A festa vai de um lado a outro e na cidade inteira. Tem bloco que segue adiante, outros concentram, mas não saem. E tem palcos. Para agradar a quem quer curtir show, em área reservada, com amigos ou em família. Eles não fogem à regra do carnaval de Belo Horizonte: são na rua e de graça. Serão montados em oito pontos da capital mineira, levando a folia também para fora do Centro, e valorizando o trabalho de artistas locais. Com expectativa de levar às ruas 4,8 milhões de pessoas, essa é mais uma opção, reestruturada para acompanhar a evolução crescente do reinado de Momo em BH. E se a diversão é popular e para todos, os pequenos não podem ficar de fora.
Se a descentralização impera em BH, moradores e visitantes têm um destino certo, antes de cair na farra nos blocos: Savassi, na Região Centro-Sul. Bares, restaurantes, lojas e muito charme garantem o aquecimento e também horas de curtição. Três amigas de Recife (PE) trocaram o bolo de rolo pelo pão de queijo, o “oxe” pelo uai e o Galo da Madrugada pela farra em BH. Sem remorso nem nada – só com muita animação –, Simone Estima, engenheira civil, Juliana Leite, contadora, e Maria Eduarda Kovack, fisioterapeuta, deixaram, pela primeira vez, o carnaval da terra natal para sair “em todos os blocos” da capital mineira.
Para começar, Simone, Juliana e Maria Eduarda posaram para fotos e fizeram selfies num lugar muito especial: o letreiro vermelho com a frase-tema Carnaval de BH é de todo mundo, localizado na Rua Antônio de Albuquerque entre as avenidas Getúlio Vargas e Cristóvão Colombo. “Ouvimos falar muito da folia daqui, e resolvemos conhecê-la.
PIQUE TOTAL
No mesmo pique, Maria Eduarda se declarou “alucinada” com os agitos do reino de Momo. “Adoro, sou louca por carnaval, mas como em Recife tem folia o mês de janeiro inteiro, decidimos conhecer outra cidade, e compramos as passagens e reservamos hotel com bastante antecedência”, acrescentou a fisioterapeuta. Hospedadas no Centro de BH, o trio adiantou que, na terça-feira, vai conhecer Ouro Preto.
Uma turma de estudantes de Uberlândia, na Região do Triângulo, também resolveu conhecer o carnaval de BH, que ganhou fama como um dos mais animados do país. Na tarde de ontem, Gustavo Marques, de 23 anos, e Fernando Dornelas, ambos alunos de engenharia química, e Hugo Vieira, de 21, engenharia ambiental, curtiram a tarde com outros amigos. Vestido de diabinho, com chifre e tridente, Hugo mostrou que não está para brincadeira, enquanto Fernando, por enquanto, está explorando território. Com um chapelão de palha, Gustavo guarda as surpresas das fantasias para os bloquinhos.
Segundo os comerciantes, as vendas melhoraram muito nos últimos dias. Funcionária de uma loja na Rua Paraíba com Antônio de Albuquerque, Tamires Andréa Rodrigues se mostrou satisfeita com o movimento, principalmente com a comercialização de acessórios carnavalescos. “Cresceu 100%”, afirmou.
PALCOS DE MOMO
Os palcos do carnaval de BH ficam no Hipercentro (Praça da Estação e Parque Municipal) e em seis regionais: Centro-Sul, Leste, Norte/Nordeste, Barreiro, Venda Nova e Noroeste/ Pampulha. Os eventos estão com novo horário, das 16h às 23h. Terão o mesmo tempo de duração de anos anteriores, mas vão começar e terminar mais cedo. Antes, finalizavam à 1h. O diretor de eventos da Belotur, Gilberto Castro, explica que o período de festa foi revisto em razão de diversos pontos, entre eles segurança e o incômodo de vizinhos com o barulho.
A Praça da Estação, o maior dos palcos, com público variando entre 15 mil a 20 mil pessoas por dia, vai receber pelo terceiro ano o kandandu, desta vez durante dois adias – o encontro de blocos afros que marcou a abertura da festa de Momo ontem vai se estender pelo sábado. A parceria da Prefeitura de BH (PBH) com a Associação dos Blocos Afro de Minas Gerais (Abafro-MG) vai levar 12 grupos. “A ideia é dar ainda mais visibilidade a esses blocos. Tentamos também trabalhar questões como inclusão e igualdade racial”, diz o diretor.
Outra novidade é a ampliação da programação da PBH para o público infantil, que contará este ano com atrações durante todos os dias da folia. O carnavalzinho, antes restrito aos palcos do Parque Municipal e da Savassi, agora será feito também na Avenida Brasil, próximo ao quartel da Polícia Militar, no Bairro Santa Efigênia.
Os palcos das outras regionais receberão um dia de shows cada (confira quadro na página 14). O do Barreiro estará localizado na Avenida Deputado Álvaro Antônio, entre avenidas Olímpio Meireles e Dois, no Bairro Industrial. O de Venda Nova, na Avenida Érico Veríssimo, entre a Rua dos Crenaques e a Rua Xavante, no Bairro Santa Mônica. Na Via 240, limite das regiões Norte e Nordeste, a estrutura será montada na Avenida Risoleta Neves, entre a Avenida Novecentos e Vinte e Nove e a Rua Raimunda Ferreira Rocha, no Bairro Aarão Reis. Falta definir o ponto da festa que vai abranger as regionais Noroeste e Pampulha.
Gilberto Castro avisa que nenhum dos palcos está preparado para receber menos de 5 mil pessoas. A estrutura acompanha o tamanho da festa. “Sonorização, iluminação, segurança privada e do poder público, ambulância e tudo o que é necessário para um grande evento.
18 blocos na sexta
Mesmo embaixo de chuva, milhares de pessoas seguiram os 18 blocos que saíram na noite de ontem em Belo Horizonte, entre eles o Tchanzinho Zona Norte, no Bairro Dona Clara, e WS Elétrico, na Avenida Brasil, próximo à Praça da Liberdade, um dos cartões-postais da capital mineira. E os sotaques se misturaram na folia. O som envolvente do trio do WS Elétrico, que tem acoplado um telão, chamou a atenção das amigas argentinas Daiana Rodrigues Luciana Franco e a americana Shannon Ong. “Carnaval em BH foge do estereótipo que as pessoas de fora têm da festa. Acham que é só mulheres com corpos pelados e dançando. Estou gostando muito”, disse Daiana.
Já no fim da noite, o tradicional colorido do carnaval deu lugar às cores preta e branca na Praça da Bandeira, na Região Centro-Sul. Em vez das fantasias de unicórnio, sereias e heróis, monstros e zumbis foram a inspiração dos foliões que acompanharam o Bloco Fúnebre. O lema da agremiação é um só: sepultar as tristezas e ressuscitar as alegrias. E foi exatamente assim que o grupo desfilou até a Praça Milton Campos. O bloco nasceu há seis anos tendo como inspiração o Dia dos Mortos, celebrado com festa no México.“Este lema nunca foi tão representativo como neste ano, em que tivemos muita tristeza. Então, vamos esquecer os problemas para viver o carnaval”, disse a cantora Flávia Ribeiro, de 34 anos, uma das organizadoras.
Elias Peixoto, de 39, Luiz Gustavo Pimenta, de 37, e Ana Carolina, de 35, chegaram cedo já que moram próximo ao local. Carol, como é chamada pelos colegas, fez as pinturas nos rostos. “Olhei na Internet e desenhei”, conta. Com eles, estavam ainda Leo Mentex e Rubem Figueiredo. “ Até deixei de viajar para ficar aqui e aproveitar”, contou Elias. (Com Déborah Lima*)
*Estagiária sob a supervisão da subeditora Regina Werneck
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