar por notícias de seu filho. Ele trabalhava em uma empresa que prestava serviços pela Vale e está desaparecido desde o dia 25. “Eu não queria homenagear sua morte. Eu gostaria de homenagear a alegria dele. Eu gostaria de ter ele em casa, após o trabalho, para abraça-lo”, disse. “Eu só quero que devolvam o corpo do meu filho. Ele é meu filho e não deles. Vou continuar na luta até o fim. Não vou dar sossego para eles”, acrescentou.
Programação das homenagens
6h – Missa de encerramento da vigília, iniciada na sexta-feira, e bênção do Santíssimo Sacramento
11h30 – Concentração no Estacionamento Central (próximo da ponte)
12h – Chegada a Brumadinho do Núncio Apostólico (embaixador do Vaticano no Brasil), dom
Giovanni d'Aniello, que visitará famílias
12h10 – Caminhada até a ponte sobre o Rio Paraopeba
12h25 – Homenagens aos bombeiros (militares e civis), Polícias Militar e Civil
12h27 – Momento de oração ecumênica, apresentação artística e chuva de pétalas
12h30 – Apresentação de música composta pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de BH, com Vicente Ferreira, em homenagem a Brumadinho
12h30 – No Parque das Cachoeiras, haverá uma manifestação de mulheres (viúvas e mães que perderam filhos). Depois, moradores vão seguir para o Letreiro (rotatória onde está escrito o nome Brumadinho e que se tornou um ponto de orações). A expectativa é de que um grupo venha para a Praça Sete, em BH
18h – Bênção da pedra fundamental do Memorial das Vítimas, no Centro de Líderes
19h30 – Missa presidida pelo Núncio Apostólico (embaixador do Vaticano no Brasil), dom Giovanni d'Aniello, na Matriz de São Sebastião