Moradores de Macacos, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que foram levados para hotéis da capital depois da evacuação preventiva no distrito receberam ordem, nesta sexta-feira, para voltarem para casa e outros para mudarem de estabelecimento. A convocação foi feita de última hora e gerou transtorno e desconfiança a muitas famílias temerosos do retorno, uma vez que a área continua com risco de alerta 2. Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) foi acionado e impediu a retirada das pessoas.
A evacuação ocorreu no último dia 16 à noite. Anteontem, as coordenadorias de Defesa Civil de Minas Gerais e da cidade de Nova Lima autorizaram as pessoas que moram fora das Zonas de Autossalvamento (ZAS) a retornar para suas casas. A medida deveria abranger nove famílias e 24 pessoas que moram no Condomínio Solar da Lagoa, em Nova Lima. O local é considerado pelas coordenadorias como área fora de risco.
A decisão tomada pela Vale inclui pessoas dessa zona e também gente que está com imóveis interditados. Já quem mora em áreas interditadas foram transferidas de hotéis na Região Centro-Sul para um estabelecimento na Pampulha. Os atingidos de Macacos denunciam terem sido avisados sobre o check-out nesta sexta, pouco tempo antes do horário máximo de saída do hotel, às 12h. Houve hotéis onde os abrigados foram surpreendidos com saída ainda na noite de quinta-feira.
Ao todo, 71 pessoas foram evacuadas, sendo que 43 ficaram abrigadas em hotéis e 28 em casas de parentes. De acordo com o órgão, a área onde estão as residências das pessoas autorizadas não seria afetada pelos rejeitos em caso de rompimento de qualquer uma das duas barragens. O laudo é de responsabilidade da Vale, proprietária das duas barragens.
Questionada pelo Estado de Minas sobre o motivo pela evacuação dessas pessoas, a Defesa Civil informou na quarta-feira que, no momento em que as sirenes de emergência das barragens tocam, não há como saber quais áreas seriam afetadas pela lama liberada. Após um estudo mais detalhado, segundo o órgão, verificou-se quais regiões seriam consideradas de autossalvamento – área que seria destruída em caso de rompimento.
Num hotel na Rua Antônio de Albuquerque, na Savassi, os moradores de Macacos acordaram sem luz e sem internet. Na cozinha, foram informados de que não poderiam mais receber as refeições. Houve quartos em que o frigobar foi esvaziado. O músico Leonardo Luiz Avelar, de 37 anos, está com a mulher, a dona de casa Camila Marques Trindade de Oliveira, de 31, e os filhos Isaac, de 10, e Natan, de 7. Nem água eles tiveram para passar o dia. Leonardo questiona a decisão. A casa dele foi vistoriada, no último dia 21, pela Defesa Civil e pela Vale, e recebeu uma placa de interdição. O acesso ao imóvel também está bloqueado. A única possibilidade é uma via com pare e siga que funciona até as 20h.
A carta com autorização de retorno foi entregue às 11h30, para o check-out às 12h. Ele chamou a Polícia Militar nesta sexta para registrar boletim de ocorrência e se recusou a deixar o hotel. Ele também ligou para o Ministério Público para fazer denúncia. “Como posso voltar? O rio passa a 100 metros de minha casa e da varanda eu vejo a barragem. A linha da zona de perigo passa no meu terreno. No dia que meu imóvel foi interditado, o representante da Defesa Civil me disse que, se fosse ele, não voltaria mais”, contou.
A Vale ainda não informou sobre os motivos da transferência, sobre quantos moradores do distrito foram para outros hotéis e quantos voltaram para suas casas. Por meio de sua assessoria, o MPMG informou, sem dar mais detalhes, que em reunião com a empresa ficou definido que as pessoas ficarão onde estão.