Jornal Estado de Minas

Moradores da Rua Ramalhete, eternizada por Tavito e Azambuja, relembram histórias

Edelweiss Santos relembra as 'molecagens' dos filhos e de Tavito - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press


Da antiga rua de terra, cercada de casas que abrigavam muitas crianças brincando de bola, bicicleta, roda e queimada, entre ramalhetes, restou a saudade gravada nas letras da música de autoria de Tavito e Azambuja e imortalizada pelo Clube da Esquina. Sobraram três ou quatro residências com moradores de gerações mais recentes. Os prédios tomaram conta de todos os espaços e substituíram os velhos casarões. Em um deles, na esquina da Ramalhete com Caracol, uma placa fixada em 2005 reproduz os versos carinhosos dedicados aos compositores, um presente de antigos companheiros.


Com um sorriso largo e um provérbio chinês (se puder sentar, nunca fique de pé. Se puder deitar, nunca fique sentado) atestando sua hospitalidade, Edelweiss Paiva Santos, de 86 anos, jornalista, professora de inglês e português, geógrafa, historiadora e assistente social, abre sua casa para contar sobre as “molecagens” promovidas pela “turminha” da qual faziam parte seus seis filhos e muitas outras crianças da vizinhança, inclusive Tavito. “Eles faziam todas as estripulias da época de criança, a rua não tinha calçamento e todos brincavam sem qualquer resguardo. Não passava carro e eles jogavam pedrinhas nas vidraças para chamar a atenção dos adultos”, recorda.

Apesar do intenso movimento de veículos, a via mantém as árvores - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press

Em tempos de festas, como Natal e ano-novo, a rua era uma só família se revezando nos diversos imóveis, conta Edelweiss, que faz questão de frisar a origem de seu nome, flor dos alpes, “que combina com a rua Ramalhete, somos todos flores”, brinca.

Bem no início da rua está a Casa Ramalhete, uma iniciativa do arquiteto Carlos Noronha, que manteve as características arquitetônicas da década de 1950, quando foi construída, e abriga hoje espaço de arte compartilhada. A design Suka Braga, que ocupa espaços da casa, disse que não conheceu Tavito, mas sabe de sua história e gosta muito da música que tornou a rua tão conhecida.
O imóvel abriga ateliê de design, estúdio de beleza feminina e coleções de obras de arte e antiguidades. Suka conta que soube que a rua já abrigou gente com “certa influência nas artes e na política”, como o ex-prefeito de Belo Horizonte Rui Lage.

MUITAS HISTÓRIAS
A professora aposentada Cristiane Penna conta que se mudou para a rua há 37 anos, quando se casou com Marcus Penna, já falecido. Seu marido participava da turma que se reunia todo fim de tarde para as brincadeiras da época. “Sou dos tempos do Clube da Esquina, mas não conheci o Tavito, que era amigo de meu marido. Ele contava muitas histórias, inclusive de uma garota que tinha como apelido “Musa”. Não sei se foi quem inspirou a música”, revela.



Como Cristiane, o porteiro do Edifício Ramalhente, Raul Calixto, se lembra de “umas filmagens que fizeram aqui com o Tavito há mais de 10 anos. Acho que foi na votação do símbolo de Belo Horizonte.
Ele foi trazido com vários colegas de sua época e filmaram em vários pontos da rua”, conta Calixto. Porteiro há 21 anos, ele diz que o prédio abriga alguns dos antigos moradores dos casarões.

Enquanto o fotógrafo Gladyston Rodrigues procurava o melhor ângulo para o registro fotográfico na Rua Ramalhete com Caracol, uma senhora passou de carro e gritou: “O Tavito está eternizado em nossos corações!”.

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